Poesia
20 de julho de 2007varridas as construções. varridas as partículas cintilantes.
suportes de dados, dependendo do tempo nada registram.
apagão (liasons). o que restou parecia insignificante.
ruidava de súbito, submergia – correntes escuras.
Nestes versos de "Ladungen" (Cargas), poema publicado no livro Dunkelströme (Correntes Escuras, 2006) –, Hendrik Jackson delineia o que o move como poeta: captar em estado bruto os impulsos da percepção e da memória, antes de submetê-los ao filtro da intelecção.
"Momentos de cristalização, dia adentro" – como diz um outro verso – são raros. Os poemas de Jackson parecem processar a informação na intermitência de rápidos impulsos luminosos – ora claro, ora escuro –, configurando assim imagens instáveis e mutantes.
Em um livro ensaístico recém-lançado, com reflexões sobre seu fazer poético, o autor esboça o código ótico subjacente a seus poemas:
"O que é que a gente pode dizer? Mas ver se pode, sim: algo, em recortes, no escuro, e, às vezes, como zarpam atrás de nós, fogos-fátuos. A percepção de mundo, o que o olho interno e externo permite entrar (réstias): cumpre revelar tudo isso numa 'faixa' (perfurada), que também não pode ser avistada sem mais, revelar isso em um negativo (poesia) a ser projetado, capaz de lançar imagens em telas alheias."
Em Im Innern der zerbrechenden Schale (No interior da Casca que se Rompe, 2007), o poeta compila reflexões sobre seu processo de criação, a especificidade da linguagem poética e a relevância do pastiche como campo de experimento para a poesia.
Hendrik Jackson, nascido em 1971, é poeta, tradutor e editor do site www.lyrikkritik.de.
Hendrik Jackson: Dunkelströme. Idstein, kookbooks, 2006. 80p.
Hendrik Jackson: Im Innern der zerbrechenden Schale. Idstein: kookbooks, 2007. 144p.