1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Holandeses freiam populismo de direita

16 de março de 2017

Eurocético Geert Wilders tem resultado muito aquém do esperado, e legenda do premiê Mark Rutte se mantém como principal força no Parlamento. Eleição era vista como termômetro do sentimento nacionalista na Europa.

https://p.dw.com/p/2ZH6U
Mark Rutte à esquerda, com perfil de Geert Wilders desfocado à direita, em debate em Haia
Premiê Mark Rutte (esq.) mantém o cargo e ficou bem à frente do populista Wilders (dir.)Foto: picture-alliance/AP Photo/P. Nijhuis

O comparecimento às urnas na Holanda foi tão alto nesta quarta-feira (15/03) que algumas seções eleitorais tiveram de permanecer abertas após as 21h, horário previsto para o encerramento da votação. Cerca de 78% dos 13 milhões de holandeses aptos a votar decidiram participar de uma eleição parlamentar considerada histórica.

Um dos eleitores de última hora foi Bob Gros, em Haia. "Eu vim correndo porque achei que era a minha obrigação", disse. Gros votou no liberal Partido Popular para a Liberdade e Democracia (VVD), do atual primeiro-ministro Mark Rutte, e se disse aliviado que, apesar de perdas, o chefe de governo pode continuar no cargo. O PVV alcançou 21,3% dos votos e deve somar 33 assentos no Parlamento, oito a menos do que tinha, mas permanece a principal força política do país.

Infografik Prognose Parlamentswahlen Niederlande 2017 portugiesisch

Menos motivos para festejar tem o populista de direita Geert Wilders. Apesar de ter conquistado cinco assentos a mais do que na última legislatura (20 no total), seu partido PVV ficou muito aquém das expectativas, com apenas 13,1% dos votos.

Wilders não se pronunciou após o mau resultado, apenas escreveu no Twitter: "Vocês ainda não viram tudo". Mais tarde, disse a repórteres: "Não alcancei minha meta na eleição, mas vencemos mesmo assim porque temos mais assentos do que antes".

O partido cristão-democrata CDA, de centro, e o liberal de esquerda D66 conseguiram ampliar consideravelmente sua presença no Parlamento, alcançando 12,4% e 12,1%, respectivamente. E a Esquerda Verde (GL) – cujo líder Jesse Klaver foi comparado ao premiê canadense, Justin Trudeau –, chegou a quadruplicar seus assentos, somando 9%.

O perdedor mais claro foi o parceiro de coalizão do premiê, o Partido Trabalhista (PvdA). Os social-democratas foram massacrados nas urnas: de 25% dos votos na eleição anterior, restaram menos de  6%. Os eleitores culpam o PvdA pela reforma política dos últimos anos, que resultou em cortes significativos no sistema de bem-estar social.

Termômetro europeu

Geert Wilders
"Vocês ainda não viram tudo", afirmou WildersFoto: picture-alliance/dpa/T. Frey

O resultado relativamente ruim dos populistas de direita na Holanda pode ter efeito sobre partidos semelhantes em outros países da Europa. A França escolhe seu próximo presidente em abril, e a populista de direita Marine Le Pen deve estar no segundo turno, marcado para maio. Em setembro vão às urnas os alemães, e o partido eurocético Alternativa para a Alemanha (AfD), que atacou a política migratória da chanceler Angela Merkel, pode conquistar suas primeiras cadeiras no Parlamento.

A vitória de Rutte contou com apoio involuntário do presidente americano, Donald Trump, e do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan. De acordo com diversos analistas da televisão holandesa, a liderança caótica de Trump nos Estados Unidos espantou possíveis eleitores de Wilders, e os ataques de Erdogan nos últimos dias deram a Rutte a oportunidade de se apresentar como um estadista sereno e firme.

Coalizão majoritária precisa de quatro partidos

Mas, apesar de ter conseguido barrar os populistas de direita, não será fácil para Rutte compor um governo. Ele precisará do apoio de outros três partidos para formar uma coalizão majoritária, e uma parceria entre VVD, CDA, D66 e GL seria algo absolutamente novo na Holanda.

Para Wilders resta apenas a oposição. Todos os grandes partidos deixaram bem claro que jamais aceitariam uma coalizão com o PVV.

Bernd Riegert
Bernd Riegert Correspondente em Bruxelas, com foco em questões sociais, história e política na União Europeia.