Incerteza e antigos rachas na primeira semana da COP21
5 de dezembro de 2015A primeira semana de negociações da Conferência do Clima de Paris (COP21) chega ao fim cercada por incerteza. Cristiana Figueres, chefe da Convenção-Quadro das Nações Unidas (UNFCCC), não quis falar sobre quais pontos do acordo estariam mais avançados ou quais seriam os que vem gerando maior discórdia.
Até a próxima sexta-feira, Figueres tem a missão de convencer os 195 países presentes a assinar um acordo que limite as emissões de gases estufa de tal maneira que o aumento da temperatura média global não ultrapasse os 2˚C até o fim do século.
"Estamos negociando um acordo equilibrado, integrado, coerente, que vai mudar o curso da economia. Os elementos estão progredindo e terão que ser finalizados na semana que vem", disse Figueres nesta sexta-feira (05/12).
O embaixador Antonio Marcondes, negociador-chefe do Brasil, fez uma avaliação similar. "São todos pontos conectados, relacionados, é difícil apontar um ou dois que estejam impedindo a negociação de avançar." Para a equipe brasileira, o ritmo ainda está lento: "Precisamos ir mais rápido, o tempo é limitado."
Tom cada vez mais político
Nos corredores da COP21, o sucesso das negociações é medido pelo número de páginas do esboço do acordo em construção: quanto maior o calhamaço, maior o desacordo entre as partes. Quando o volume cai, significa que todos começam a falar a mesma língua. Desde o início da rodada de Paris, a redução foi de 55 para 19, como estimou Todd Stern, negociador-chefe dos Estados Unidos.
Mas esse referencial não significa que o clima nas salas de negociação esteja tranquilo. "A atmosfera no momento mudou brutalmente. O tom está ficando mais político", revelou Kelly Dent, da Oxfam.
É que está chegando a hora de acertar os detalhes de quem vai pagar a conta para os países mais pobres se adaptarem às mudanças climáticas em curso. E os países mais ricos, também os primeiros a se beneficiar da Revolução Industrial e sobrecarregar a atmosfera com emissões de CO2 há pelo menos 200 anos, não parecem muito empenhados em doar o montante necessário.
Há seis anos, países desenvolvidos prometeram criar um fundo que destinaria 100 bilhões de dólares por ano para países mais pobres financiarem medidas de adaptação, e ele entraria em vigor em 2020. Segundo Kelly Dent, o valor sobre a mesa até agora está longe dessa meta.
"Nós vimos os países ricos colocando posições muito rígidas, dizendo que não colocariam dinheiro no fundo se nações em desenvolvimento também não o fizessem", contou Dent. O consenso, por enquanto, é que a rodada da primeira semana ainda não chegou onde todos querem. "Eu espero que a gente consiga o plano que a gente quer", disse Stern.
Obrigação e transparência
Aos poucos, a ideia de um acordo vinculante, com obrigação legal de ser cumprido, parece estar perdendo força. Todd Stern defende um acordo híbrido, em que cada país tenha a liberdade de dizer o quanto de suas emissões cortará, mas que os mecanismos que verifiquem essa redução sejam rígidos e obrigatórios.
O Brasil continua defendendo um pacto global vinculante, que seja "justo, ambicioso e equilibrado", repetiu o embaixador Antonio Marcondes. "Queremos transparência, mas os mecanismos de verificação não podem ser intrusivos", comentou, sobre a transparência exigida pelos Estados Unidos.
Mais do que um acordo climático, a COP21 vai definir um modelo de desenvolvimento que os países devem seguir, com o desaparecimento gradual do mundo que impulsionou a economia nos últimos séculos, movida a combustível fóssil. Em jogo, não estão apenas interesses de países que fazem riquezas como o petróleo, mas de grandes empresas que ganham fortunas no mundo como é hoje.
"Esta conferência tem que acabar sexta à noite. E temos que ter um compromisso antes disso", decretou Laurent Fabius, presidente do governo francês na COP21. "Nós viemos aqui com uma grande delegação, preparada, e queremos sair daqui com um acordo forte", disse o negociador-chefe do Brasil.