Indignação européia às declarações do presidente iraniano
9 de dezembro de 2005"As sugestões do presidente do Irã são completamente inaceitáveis", disse a chanceler federal alemã, Angela Merkel, pouco antes do encontro com o presidente francês, Jacques Chirac, em Berlim. Opiniões semelhantes partiram também da Áustria e de outros países do continente.
Durante um encontro de nações islâmicas, em Meca, na Arábia Saudita, Ahmadinejad negou o Holocausto. Outro ponto polêmico e que despertou a ira dos europeus foi a sugestão da transferência do Estado de Israel para uma região "cedida pela Alemanha e a Áustria. Com isso, o problema seria atacado pela raiz", disse, referindo-se ao conflito entre israelenses e palestinos no Oriente Médio.
"Vocês (europeus) os oprimiram, então dêem uma parte da Europa para o regime sionista, para que possam estabelecer o governo que quiserem", provocou. A polêmica começou a tomar corpo em outubro passado, quando o presidente iraniano começou os ataques verbais, pedindo a eliminação de Israel do mapa.
Resposta alemã
Merkel destacou que o governo rejeita estas observações de forma enfática e não irá, sob circunstância alguma, permitir que o direito de existência de Israel seja ameaçado. A chanceler acredita que esta posição é compartilhada pela maioria das nações.
O ministro das Relações Exteriores da Alemanha também criticou as observações feitas pelo líder iraniano. Após encontro em Bruxelas com colegas da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Frank-Walter Steinmeier destacou que "a situação atual de Israel é julgada pelo governo do Irã com pouca seriedade ou muito cinismo".
Angela Merkel teve suas críticas fortalecidas por Chirac. O líder francês ressaltou que recebeu as declarações de Ahmadinejad com assombro e revolta. Também o chefe de governo da Áustria, Wolfgang Schüssel, rebateu a sugestão de transferir Israel para a Europa. Após um encontro em Washington com o presidente George W. Bush, ele comentou: "É uma gafe monstruosa. Dessa forma o problema não será resolvido".
Negação do Holocausto
Em entrevista coletiva na Arábia Saudita, Ahmadinejad afirmou que "alguns países europeus insistem em dizer que Hitler matou milhões de judeus inocentes em fornalhas a ponto de, se alguém provar o contrário, condenarem essa pessoa e a enviarem à cadeia". Ele disse que não aceita essa afirmação.
"Mas se partirmos do ponto de que isso é verdade, então temos a seguinte pergunta para os europeus: A morte de judeus inocentes por meio de Hitler é o motivo para o apoio europeu às forças de ocupação em Jerusalém?", questionou.
Problema nuclear
Com toda a polêmica, a posição do Irã envolvendo a questão atômica fica mais difícil de ser discutida. Os Estados Unidos esclareceram que as declarações de Ahmadinejad explicam a preocupação de vários países em relação ao governo iraniano e seu potencial de desenvolver armas nucleares. Norte-americanos e europeus suspeitam que o Irã não quer somente desenvolver um programa atômico civil, mas sim, ambicionam a produção de armas nucleares.
Repercussão na imprensa
O jornal alemão Bild Zeitung, de Hamburgo, destacou que "o presidente do Irã sofre de um tremendo complexo de ódio contra os judeus e o Estado de Israel". O artigo segue perguntando que país gostaria de ter seu nome ligado ao de Ahmadinejad. "As declarações do presidente iraniano estão maduras o suficiente para serem levadas à Corte Internacional de Justiça. Ele pratica um cinismo repugnante", conclui.
"Este homem está cada vez mais fora de controle", critica o periódico de Kiel. Segundo o Kieler Nachrichten, o ódio contra os judeus é patológico. "A lista de conflitos dos quais o Irã tem envolvimento é longa", ressalta o texto.
"Depois de classificar Israel como um tumor, o presidente Ahmadinejad toma outro rumo e deixa de lado a opção de amputar o país do mapa", começa a matéria no jornal La Repubblica, de Roma, sobre a transferência da nação para a Europa. "Por outro lado, esta campanha obsessiva contra Israel poderia ser simplesmente um sinal de pura fraqueza", opina o jornal.