Incêndio atinge usina nuclear ocupada pelos russos
11 de agosto de 2024Um incêndio irrompeu neste domingo (11/08) em uma torre de resfriamento da usina nuclear ucraniana de Zaporíjia, que segue ocupada por forças russas desde 2022.
Ucranianos e russos trocaram acusações sobre a responsabilidade do incêndio, mas ambos os lados afirmaram que não foi detectado nenhum pico nos níveis de radiação ao redor da usina, que fica no sudeste da Ucrânia.
Em uma mensagem na rede X, com um vídeo que mostra fumaça saindo da usina, o presidente da Ucrânia Volodimir Zelenski culpou "terroristas russos" pelo incêndio e cobrou providências da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
"Gravamos a partir de Nikopol que os ocupantes russos começaram um incêndio no território da Usina Nuclear de Zaporíjia. Atualmente, os níveis de radiação estão dentro do normal. No entanto, enquanto os terroristas russos mantiverem o controle sobre a usina nuclear, a situação não é e não pode ser normal. Desde o primeiro dia de sua ocupação, a Rússia tem usado a usina nuclear de Zaporíjia somente para chantagear a Ucrânia, toda a Europa e o mundo. Estamos esperando o mundo reagir, esperando a AIEA reagir. A Rússia deve ser responsabilizada por isso. Somente o controle ucraniano sobre Zaporíjia pode garantir um retorno à normalidade e à segurança completa", escreveu Zelenski na rede X.
Yevhen Yevtushenko, uma autoridade local em Nikopol, cidade ainda controlada pela Ucrânia, disse que havia recebido informações "não oficiais" de que as forças russas haviam incendiaram um grande número de pneus de automóveis nas torres de resfriamento.
Já o Kremlin responsabilizou ataques lançados pela Ucrânia pelo incêndio. "Como resultado do bombardeio contra a cidade de Energodar pelas forças armadas ucranianas, houve um incêndio em um sistema de resfriamento da usina nuclear de Zaporíjia", disse, em mensagem no Telegram, Yevgeny Balitsky, o governador nomeado pelo Kremlin para administrar o território ocupado de Zaporíjia. Balitsky também informou que a "radiação de fundo" ao redor da instalação estava normal.
"Não há ameaça de explosão de vapor ou qualquer outra consequência", disse ele. Cerca de três horas após a divulgação da notícia do incêndio, as autoridades de ocupação russas afirmaram que o fogo havia sido controlado.
A AIEA, por sua vez, disse que não houve nenhum impacto relatado sobre a segurança nuclear no local. A agência, que possui uma equipe atuando no local, tem repetidamente pedido moderação, dizendo que teme que uma ação militar imprudente possa desencadear um grande acidente nuclear na usina.
Com seis reatores, Zaporíjia é a maior usina nuclear da Europa. Em 2022, tornou-se a primeira usina nuclear ativa a continuar operando em meio a uma guerra. Após mais de dois anos de ocupação, os reatores permanecem desligados, mas continuam a precisar de energia e de funcionários qualificados que consigam realizar operações cruciais de arrefecimento das instalações.
O local fica na margem oriental do rio Dnipro - uma linha de frente que serpenteia pelo sul da Ucrânia. A Ucrânia controla a margem oposta e a Rússia tem acusado repetidamente suas forças de bombardear deliberadamente a usina - alegações negadas pela Ucrânia. Kiev, por sua vez, acusa Moscou de militarizar a instalação, inclusive colocando armas pesadas no local no início do conflito. Segundo Kiev, o controle da Rússia sobre a usina é uma forma de "chantagem" nuclear.
O incêndio ocorre justamente no momento em que a Ucrânia vem conduzindo uma incursão militar na região russa de Kursk, que pegou os russos desprevenidos. O Kremlin admitiu que os ucranianos avançaram pelo menos 20 quilômetros em território russo, levando Moscou a mandar reforços para a região. A incursão em Kursk é o ataque mais significativo de Kiev contra a Rússia desde que Moscou lançou sua guerra de agressão contra o país vizinho em fevereiro de 2022.
Em redes sociais, analistas especularam se o incêndio na usina não teria sido iniciado pelos russos como uma forma de "recado" para a Ucrânia diante do avanço das tropas de Kiev em Kursk nos últimos dias.
jps (ots, DW, AFP)