Hamburgo: música sacra às margens do Elba
25 de abril de 2005Hoje, Hamburgo conta com uma ópera de renome internacional, três orquestras sinfônicas, cenas respeitosas de música sacra e de espetáculos musicais, além de uma universidade de Música, um conservatório e uma escola de música para jovens. Isso sem mencionar as inúmeras instituições privadas. Mas a história da música nessa cidade portuária ao norte da Alemanha já deu muitas voltas.
Metrópole musical do norte
A história de Hamburgo como metrópole musical do norte teve início com a Reforma, ou seja, no começo do século 16. Antes, a vizinha Lübeck, situada a apenas 60 quilômetros de distância, era mais significativa. Isso se devia ao fato de as rotas comerciais da Liga Hanseática, da qual Hamburgo passou a fazer parte em 1358, se orientarem todas em direção ao Leste.
Lübeck ficava mais próxima do litoral, do Mar Báltico, que também banhava a Rússia e os países bálticos. Hamburgo – cujo nome é originário do castelo Hammaburg, construído no ano 825 por Luís, o Piedoso – começou a ganhar importância só após o descobrimento da América em 1492. Já naquela época, o fundo do Elba fora aprofundado para que os navios pudessem partir em direção ao Oeste através do Mar do Norte.
Como em todas as cidades hanseáticas, a cultura em geral e a música em especial eram um importante objeto de representação dos ricos comerciantes. O documento musical mais antigo de que se tem conhecimento é um missal do século 11, utilizado em uma liturgia na catedral da cidade. Infelizmente, diversos documentos foram destruídos durante o grande incêndio de 1842.
Cidade dos órgãos
No século 17, Hamburgo tornou-se, ao lado de Lübeck, um importante centro da música para órgão, reunindo grandes organistas como Jacob e Hieronymus Praetorius, Heinrich Scheidemann e Jan Adam Reinken. Alguns deles haviam estudado com grandes mestres de Amsterdã aos custos da igreja local.
Também a construção de instrumentos se desenvolveu neste período, com mestres como Arp Schnitger, cujo maior órgão está instalado na igreja de São Jacobi. "Os órgãos das cidades hanseáticas são enormes pois eram objetos de representação. E a qualidade do som é incomparável, de forma que não construímos peças novas, mas tentamos conservar as antigas", conta Rudolf Kelber, atual organista da igreja.
Em 1660, o organista Mathias Weckmann criou um conjunto instrumental enorme para a época, com 50 músicos com os quais apresentava concertos semanais no refeitório da catedral e em outros salões seculares.
Ele pode ter sido um espinho no olho de boa parte da aristocracia intelectual, mas suas apresentações, nas quais tocava composições contemporâneas da Itália, de Viena ou de Dresden, estenderam-se por 14 anos e tornaram-se uma atração até para visitantes de fora. Eles não só marcaram o começo dos concertos públicos em Hamburgo, mas abriram caminho para a ópera.
Clímax com Telemann
Hamburgo viveu o clímax de sua história musical durante o período de atuação de Georg Philipp Telemann. "Ele é a figura central de Hamburgo durante o século 18", diz Gisela Jaacks, diretora do Museu da História de Hamburgo. Telemann marcou a vida musical de Hamburgo por 46 anos como diretor do coro da cidade – de outubro de 1721 a 25 de junho de 1767, dia de sua morte.
Mesmo filhos pródigos da cidade, como Johannes Brahms ou Felix Mendelssohn, não desfrutavam da influência que Telemann exercia sobre a vida musical de Hamburgo. O compositor, nascido em Magdeburg, era na época mais conhecido e mais apreciado que Johann Sebastian Bach e sua fama ia muito além das portas da cidade.
Porém, tempos difíceis vieram. A renomada Ópera do Gänsemarkt, a primeira ópera burguesa da Alemanha, teve de fechar as portas por motivos financeiros já 30 anos antes da morte de Telemann. Com sua morte em 1767, até mesmo a música sacra, que até então havia sido o símbolo da vida musical de Hamburgo, entrou em crise, apesar de a cidade ter encontrado um respeitável sucessor, Carl Philipp Emanuel Bach.