Iniciada batalha pela Aventis
26 de janeiro de 2004Se a transação se consumar, essa será a maior fusão de todos os tempos na França, que passará a ter um gigante com um valor de mercado superior a 100 bilhões de dólares.
Em Estrasburgo, o presidente da Aventis, o francês Igor Landau, recusou a oferta por considerá-la abaixo do valor real da empresa. Safoti-Synthélabo não teria se empenhado em negociações que culminassem numa fusão de comum acordo. O preço proposto aos acionistas estaria somente 3,6% acima da última cotação.
Peixinho quer engolir peixão
A Aventis, que resultou da fusão da Hoechst alemã com a Rhône-Poulenc em dezembro de 1999, é uma empresa bem maior do que a concorrente que quer engoli-la. Tem 71 mil funcionários e apresentou um faturamento de 20,6 bilhões de euros no ano passado, enquanto a Sanofi-Synthélabo emprega 32.500 funcionários e faturou cerca de 8 bilhões de euros.
Consta que a Aventis estaria se preparando para enfrentar a tentativa de incorporação, tendo encarregado os bancos de investimentos Goldman Sachs, Morgan Stanley e Rothschild de elaborarem uma estratégia de defesa.
A proposta
A proposta do concorrente envolve uma troca de ações no valor de 80% dos 60 bilhões de dólares, sendo o restante em dinheiro. Os acionistas da Aventis trocariam seis ações por cinco da Sanofi, recebendo ainda 69 euros em dinheiro.
Outra alternativa seria trocar 34 ações por 35 da Sanofi, o que corresponderia a 60,43 euros por ação. A proposta, segundo a Sanofi, representa uma valorização de 15%, tendo por base a cotação média das ações da Aventis de 21 de dezembro de 2003 a 21 de janeiro deste ano.
A Safoti pretende assumir todas as ações do concorrente, que somam cerca de 802 milhões. A presidência da empresa já sinalizou que o negócio só se realizará se conseguir obter pelo menos 50% das ações e direitos de voto. E também que prefere realizar o negócio rapidamente, em vez de envolver-se em longas negociações.
Antes de apresentar a oferta, a Safoti teve que consultar seus dois grandes acionistas, a Total (24,4%) e a L'Oréal (19,5%). Ambas confirmaram nesta segunda-feira (26) que colocarão o capital necessário à disposição. Segundo o semanário alemão Der Spiegel, havia reservas por parte do grupo L'Oréal, que considerou alto o risco da transação.
Novo gigante farmacêutico?
O governo francês reagiu de forma positiva ao eventual surgimento de um gigante francês atuando no setor. A nova empresa estaria entre as três maiores indústrias farmacêuticas, disputando o segundo lugar com a inglesa GlaxoSmithKline. A número 1 do mundo é a Pfizer norte-americana.
"A economia mundial exige atores fortes e de nível internacional", disse o ministro das Finanças, Francis Mer, por ocasião do Fórum Econômico Mundial, em Davos. Seria muito mais fácil a união entre duas empresas européias, do que entre uma européia e outra norte-americana ou japonesa.
Argumentos pró fusão
Os analistas também consideram sensata a fusão. Redução de custos, sinergias nas vendas e distribuição, um perfil mais favorável de riscos para o investidor e vantagens de uma empresa maior no importante mercado norte-americano seriam algumas razões a favor da união.
A Sanofi calcula sinergias no montante anual de 1,6 bilhão de euros antes do pagamento de impostos. Os custos de reestruturação são calculados em 2 bilhões de euros.
'Tiro na proa' inicia batalha
Ao recusar a oferta, a Aventis ganha tempo para preparar-se para a batalha ou para arrastar o adversário novamente à mesa de negociações e obter uma oferta mais alta.
A proposta da Sanofi-Synthélabo "foi um canhonaço de advertência na proa", segundo Marc Booty, do Commerzbank em Londres. E não é a última palavra.