Militares no Egito
30 de janeiro de 2011Apesar da censura da mídia, de um discurso na televisão e de um novo quadro de lideranças, o presidente egípcio, Hosni Mubarak, não consegue conter novos protestos contra ele. Neste domingo (30/01), milhares de pessoas se reuniram novamente no centro do Cairo, no sexto dia consecutivo de manifestações.
Após as revoltas políticas que deixaram mais de cem mortos no Egito desde a última terça-feira, as ruas do Cairo, Alexandria e de outras cidades do país haviam amanhecido aparentemente calmas neste domingo.
Apesar do toque de recolher, a madrugada foi marcada por saques e desmandos. Com a ausência da polícia, a população organizou brigadas civis para se defender de ataques. O Exército, que patrulha os principais prédios públicos, bancos, grandes cruzamentos e a cidade histórica do Cairo, prendeu cerca de 450 saqueadores.
Os saqueadores entraram até no Museu Egípcio, onde teriam destruído duas múmias, segundo anunciou a emissora Arabyia. Notícias sobre estupros e saques de lojas, e o anúncio da fuga de milhares de prisioneiros de cadeias egípcias espalharam medo e pânico entre a população, como também entre turistas.
Caos instalado
Cada vez mais estrangeiros querem deixar o país. Milhares de turistas esperam por voos extras no Aeroporto Internacional do Cairo. Os Estados Unidos alertaram seus cidadãos para deixarem o Egito.
A violência dos protestos contra o regime do presidente Hosni Mubarak também provoca a fuga da elite egípcia. No domingo, 45 jatos particulares deixaram o Aeroporto do Cairo, levando empresários, diplomatas e artistas, como também seus familiares, informou a administração do aeroporto. No sábado, 19 voos particulares já haviam partido do Cairo.
Com vista ao caos instalado e ao vácuo de poder, o Exército e o serviço secreto assumem cada vez mais o controle do país. Isso se reflete nas recentes mudanças do quadro de lideranças, anunciadas pelo controverso e abalado Hosni Mubarak neste final de semana.
Apoio dos militares
No sábado, Mubarak nomeou o chefe do serviço secreto, Omar Suleiman, como seu vice-presidente. Bem visto por israelenses e norte-americanos, o general é há muito considerado como possível sucessor do presidente egípcio de 82 anos.
Como novo primeiro-ministro, Hosni Mubarak designou o antigo comandante da Força Aérea egípcia, Ahmed Schafik. Em seu discurso, o presidente que governa o Egito há 30 anos prometeu "novos passos em direção à democracia" e melhora do padrão de vida. Apesar dos violentos protestos em todos o país, Mubarak não pretende largar o poder e procura agora uma aproximação com os militares.
O presidente pôde ser visto na televisão estatal egípcia, neste domingo, durante reunião com lideranças militares, que terão um papel decisivo no desenrolar dos acontecimentos no país norte-africano.
Para continuar no cargo, Mubarak depende do apoio dos militares, cujo papel é também de grande importância no caso de uma mudança regular de poder.
Novos protestos
No sexto dia de protestos, o Exército fez uma demonstração de força diante das milhares de pessoas reunidas neste domingo no centro da capital egípcia. Enquanto soldados avançavam sobre a praça Tahrir com pelo menos 16 veículos, jatos de combate faziam voos rasantes sobre os manifestantes.
Com a perda de controle das ruas por parte da polícia, a segurança de pontos estratégicos das grandes cidades egípcias é feita agora por soldados. Na tarde deste domingo, uma nova leva de militares marchou em direção ao Cairo para tentar impor um toque de recolher noturno.
CA/dw/dpa/rtr
Revisão: Roselaine Wandscheer