Imigrantes
22 de janeiro de 2009Há anos que milhares de refugiados africanos utilizam pequenas embarcações de madeira para chegarem a território europeu. Muitos acabam morrendo pelo caminho. O alvo da travessia é com frequência a ilha de Lampedusa, localizada ao sul da Sicília. Segundo o ministério italiano do Interior, chegaram à ilha no último ano mais de 30 mil refugiados, o que representou um crescimento de 75% na imigração ilegal em relação ao ano anterior.
Na pequena Lampedusa de cinco mil habitantes, a situação tem se tornado quase incontornável nos últimos dias. Em alojamentos destinados a abrigar no máximo 850 pessoas, estão sendo alojados em torno de 1.850 pessoas. "Nos encontramos fora de qualquer normalidade, seja em relação às condições de higiene ou à ordem pública", afirma Bernardino de Rubeis, prefeito de Lampedusa.
Política mais austera
A razão pelo superlotamento da ilha é clara: desde o início de 2009, a Itália adotou uma política mais austera frente à imigração ilegal. Ao invés de encaminhar parte dos refugiados para regiões próximas, o que era prática até então, o ministro do Interior, Roberto Maroni – membro da Liga Norte, partido conhecido por suas palavras de ordem xenófobas – anunciou que todos os refugiados, exceto os requerentes de asilo político, não poderão deixar Lampedusa, sendo deportados de lá para seus países de origem.
As ordens de Maroni vêm sendo, desde então, seguidas à risca, o que fez com que o alojamento central da ilha, moderno e bem equipado, tenha se transformado numa semiprisão, onde ficam os refugiados. Uma prisão que recebe cada vez mais pessoas, sem a possibilidade de enviar parte delas a outras regiões no continente.
Desrespeito à dignidade dos refugiados
Após a chegada de 400 pessoas no espaço de tempo de 24 horas, só restou ao prefeito um pedido desesperado de ajuda. "Se o governo não encaminhar finalmente os refugiados, insistindo em manter as 1.850 pessoas neste alojamento, ele estará ferindo os direitos humanos e desrespeitando a dignidade de cada indivíduo. Onde fica esta dignidade? No momento está chovendo em Lampedusa. Para esses imigrantes não há nem mesmo lugares cobertos suficientes. Os refugiados estão amontoados como sardinhas enlatadas ou ficam desprotegidos, expostos à chuva. Onde fica o amor cristão pelo outro? E o respeito pelo ser humano? E onde as organizações humanitárias? E a Igreja?", questiona De Rubeis.
Barracas de plástico
O Vaticano se negou, até agora, a dar declarações em relação aos refugiados de Lampedusa. Já o Alto Comissariado das Nações Unidas reclama que os direitos dos requerentes de asilo não são devidamente respeitados na ilha.
Até mesmo o coordenador do alojamento de refugiados, normalmente pouco disposto a dar informações, demonstra preocupação. Segundo ele, o ministério do Interior não estabeleceu uma linha de conduta e as pessoas foram sendo em parte alojadas até em barracas de plástico. Além disso, o espaço está ficando cada vez mais reduzido na ilha.
Medo de perder o controle
O prefeito Bernardino de Rubeis teme até que as autoridades percam o controle sobre a situação. "Se continuar assim, vamos chegar a 2.500 ou 3 mil pessoas. O que os funcionários do alojamento vão então fazer? Quem zela pelo Direito e pela ordem? Como a população de Lampedusa vai se comportar, se tivermos que nos debater com uma decisão problemática como essa?", pergunta De Rubeis.
Segundo o prefeito, os moradores não querem de forma alguma que se crie uma prisão na ilha. O ministro do Interior Maroni já havia anunciado os propósitos do governo de criar novas estruturas em Lampedusa, com a criação de um novo abrigo para refugiados. "Estamos alarmados e dispostos até mesmo a uma greve geral para que os direitos dos moradores sejam respeitados", reclama De Rubeis.
Alguns moradores da ilha fundaram o comitê SOS Lampedusa, que criou um ponto de vigília diretamente na porta do abrigo de refugiados. Eles carregam cartazes com apelos ao presidente italiano pedindo auxílio.