Historiadores apresentam relatório sobre massacres nazistas na Itália
21 de dezembro de 2012O relatório final da comissão de historiadores italianos e alemães sobre os massacres da Wehrmacht e da SS (organização policial-militar do partido nazista) na Itália, apresentado nesta quarta-feira (19/12) em Roma, abriu velhas feridas. Documentados estão 5 mil casos de saques, estupros e assassinatos pelas tropas nazistas durante a Segunda Guerra Mundial.
O italiano Elide Ruggeri, que sobreviveu milagrosamente a um massacre da SS em 29 de setembro de 1944 em Marzabotto, nas montanhas ao sul de Bologna, recorda: "Eu estava lá e veio um da SS, que matou uma menina. Ela estava com a cabeça esmagada e gemia. Ele deu um golpe nela e eu pensei: o próximo vai ser para mim. Ele me fixou com o olhar, e aí disse: 'Niente kaputt'. Assim, ele deu a entender que não ia me matar".
De aliados a inimigos
O massacre de Marzabotto tem uma história prévia, que teve início em 8 de setembro de 1943. Quando a Itália anulou a aliança com a Alemanha nazista, os antigos aliados se tornaram inimigos. De um dia para o outro, as tropas alemãs no país se tornaram forças de ocupação e deixaram um rastro de destruição durante sua retirada em direção ao norte. O número de unidades era reduzido, mas a crueldade por elas praticada não teve limites, narra Wolfgang Schieder, professor de história contemporânea e vice-presidente da comissão de historiadores ítalo-alemães.
Durante três anos e meio, a serviço de Roma e Berlim, os historiadores pesquisaram a sangrenta história dos últimos anos da Segunda Guerra Mundial na Itália. Para tal, basearam-se nas vivências das pessoas afetadas, tanto das vítimas como dos criminosos, enfatiza Schieder. O foco da comissão não era a Wehrmacht (Forças Armadas nazistas), a população civil ou a Resistência, mas sim quem fez o quê, onde e quando.
Dessa perspectiva sobre a história ítalo-alemã resulta uma imagem diferente, que refuta mitos nacionais amplamente divulgados na Itália. Por exemplo: que desde 1943 a nação estaria unida na "Resistenza", a resistência contra Hitler. Em suas missões, as tropas alemãs foram repetidamente apoiadas por fascistas italianos e simpatizantes de Mussolini. Essa nova visão sobre os fatos também era um objetivo do trabalho da comissão de historiadores. "O problema da colaboração deve ser pesquisado mais intensamente. Aí se revelam aspectos bem diversos dos de uma perspectiva apenas a partir da resistência", diz Schieder.
A comissão de historiadores foi criada após o Supremo Tribunal da Itália haver condenado a Alemanha, em 2008, a pagar uma indenização, ameaçando, para tal, confiscar propriedades do governo alemão na Itália. Do ponto de vista jurídico, o caso já está esclarecido: a Corte Internacional de Justiça de Haia indeferiu as exigências em relação à Alemanha, argumentando que um Estado não pode responsabilizar outro. Para as vítimas e suas famílias, porém, o veredicto é decepcionante.
O sofrimento dos sobreviventes
Calcula-se que, somente no massacre de Marzabotto, 1.830 pessoas foram mortas, quase todas civis, incluindo idosos, mulheres e crianças. Gianluca Lucarini, cujos avós morreram no massacre, é presidente da Associação de Vítimas de Marzabotto. Ele descreve as sequelas que os descendentes das vítimas sofrem até hoje. "Essa é a minha herança, uma parte muito difícil da minha vida. Pois o meu pai perdeu os pais dele aos 18 anos, e é claro que ele também transferiu essa dor para a família que fundou."
Lucarini relata que seu pai não teve uma vida fácil, porque naquele tempo não havia ninguém que pudesse ajudá-lo a levar a vida para frente e entender o que exatamente havia acontecido.
Saber exatamente o que aconteceu – esse é o objetivo do relatório da comissão de historiadores. Para o pai de Lucarini e para a grande maioria das vítimas, no entanto, um relatório que chega tarde demais.
Autor: Tilman Kleinjung (ca)
Revisão: Augusto Valente