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Inaugurada biblioteca antártica

av24 de janeiro de 2005

Um artista alemão realiza um projeto de dez anos: a Biblioteca no Gelo. Em vermelho e verde, “cor da saudade”. Mil livros doados por cientistas e artistas preenchem a vida dos pesquisadores, no inverno do Pólo Sul.

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A biblioteca vai sendo equipadaFoto: dpa

Após dez anos de preparativos, foi inaugurada a Biblioteca no Gelo, no terreno da estação alemã de pesquisa Neumayer, no Pólo Sul. A idéia partiu do artista Lutz Fritsch, que desde novembro de 2004 assumiu pessoalmente a decoração do contêiner especial, nas cores verde e vermelho.

O sistema de calefação não é o único responsável pela sensação de calor no interior do contêiner: estantes de cerejeira, uma escrivaninha com poltrona, um sofá de couro e luzes individuais de leitura reforçam o contraste com o gélido deserto do lado de fora.

Bibliothek im Eis
Interior da biblioteca na AntártidaFoto: dpa

Durante a transmissão ao vivo entre a Antártida e a Prefeitura de Bremen, por ocasião da inauguração, em 19 de janeiro, Fritsch explicou sua intenção: “A biblioteca forma um pólo de oposição à funcionalidade da estação mergulhada em gelo eterno”. E completou: “É uma sensação maravilhosa estar aqui como artista”.

15 meses nas neves eternas

Construída sob a neve, a Neumayer pertence ao Instituto Alfred Wegener de Pesquisa Marinha e Polar (AWI), sediado em Bremerhaven. Durante o verão antártico, ela abriga cerca de 50 pesquisadores e técnicos. Nove deles – um médico, dois meteorologistas, dois geofísicos, um engenheiro, um eletricista, um especialista em rádio e um cozinheiro – ocupam a estação durante os meses do inverno.

Os mil livros da biblioteca dedicam-se sobretudo a estes profissionais, que passam até 15 meses do ano entre as geleiras eternas da Antártida, em temperaturas que alcançam os 90 graus negativos. Durante nove meses, o rádio e a internet são seus únicos elos com o mundo externo.

Além do AWI, particulares e a Fundação de Arte da Renânia do Norte-Vestfália também financiam o projeto idealizado por Fritsch. Os livros foram todos doados por cientistas e artistas, que em sua dedicatória explicam o porquê da escolha.

Cultura: luxo ou questão de vida?

Martin Heller, diretor artístico da candidatura de Bremen a Capital Cultural Européia em 2010, analisa assim a iniciativa: “De maneira radicalmente aparente, questiona-se aqui a relação entre arte e vida. Será um luxo permitir-se o prazer da literatura em meio à irrealidade do deserto glacial? Ou não será antes a cultura que faz a distinção entre a pura sobrevivência e a verdadeira vida?”.

A inauguração da Biblioteca no Gelo marcou também os 25 anos de existência do Instituto Alfred Wegener. Lutz Fritsch já trabalha há 11 anos com o AWI, havendo realizado em 1993/1994 Raum-Fahrt (Espaço-viagem), um projeto que abarca diversos oceanos. A obra constitui-se de dois menires amarelos, um postado no centro de Bremen, que fica às margens do Rio Weser, o outro na proa do navio de pesquisa Polarstern. No ano seguinte, o escultor participou de uma expedição do AWI à Antártida, além de visitar o Pólo Ártico em 1997.

Com sua biblioteca, o artista nascido em 1955 pretendeu também colocar um marco visual na imensidão sem fim da região antártica. Já à distância, o telhado vermelho do contêiner chama a atenção em meio à brancura. Suas paredes são verdes, a “cor da saudade” do Pólo Sul, nos tons “maio”, esmeralda, amarelado e “folha”. Lutz Fritsch mantém seu ateliê em Colônia, numa estação de trens abandonada.