Gargalo na produção
27 de março de 2011No setor automotivo, há uma estreita relação entre fabricantes e fornecedores. "Cerca de 70% do valor agregado de um automóvel vem do fornecedor. E nessa interdependência globalizada, os fornecedores japoneses têm um papel fundamental", analisa Stefan Bratzel, do Centro Automotivo da Universidade de Ciências Aplicadas em Bergisch Gladbach.
A firma japonesa Denso é o segundo maior fornecedor do setor no mundo, atrás da alemã Bosch. A Aisin, outra empresa japonesa, está entre as dez maiores. As duas pertencem à Toyota – líder mundial da indústria automotiva – e abastecem também outras marcas com motores, engrenagens, ar-condicionado, carroceria e outros componentes do automóvel.
A indústria japonesa de fornecimento de peças lidera, principalmente, a tecnologia de armazenamento de dados, lembra Stefan Bratzel. "Existe o risco de que faltem chips de memória, caso a produção seja interrompida no Japão."
O efeito do terremoto
Diversas fábricas da indústria eletrônica e de semicondutores se localizam em municípios que foram severamente atingidos pelo terremoto. Problemas nas instalações e a instabilidade no fornecimento de energia levaram várias montadoras e fornecedores a suspenderem a produção. Devido a danos na infraestrutura, a cadeia de fornecimento foi interrompida.
A unidade da Opel em Eisenach foi a primeira na Alemanha a precisar interromper a linha de montagem devido à falta de peças do Japão – dois turnos foram cancelados. Também a Porsche, subsidiária da Volkswagen, reportou problemas de entrega de engrenagens que seriam fornecidas pela Aisin.
A busca por outros fornecedores, no entanto, poderia levar algum tempo, como pontua Bratzel. "Normalmente, não há uma peça-padrão, mas peças ajustadas a um determinado modelo, de modo que não é fácil mudar simplesmente de fornecedor."
Situação na Alemanha
Até o momento, a indústria automobilística alemã não teve grandes problemas de fornecimento. As mais afetadas são montadoras dos Estados Unidos e China, que encomendam a maioria das peças no Japão. Por esse motivo, uma unidade da General Motors no estado de Nova York precisou parar a produção já na última segunda-feira.
A crise no Japão mostrou, mais uma vez, as desvantagens de uma rede de fornecimento enxuta. Mas esse modelo não deve passar por uma reformulação, diz Frank Schwope, especialista do Norddeutsche Ladesbank.
Seria interessante colocar em questão o sistema de entrega just-in-time, ou seja, em cima da hora, defende Schwope. "Eu não acredito, no entanto, que esse sistema acabe", comenta o especialista. O que deve acontecer é que os fabricantes tentem garantir uma maior diversidade de fornecedores "de forma que diferentes partes não mais venham de um ou dois fornecedores, mas que possam ser compradas de um terceiro, por segurança", adiciona.
Por enquanto, as montadoras só podem esperar que a produção no Japão seja normalizada em breve. Os maiores danos provocados pela catástrofe foram sentidos pela própria indústria automobilística japonesa. Segundo o instituto de pesquisa de mercado IHS Automotive, a produção de automóveis no país deve cair 65% em março.
Autora: Zhang Danhong (np)
Revisão: Carlos Albuquerque