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Holanda vai às urnas sob o signo do populismo

Barbara Wesel as
13 de março de 2017

Primeiro-ministro Mark Rutte e populista Geert Wilders lideram as pesquisas. Resultado final pode ser influenciado pela troca de farpas com líderes turcos às vésperas das eleições parlamentares.

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Mark Rutte faz campanha eleitoral em Breda
"Não nos deixamos chantagear", disse Rutte, falando do imbróglio com a TurquiaFoto: picture alliance/AP Photo/P. Dejong

O imbróglio com a Turquia pode acabar sendo vantajoso para o primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, já que deu a ele a oportunidade de se apresentar, às vésperas das eleições parlamentares desta quarta-feira (15/03), como um chefe de governo de pulso firme. "Traçamos uma linha vermelha", afirmou, referindo-se à proibição de dois ministros turcos de fazerem comícios na Holanda.

Rutte também argumentou que 400 mil cidadãos de ascendência turca que vivem no país são "holandeses e não turcos", como o governo em Ancara gosta de destacar. Ele também disse que está tentando acalmar os ânimos e que falou oito vezes ao telefone com o primeiro-ministro da Turquia, Binali Yildirim.

Um ponto Rutte fez questão de ressaltar: "Não nos deixamos chantagear". Na prática, o primeiro-ministro teve a oportunidade de deixar claro quem manda no país, e isso pode dar um novo impulso ao seu partido, o liberal Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VVD). Segundo as pesquisas mais recentes, ele lidera com 16% e teria a maior bancada num Parlamento fragmentado.

Mas Rutte somou pontos mesmo antes do conflito verbal com a Turquia: ele tirou a Holanda da crise econômica. A economia cresce num ritmo de cerca de 2%, e o desemprego gira em torno dos 5%. Ainda assim, o primeiro-ministro é impopular entre muitos holandeses, o que diminui as suas chances de vitória. O principal motivo para a imagem ruim de Rutte são promessas não cumpridas. Ele prometera benefícios sociais que nunca saíram do papel, e a situação ficou ainda pior quando Rutte o premiê por cortes para sanear o orçamento.

Além disso, os holandeses não sabem o que pensar de Rutte, que é solteiro e não deixa transparecer nada de sua vida privada. Num país de espaços apertados, onde vizinhos convivem porta a porta, isso não é bem visto.

Geert Wilders fala com a imprensa
Sempre cercado por guarda-costas, Wilders falou pouco com a imprensa durante a campanhaFoto: Reuters/M. Kooren

Geert Wilders, fenômeno midiático

O principal adversário de Rutte, o populista de direita Geert Wilders, pode ter se dado mal com sua estratégia de campanha. No fim do mês passado, ele começou a cair nas pesquisas eleitorais. No momento, ele e seu Partido para a Liberdade (PVV) estão três pontos atrás do primeiro-ministro. À parte uma curta exibição pública em fevereiro, quando deu algumas declarações à imprensa e logo sumiu, acompanhado de seus guarda-costas, para dentro de um carro, Wilders fez campanha apenas pelo Twitter.

Nos últimos dias de campanha, porém, ele mudou radicalmente de estratégia. Ele apareceu mais em público e decidiu participar de um debate eleitoral contra Rutte na noite desta segunda-feira. Wilders foi também um dos primeiros a tirar proveito do imbróglio com a Turquia. Só que Rutte, como primeiro-ministro, levou vantagem, já que não precisa se limitar a xingar e pode também fazer algo.

Sucesso mesmo Wilders faz entre a imprensa internacional. Centenas de matérias foram escritas sobre ele, seu passado obscuro, suas fontes financeiras duvidosas, sua crescente radicalização e seu cabelo louro penteado para trás. Guardian, Le Monde, Wall Street Journal: todos o apresentaram como o inimigo da União Europeia, o iniciador de um possível "Nexit" (em alusão ao Brexit) e o propulsor do populismo de direita na Europa.

Porém, segundo as pesquisas mais recentes, 87% dos holandeses são contra Wilders. Isso impede tanto uma tomada de poder na Holanda como um movimento de massa contra a União Europeia. Wilders é, sobretudo, um fenômeno midiático.

Governo com quatro partidos

As sondagens eleitorais indicam que seis partidos podem contar com mais de 10% dos votos. A formação de uma coalizão de governo necessita de pelo menos quatro. Um dos partidos é descartado desde o início, já que ninguém quer formar uma aliança com Wilders. Esse cenário indica que as negociações deverão ser demoradas, o que é tradição na Holanda. A opção mais provável inclui os cristão-democratas, os socialistas, os verdes e o partido centrista D66.

Os verdes, liderados por Jesse Klaver, são o partido que mais cresceu na atual campanha, passando de 3% para 11% das intenções de voto. Fisicamente, Klaver lembra muito o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau. Ele tem ascendência marroquina e indonésia e é considerado um prodígio político.

A mensagem de esperança e convivência pacífica de Klaver alcança sobretudo os eleitores jovens – mais um ponto em comum com Trudeau. Seu comício numa casa de espetáculos de Amsterdã reuniu 5 mil pessoas e foi o maior da história da Holanda. Klaver é o oposto de Wilders, defendendo um país tolerante e pró-Europa.