Indústria de brinquedos confia no Papai Noel
9 de novembro de 2004Contrariando a tendência de baixo-astral generalizado no país, o setor de brinquedos na Alemanha encara com otimismo a época natalina, tradicionalmente responsável por 40% do faturamento anual. Até o final de 2004, o faturamento total da indústria de brinquedos deve chegar a 3,3 bilhões de euros, pouco mais que os 3,25 bilhões de euros registrados no ano passado.
Verdade é que grande parte do êxito se deve às exportações, que, em 2003, cresceram 9,3% em relação ao ano anterior. O interesse por brinquedos made in Germany cresce principalmente no Leste Europeu.
Mas, em época de crise de consumo, como a que se registra atualmente na Alemanha, deixar de escorregar para os números vermelhos é um fenômeno notável. "É um pequeno milagre conseguirmos manter estável o mercado interno", admite Willy Fischel, diretor da associação que congrega o comércio varejista alemão de brinquedos.
O fenômeno Playmobil
Sucesso não é exatamente uma palavra que se possa aplicar atualmente ao setor mundial de brinquedos. Os maiores fabricantes do mundo, a Mattel e a Hasbro, enfrentam quedas nos lucros (de 5%, no caso da Mattel) e no faturamento (Hasbro: 2%). Só as vendas da Barbie recuaram em 13%.
Na contramão dessa tendência, a Playmobil, empresa familiar sediada em Zirndorf, nas proximidades de Nurembergue, vende tanto que está produzindo no limite da capacidade para atender à demanda natalina. De 2000 para cá, os fabricantes das simpáticas figurinhas coloridas e móveis de plástico incrementaram suas vendas mundiais em 50% e, na própria Alemanha, em 60%, tendo abocanhado já uma fatia de 7,6% do mercado interno. A tendência é aumentar.
A explicação do sucesso está no fato de a empresa estar sempre lançando novidades, sem se afastar de seus princípios tradicionais. Ela não aderiu à onda dos monstros, nem à da violência ou de figuras da moda do tipo Harry Potter, que proporcionam sucesso momentâneo aos fabricantes, mas consomem grande parte – até 15% – dos lucros no pagamento das licenças.
Sucesso não é brincadeira
Há anos que os brinquedos tradicionais vêm sendo substituídos na preferência dos consumidores pelos jogos multimídia. Muitos fabricantes não conseguem acompanhar a tendência, o que explica em parte a crise do setor. "De dez anos para cá, o interesse das crianças e adolescentes por jogos high tech tem crescido em progressão geométrica", afirma Karin Fires, do Instituto de Pesquisa da Juventude, de Munique.
Segundo um levantamento do instituto, 39% das crianças entre 6 e 12 anos ainda colocam as peças de lego e as figuras playmobil no topo da lista para o Papai Noel. Mas 37% já dão preferência a um computador, laptop ou videogames. Conforme avança a idade, menor o interesse das crianças por brinquedos tradicionais.
Mas exagerar ao seguir esta tendência também pode fazer mal à empresa. É o caso da Lego, que passou a fabricar séries com software embutido, violando seu sistema tradicional de peças de encaixe. Complicadas demais, as novas peças ficam encalhadas, sendo responsáveis em parte pelo buraco de 270 milhões de euros nos caixas da empresa neste ano.
Não há, portanto, uma receita certeira para acertar o gosto do consumidor. O melhor é "adaptar-se cuidadosamente às novas tendências sociais", avalia Volker Schmid, diretor da DVSI, a associação da indústria de brinquedos.
É o que faz a Ravensburger, tradicional fabricante de quebra-cabeças, jogos de tabuleiro e livros infantis. Após uma crise há três anos, a empresa de 120 anos deu a volta por cima em 2003 e registrou o maio lucro de sua história. Maior sucesso de vendas na temporada foi o jogo eletrônico Rei Artur, que se esgotou apenas algumas semanas após o lançamento.
Além disso, a Ravensburger pode contar com um filão seguro: o dos adultos que curtem montar quebra-cabeças. Não há país em que seu número seja tão grande como na Alemanha, afirma Werner Lenzner, do instituto de pesquisa de mercado Intelect.