Iniciativa de imigração trouxe 12.500 técnicos de informática à Alemanha
2 de agosto de 2002O programador indonésio Harianto Wijaya, hoje com 27 anos, tornou-se de um dia para o outro o estrangeiro mais conhecido da Alemanha. Em 1º de agosto de 2000, todos os jornais estamparam sua fotografia, recebendo do ministro do Trabalho, Walter Riester, a primeira green card ao estilo dos EUA: uma licença de trabalho acoplada a um visto de permanência no país por até cinco anos. Essa licença consta da exposição permanente da Casa da História, em Bonn, uma espécie de museu da história alemã.
Green card e imigração
"Wijaya é um símbolo para uma Alemanha como país de imigração", diz Martin Steppler, gerente da AixCom, uma firma de prestação de serviços na área de telecomunicações, que contratou o indonésio, mal ele concluíra seus estudos em Aachen, com excelentes notas. O técnico em informática foi o primeiro funcionário da firma. Graças a ele, a AixCom obteve clientes e encomendas, o que tornou possível novas contratações. "Hoje somos oito pessoas", diz seu patrão.
Dois anos após a concessão das primeiras licenças a especialistas estrangeiros em informática, o governo traçou um balanço positivo da medida. A iniciativa teve muito êxito, informou o porta-voz Uwe-Karsten Heye, na quarta-feira (31), em Berlim. Até julho vieram trabalhar no país mais de 12.500 técnicos em informática. Por mês continuam sendo expedidas uma média de 250 green cards.
Efeito positivo sobre o mercado alemão
Graças à contratação de cada técnico estrangeiro foram criados mais dois ou três novos empregos. Também houve progressos na qualificação e especialização de alemães em técnicas de informação, indicou Heye. O número de universitários que se matricularam no primeiro ano de informática, por exemplo, mais do que duplicou em apenas três anos. As empresas também estão oferecendo mais vagas para o aprendizado profissional em áreas afins. Atualmente, há 70 mil jovens em sistema de aprendizagem profissional (trabalho e aulas) em empresas de computação e mídia.
O chefe de governo alemão, Gerhard Schröder, anunciara a iniciativa da green card durante a CeBit 2000, a maior feira internacional de informática. O plano era trazer 20 mil técnicos do exterior. Às voltas com a falta de programadores e especialistas, a iniciativa privada criticou a limitação do visto a cinco anos.
Lei da imigração poderá estender permanência
O porta-voz de Schröder chamou a atenção para o fato de que essa restrição cairá, com a entrada em vigor da nova lei da imigração em 1º de janeiro de 2003. Isto, contudo, depende da sentença do Tribunal Federal Constitucional, a quem caberá julgar uma queixa do maior partido de oposição, a União Democrática Cristã (CDU). Voto vencido nas duas câmaras do Legislativo alemão, a CDU recorreu ao tribunal alegando irregularidades na votação no Conselho Federal, que equivale ao Senado no Brasil.
As empresas de mídia e telecomunicação também fazem um balanço positivo do programa. Apesar da crise no setor, da ameaça de corte de empregos e da fraqueza conjuntural, "a green card é um êxito e um importante fator econômico para o nosso ramo e o desenvolvimento empresarial na Alemanha", disse Jörg Menno Harms, vice-presidente da federação do setor, BITKOM. A licença foi "um teste positivo para uma regulamentação geral da imigração", na sua opinião. Setores globalizados precisariam de opções internacionais no tocante à contratação de especialistas.
Apesar do aumento do número de estudantes de informática, o sistema educacional alemão ainda não satisfaz essa demanda. A Alemanha continuará precisando de green cards, disse Harms, acrescentando que os 7 mil peritos em informática saídos das universidades alemãs todos os anos não bastam para suprir uma demanda estável de 15 mil a 20 mil especialistas por ano.