100 anos de arquitetura moderna
18 de maio de 2014Com salvas de tiros, milhares de pombos e uma saudação ao imperador, a primeira exposição do Deutscher Werkbund (Federação Alemã de Ofícios) abriu suas portas em 16 de maio de 1914, em Colônia, no oeste da Alemanha.
Arquitetos, artistas, industriais e operários eram membros da federação cujo objetivo não era somente criar edifícios e utensílios de alta qualidade, mas também dar uma nova forma à vida cotidiana. Os preparativos para a exposição duraram dois anos.
A mostra em Colônia foi a primeira exposição conjunta, na qual arquitetos como Walter Gropius, Peter Behrens, Hermann Muthesius e Henry van de Velde quiseram expressar o alvorecer do modernismo. A visão do Werkbund era empregar a "máquina como auxílio para alcançar qualidade", como formulou o arquiteto belga Van de Velde.
A ideia é que a união entre arte e indústria reformaria todas as esferas da vida. A máquina não deveria mais só produzir mercadorias baratas, mas também produtos de alta qualidade. O design e o artesanato artístico eram os novos recursos para se fazer do "made in Germany" um selo mundial de qualidade.
Fusão entre arte e indústria
Na época, o Império Alemão padecia com a sensação de não ter importância no mundo, por não possuir colônias como as demais potências europeias. O novo design e a Nova Construção vinham para compensar esse déficit.
Qualidade era um princípio orientador central do Werkbund. Para os membros do movimento, os autocomplacentes floreados da Art Nouveau eram um horror, por não ter função e não servir para nada, sendo meramente decorativos. Mas também não faltaram críticas do Werkbund aos produtos inferiores e mal executados da indústria da época.
A exposição em Colônia ofereceu à federação a oportunidade de, pela primeira vez, mostrar as inovações ao público. Um apoiador importante era Konrad Adenauer, que de 1949 a 1963 seria chanceler federal da Alemanha Ocidental.
Da almofada ao urbanismo
Em Colônia, na margem direita do Rio Reno, ergueram-se por volta de 80 edifícios. Como formulou certa vez Hermann Muthesius, um dos principais iniciadores do movimento: da almofada ao urbanismo, todas as formas do novo design deveriam se apresentar com um brilho novo. No bairro de Deutz construiu-se um salão de festas projetado pelo arquiteto Peter Behrens, além de restaurantes e cafés.
Para a exposição, o futuro diretor da Bauhaus Walter Gropius construiu uma fábrica-modelo, com fachada em panos de vidro leve e transparente. No entanto, nada se produzia lá: a fábrica era apenas um modelo do uso inovador de vidro e ferro, e da separação entre a área de escritórios e o pavilhão de máquinas – entre o trabalho mental e o manual.
Carl Rehorst, responsável pelo setor de obras públicas de Colônia em 1914, mostrou-se entusiasmado com o projeto de Gropius: os visitantes deviam ver "como a máquina influencia o resultado formal, como condiciona a forma e cada vez encontra mais espaço na menor das oficinas, para poupar a onerosa mão de obra humana".
Nova Construção, novo estilo
Três edifícios permanecem até hoje particularmente na memória, além da fábrica-modelo de Gropius. Um deles é o pavilhão de vidro de Bruno Taut, uma construção arredondada que lembrava uma pinha de cristal. A novidade estava no uso do vidro como material portante. O arquiteto, que trabalhava em estreita colaboração com a indústria vidreira, queria provar que o vidro também é estável.
A terceira das construções mais importantes do movimento arquitetônico foi o teatro do belga Henry van de Velde. Já antes da exposição, o projeto foi motivo de discórdia: ele não agradava a Muthesius, o presidente da federação de ofícios, que teria preferido um cinema.
Van de Velde recebeu apoio não somente de Gropius e Taut, mas também do industrial Karl-Ernst Osthaus, da cidade de Hagen, um patrono entusiástico do Werkbund. Ele e os demais reconheceram quão visionário era o projeto de Van de Velde, que previa a separação entre a plateia e a caixa de palco.
Briga lendária na Werbund
Na reunião por ocasião da abertura da mostra do Werkbund, houve um debate histórico entre Muthesius e Van de Velde. O tema foi fabricação em série versus produção individual. O arquiteto belga temia que, devido à produção em série, os artistas perdessem sua liberdade individual e que subordinassem excessivamente à máquina as suas aptidões criativas.
A briga durou vários dias, sem que jamais se chegasse a uma solução: a Primeira Guerra Mundial pôs um fim abrupto à exposição da federação. Nada restou da mostra, todos os vestígios foram apagados da paisagem urbana de Colônia.
Agora, cem anos depois, o Deutscher Werkbund do estado da Renânia do Norte-Vestfália lançou uma reedição do catálogo da exposição de 1914 – para que os méritos daqueles visionários não caiam no esquecimento.