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Hackers entram em guerra pré-eleitoral na Rússia

15 de fevereiro de 2012

A poucas semanas das eleições presidenciais, hackers travam uma guerra cibernética na Rússia. Aliados do governo bloquearam sites de jornais críticos ao Kremlin. O grupo Anonymous interveio em defesa de oposicionistas.

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Foto: picture-alliance/dpa

Hackers que se identificam como a facção russa do grupo internacional Anonymous invadiram há alguns dias as caixas de e-mails de membros do grupo jovem Naschi (Os nossos), leal ao partido do governo na Rússia. De acordo com o conteúdo dos e-mails, publicados na internet, o grupo estaria por trás de maçico ataque cibernético ao jornal oposicionista Kommersant, em março de 2008.

O diário de Moscou considera este o "maior escândalo político dos últimos 12 anos". A editora do Kommersant pediu que o Ministério do Interior russo investigue as informações bombásticas. As evidências seriam suficientes para dar início a uma ação penal na Justiça, escreveu Damian Kudriavtsev, diretor-geral da editora, em seu blog. O grupo Naschi nega todas as acusações e ameaça o Kommersant com um processo por difamação.

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Vladimir Putin tem apoio da juventude do NaschiFoto: AP

A organização jovem é financiada com dinheiro público e há anos apoia Vladimir Putin. O primeiro-ministro russo é cotado como favorito nas eleições presidenciais russas, marcadas para o dia 4 de março.

Campo de batalha digital

O escândalo dos hackers não é apenas uma sombra sobre Putin. Ele também deixa claro o quanto a internet tornou-se importante para a política na Rússia. Os meios de comunicação falam de uma "guerra cibernética" entre hackers apoiadores e opositores do governo.

Não passa uma semana sem que haja algum ataque virtual. Nos dias 8 e 9 de fevereiro o grupo Anonymous bloqueou sites do partido governista Rússia Unida. Antes disso, sites de vários partidos oposicionistas haviam sido atacados. A internet é cada vez mais usada para fazer campanha contra opositores. Telefones privados são grampeados e conversas são publicadas na internet. Uma das vítimas mais recentes foi o ex-vice-premiê Boris Nemtsov.

Até agora os distúrbios mais sérios na internet russa foram registrados no dia das eleições parlamentares, em 4 de dezembro de 2011. Websites de vários veículos de comunicação críticos ao governo, entre eles o jornal Kommersant, além de uma organização independente de observação eleitoral, ficaram fora do ar por várias horas.

Oppositionspolitiker Boris Nemtsov Nemzow
Boris Nemtsov teve telefone grampeadoFoto: picture-alliance/dpa

Na opinião do editor-chefe da influente rádio Echo Moskvy, Alexei Venediktov, os ataques cibernéticos colocaram em xeque a legitimidade das eleições parlamentares. "Nossa emissora foi impedida de reportar violações eleitorais", diz ele.

Levar os responsáveis pelos ataques cibernéticos à Justiça não é tarefa fácil, dizem as autoridades russas. Segundo conhecedores do assunto, os hackers são tecnicamente muito superiores à polícia.

Na maioria dos casos, trata-se de ataques DDoS. A sigla significa "Destributed Denial of Service", processo em que vários computadores enviam milhares de requisições a um servidor a ponto de sobrecarregá-lo. Especialistas dizem que esse não é um empreendimento barato. Os ataques DDoS ao jornal Kommersant teriam custado o equivalente a dezenas de milhares de euros.

"Vitória moral para o Anonymous"

Os e-mails hackeados de alguns ativistas do grupo Naschi levantam também uma questão moral, escreveu o jornal Kommersant. O fato de hackers publicarem e-mails pessoais de oposicionistas é condenável, pois "correspondência de outras pessoas não devem ser lidas". Mas nesse caso as vítimas dos ataques cibernéticos seriam "funcionários de uma organização governamental obscura de reputação duvidosa". É permitido usar e-mails obtidos de forma ilegal como prova e assim legitimar os métodos ilícitos de hackers? Para isso o Kommersant não ofereceu nenhuma resposta clara.

Nowosibirskter Künstler Artjom Loskutow vor Gericht
Blogueiro da DW em russo, Artiom LoskutovFoto: Picture-Alliance/dpa

Muitos russos liberais têm o mesmo ponto de vista, como por exemplo Artiom Loskutov, que escreve um blog para a redação russa da Deutsche Welle: "Por um lado trata-se da vida privada de opositores, por outro, é um caso de relevância social". A vitória moral no caso dos e-mails interceptados do grupo Naschi fica do lado do grupo de hackers Anonymous, que já anunciou novos ataques.

Autor: Roman Goncharenko (ff)
Revisão: Carlos Albuquerque