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Ikea: mais que uma loja de móveis

Laís Kalka17 de outubro de 2004

Há 30 anos, chegou à Alemanha "a casa de móveis impossível", fundada pelo sueco Ingvar Kamprad. Mais do que móveis, a Ikea vende um estilo de vida.

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Leiaute típico das filiais da empresaFoto: AP

Difícil hoje imaginar como faziam na Alemanha, até há 30 anos, os casais às vésperas de iniciar uma vida comum. Onde eles compravam os móveis para seu primeiro apartamento, se ainda não existia a Ikea?

Foi a 17 de outubro de 1974 que se inaugurou em Eching, nas proximidades de Munique, a primeira filial da "casa de móveis impossível", que hoje faz publicidade com o slogan "Você já vive ou continua apenas morando?" – pronunciado com um sotaque sueco que lhe dá um charme especial. Com sua oferta de móveis mais leves do que a tradicional mobília encontrada até então em casas alemãs, a empresa se consolidou também por oferecer à geração mais jovem um meio de expressar a oposição à rigidez reinante no ambiente familiar.

Hoje os característicos prédios pintados de azul com letreiro amarelo – as cores da bandeira da Suécia – e situados sempre longe dos centros urbanos, nas proximidades de rodovias que permitem um acesso rápido, estão presentes em mais de 30 cidades alemãs. Produtos comprados na Ikea – e facilmente reconhecíveis como tal – encontram-se em grande parte dos apartamentos de casais jovens, famílias com crianças pequenas e repúblicas estudantis.

Opções para uma casa completa

IKEA Frau mit IKEA Katalog in München
Leitura cobiçada: o catálogo anual, com novidades e promoçõesFoto: AP

A Ikea não tem lojas, suas filiais mais lembram hipermercados em que se sucedem, em longos corredores, reproduções dos mais diferentes ambientes de uma casa, em que tudo – móveis, almofadas, cortinas, roupas de cama, louças – pode ser comprado. O resultado de uma visita são carrinhos de compras superlotados, em que se amontoam as embalagens que depois precisam ser acomodadas com todo o custo no porta-malas ou bagageiro do carro da família. A grande variedade de produtos faz com que todos saiam de lá levando mais do que previam.

O prazer de fazer com as próprias mãos

A característica principal da empresa é o sistema de venda de móveis desmontados. O freguês deixa a loja com numerosas embalagens, das quais saem, quando abertas, tábuas dos mais diferentes tamanhos, um sem-número de parafusos e a inevitável chave sextavada que serve para montar desde uma mesinha de cabeceira até o armário que toma uma parede inteira.

A sensação de estar construindo o ninho com as próprias mãos é com certeza o principal fator do sucesso da Ikea na Alemanha. Os alemães são um povo que curte o do it yourself, desde as tortas caprichadas que a dona-de-casa serve às visitas no café da tarde até os lambris de madeira que forram o teto na sala, montados pessoalmente pelo chefe de família.

Disso resulta uma simbiose perfeita entre empresa e população, para plena satisfação de ambas as partes. Com 2,25 bilhões de euros em 2003, as filiais alemãs da Ikea são responsáveis por um quinto do faturamento total da empresa, presente em inúmeros países da Europa, Ásia, Oriente Médio, nos Estados Unidos, Canadá e na Austrália, com 175 lojas. Os fregueses acreditam estar comprando mais barato, por levar os móveis desmontados para casa, deixando de considerar que a Ikea manda fabricá-los em países de mão-de-obra barata.

Uma das maiores fortunas do mundo

Ingvar Kamprad
Ingvar Kamprad, fundador e presidente da empresa, hoje um dos homens mais ricos do mundoFoto: AP

Ingvar Kamprad, 78 anos, fundou sua empresa aos 17, formando o nome com as iniciais de seu nome e do lugar em que nasceu. No início, vendia artigos diversos, que ele próprio importava em parte, passando a se concentrar em móveis em 1953. Hoje dá emprego a 70 mil funcionários (10 mil dos quais na Alemanha). Dono de uma fortuna avaliada em 13 bilhões de euros, chegou a passar temporariamente à frente de Bill Gates no ranking dos mais ricos do mundo, no início deste ano. Continua mantendo em mãos de sua família o controle sobre a empresa, que se recusa a transformar em sociedade anônima, e é conhecido por ser modesto e econômico: Kamprad não dispõe sequer de um escritório próprio na empresa.