Repercussão no Irã
17 de julho de 2009Durante visita à Deutsche Welle, a ativista de direitos humanos e Prêmio Nobel da Paz Shirin Ebadi criticou o governo iraniano por abusos dos direitos humanos após a disputa eleitoral para presidente. Os comentários de Ebadi ecoaram nos jornais impressos e também em diferentes canais de televisão da Alemanha.
No entanto, não foi só a mídia alemã que deu atenção às opiniões de Ebadi: órgãos da imprensa iraniana criticaram duramente a ativista pelas declarações dadas durante a visita à Deutsche Welle.
A Alemanha tem, tradicionalmente, uma boa reputação junto aos iranianos: a literatura, a cultura e a música alemãs são conhecidas e apreciadas no país. Há também conexões econômicas: empresas alemãs exportam anualmente bilhões em mercadorias, embora haja uma tendência de queda. As críticas que Berlim fez à repressão das forças de segurança iranianas contra as demonstrações parecem contribuir para esfriar as relações.
Críticas do Irã
A Irna, agência de notícias oficial do governo do Irã, escreveu que Shirin Ebadi adotou a visão da chanceler federal Angela Merkel e também finge se preocupar com liberdade e direitos humanos no Irã. "Mas Ebadi se cala – assim como outros meios de comunicação ocidentais – sobre os assassinatos dos sionistas e ocupantes na Palestina."
Para a Irna, Ebadi mantém o silêncio também quanto a outros assuntos e não fala sobre o sofrimento dos afegãos e dos milhares de prisioneiros em Abu Ghraib, Guantánamo e Bagram. "As declarações de Ebadi são como um presente de luxo para a imprensa ocidental quando ela, em uníssono com os europeus e outras nações ocidentais, critica e condena o governo iraniano", afirmou a agência.
A agência online Raja News relaciona as opiniões de Ebadi à morte de Neda Agha Soltan, a jovem estudante assassinada cujo o rosto virou o símbolo dos protestos contra o governo.
"Depois do injusto assassinato da nossa estimada cidadã Neda pelos agentes britânicos no Irã, a senhora Ebadi foi uma das pessoas que, em comum acordo com órgãos de imprensa mentirosos como a Deutsche Welle e a BBC, divulgaram uma carta acusando o governo iraniano de estar envolvido nesse acontecimento", afirmou a agência.
Publicações enganosas
Durante uma entrevista coletiva na Deutsche Welle, a ativista disse ser contrária a sanções econômicas contra Irã, alegando que a medida somente prejudicaria a população iraniana. Contudo, a agência online Bultan News publicou que Ebadi teria dito o contrário.
Segundo a Bultan, a declaração de Ebadi foi: "Se as negociações com o Irã não trouxerem democracia ao país, os governos ocidentais deveriam impor sanções ao Irã". A agência também citou que a jurista teria afirmado que "as negociações são sempre o melhor caminho, mas não se pode negociar para sempre".
Ataques polêmicos desse tipo fazem parte do repertório padrão da mídia conservadora do Irã. Nos últimos anos, o presidente Mahmoud Ahmadinejad tem usado a disputa em torno do programa nuclear para desviar a atenção da população dos problemas econômicos que o país enfrenta e manter o apoio popular.
Adversários do Irã
As eleições nos Estados Unidos colocaram Barack Obama no poder e tiraram do cenário o inimigo número um de Ahmadinejad: George W. Bush. A polêmica eleição presidencial e o uso da violência para conter as manifestações populares enfraqueceram a imagem pública do líder iraniano. Desde então, Ahmadinejad busca reconquistar o espaço perdido por meio de novos desafetos públicos. E entre esses está agora, além do Reino Unido e da França, a Alemanha.
Até o momento essa estratégia não tem tido sucesso: as críticas às eleições persistem no próprio Irã. Os protestos continuam, apesar de o governo ter conseguido, por meio da violência, retirar a maioria dos manifestantes das ruas.
Autores: Jamsheed Faroughi e Sybille Golte
Revisão: Alexandre Schossler