Indecisos e abstenção devem fazer a diferença no segundo turno
23 de outubro de 2014Na eleição mais disputada desde 1989, os eleitores indecisos e os que pretendem se abster vão ter um papel crucial na escolha do novo presidente. A quatro dias do pleito, Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) jogam suas fichas para tentar conquistar parte dos 38 milhões de pessoas que votaram nulo, branco ou não foram às urnas no primeiro turno – ou seja, quase 30% do eleitorado.
Dilma e Aécio estão tecnicamente empatados nas pesquisas de intenção de voto, com a petista (52%) liderando a corrida por quatro pontos, o limite da margem de erro. Uma ampliação da distância entre os candidatos é tida como improvável. E analistas dizem que, por isso, ambos estão mirando nos indecisos e têm o desafio de levar mais gente às urnas em seus redutos eleitorais.
"O papel dos indecisos é muito importante porque a distância entre os dois candidatos é muito pequena", diz o cientista político Valeriano Costa, da Unicamp. "O indeciso é aquele que tem menos condições de escolher objetivamente por critérios políticos, socioeconômicos ou ideológicos. E eles dependem muito das comparações entre as fichas pessoais dos candidatos."
A propaganda eleitoral no rádio e na TV e o último debate presidencial, marcado para esta sexta-feira (24/10) na TV Globo, têm importância-chave para o eleitor indeciso. Muitos deles, segundo especialistas, escolhem o candidato na véspera ou minutos antes de entrar na cabine de votação.
É incerto qual candidato terá maior poder de captar os votos dos indecisos. Costa afirma que Dilma deve ter a maior parte desse eleitorado, já que a petista conseguiu suscitar dúvidas em parte dos brasileiros sobre a trajetória política de Aécio e sobre sua gestão como governador de Minas Gerais.
Já o cientista político Vicente Fonseca, do Ibmec/DF, aposta que Aécio deve garantir cerca de 70% dos votos dos indecisos – eles representam, junto a intenções de voto nulo ou branco – cerca de 10% do total do eleitorado, segundo a última pesquisa Datafolha.
"As pessoas estão escutando muito sobre corrupção no governo Dilma e começaram a ser sensibilizadas sobre o assunto. Aécio deve puxar muitos votos de eleitores que desejam a mudança", diz Fonseca.
Expectativa de menor comparecimento
Outro fator importante para decidir uma disputa acirrada é a abstenção, que foi de 19,39% no primeiro turno (cerca de 27,6 milhões de eleitores). A tendência é que – a exemplo das eleições presidenciais de 2002, 2008 e 2010 – a cifra cresça no segundo turno.
Caso o comportamento seja o mesmo de 2010, o segundo turno em 2014 deverá registrar um aumento de cerca de 3 pontos percentuais na parcela de abstenções, o que pode levar a cifra de eleitores que não votaram a 31,5 milhões.
Entre os motivos está o fato de que menos candidatos estão na corrida eleitoral no segundo turno – a disputa para os cargos de deputado federal, estadual e senador se encerrou no primeiro turno, e a para governador vai ocorrer somente em 13 estados e no Distrito Federal.
"É normal esse desinteresse do eleitor no segundo turno, já que, além de haver menos candidatos concorrendo, há a questão de que as multas e sanções para quem não votou são muito pequenas, o que não é um grande empecilho para o eleitor", diz Costa.
De acordo com especialistas, a abstenção de eleitores do Norte e Nordeste, regiões onde Dilma obteve grande parte de seus votos, pode afetar a reeleição da presidente. A eleição de Aécio pode ser comprometida caso se registre mais abstenções nas regiões Sul e Sudeste, onde o tucano é mais forte que a petista.
Em comparação, Dilma ganhou em 15 estados no primeiro turno e obteve mais de 60% dos votos em estados como Maranhão e Bahia, por exemplo. Respectivamente, esses dois estados registraram 23,63% e 23,19% de abstenção. E ambos já têm governador eleito.
Já Aécio venceu em nove estados e no Distrito Federal. Em São Paulo, por exemplo, ganhou com 44%, e a abstenção foi de 19,52%. Em Santa Carina, obteve 52% de apoio nas urnas, e apenas 16,41% dos eleitores não foram votar.
Para o sociólogo Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, feriados municipais ou estaduais podem também retirar o foco da eleição.
"Deve haver uma tendência de maior abstenção nas regiões Norte e Nordeste do país, e isso, obviamente, seria prejudicial à Dilma", opina.