Hisbolá é mílicia e partido político ao mesmo tempo
19 de julho de 2006O Hisbolá (Partido de Deus) é um influente grupo xiita libanês que conta com um braço político e outro militar, armado, conhecido como a Resistência Islâmica. O movimento foi fundado em 1982, com o objetivo de expulsar as tropas israelenses que haviam invadido o sul do Líbano, o que só foi alcançado no ano 2000, graças, sobretudo, às ações de seu braço armado.
Desde então, a milícia regular que o grupo mantém no sul do país se tornou motivo de tensão entre os partidos nacionais libaneses. O impasse se estabeleceu porque alguns consideram que a Resistência Islâmica deveria ser incorporada às Forças Armadas libanesas, enquanto outros defendem a manutenção de seu status quo. A integração da milícia ao exército limitaria sua atuação às áreas política e social, menos noticiadas no mundo ocidental do que suas investidas militares.
Trabalho social: garantia de boa reputação
Liderado pelo xeque Hassan Nasrallah, o Hisbolá deixou de ser somente uma guerrilha antiisraelense, tendo se firmado como grupo político na sociedade e na vida política libanesa, dispondo, inclusive, de consistente representação parlamentar. Para os xiitas, que representam 35% da população do Líbano, o Hisbolá é um bastião político.
O movimento desfruta de boa reputação em virtude dos serviços sociais prestados à população. Seu principal trunfo é a criação de uma rede de hospitais, colégios, centros comunitários, organizações beneficentes e pontos de distribuição de alimentos com livre acesso para todos os libaneses, muçulmanos e cristãos. O Hisbolá também tem um canal de televisão influente, o Al-Manar.
Apesar da resolução da ONU, em 2004, que pedia o desarmamento das milícias e a retirada de todas as forças estrangeiras do Líbano, o Hisbolá se recusa a abrir mão da Resistência Islâmica.
Desavenças históricas com Israel
O Hisbolá foi concebido em 1982 por um grupo de clérigos muçulmanos depois da invasão israelense ao Líbano. Na época, a organização contava com o apoio de 2 mil homens – a maioria, da Guarda Revolucionária Iraniana – que haviam sido enviados ao Vale de Beeka para responder à investida de Israel.
O movimento tinha por meta transformar o Líbano num Estado nos moldes iranianos, mas a idéia foi abandonada anos mais tarde. Entretanto, ainda hoje, o partido defende a destruição de Israel. O grupo recebe apoio financeiro e político do Irã e seus ideais se orientam pelos escritos do revolucionário iraniano Khomeini. A Resistência Islâmica continua ativa na tríplice fronteira com a Síria, especialmente perto da região de Sheeba, nas Colinas de Gola.
Desde 1967, Israel ocupa o lado sírio das colinas, o que, na versão israelense e das Nações Unidas, incluiria a área de Sheeba. Contando com apoio doméstico, o Hisbolá afirma que a região de Sheeba é uma área libanesa sob ocupação estrangeira. A visão de Israel como um inimigo comum, tradicionalmente, levou o Hisbolá a defender interesses sírios contra o Estado judeu. O governo de Damasco sempre foi um dos pilares de apoio do partido libanês.
Desrespeito ao cessar-fogo
Os olhares do mundo se voltaram ao grupo em 23 de outubro de 1983, quando 241 marines americanos e 53 pára-quedistas franceses foram mortos em Beirute. Em 1996, após operação israelense contra alvos da organização libanesa, o Hisbolá e Israel assumiram o compromisso de salvaguardar os civis de ambos os lados, estabelecendo uma chamada "zona de segurança".
Depois de firmado o compromisso, foi concebido um Comitê de Vigilância da Trégua, integrado pela Síria, pelos Estados Unidos e pela França, cujo objetivo era garantir o cessar-fogo acordado na região. Mesmo assim, o acordo foi violado por ambas as partes inúmeras vezes.
Em 14 de fevereiro de 2000, o Hisbolá estabeleceu uma aliança promovida pelo Irã com duas organizações fundamentalistas muçulmanas palestinas: o Hamas e a Jihad Islâmica.
Sólida representação política
Como partido, o Hisbolá mantém uma significativa representação no Parlamento libanês. O grupo obteve oito cadeiras nas eleições legislativas de 1992 e sete nas de 1996. Em junho de 1998, o Líbano realizou as primeiras eleições municipais em 35 anos, e o movimento consolidou seu domínio no Leste e no Sul do país. Nas eleições legislativas de 2000, reafirmou sua presença nacional com a obtenção de 12 cadeiras.
Nas últimas eleições legislativas, realizadas em junho de 2005, o grupo radical xiita obteve 14 cadeiras. O ministro dos Recursos Hidrelétricos do Líbano, Mohammad Fneich, pertence ao Hisbolá.