Irã planeja deportar 2 milhões de refugiados afegãos
15 de setembro de 2024O regime iraniano pretende expulsar do país cerca de 2 milhões de estrangeiros sem documentação nos próximos seis meses. O anúncio foi feito na última terça-feira (10/09), pelo chefe da polícia do governo fundamentalista, Ahmad-Reza Radan.
Radan também disse que as forças de segurança e o Ministério do Interior estavam elaborando medidas para conseguir deportar "um número considerável de estrangeiros ilegais" a longo prazo.
Quando as autoridades iranianas falam de "estrangeiros ilegais", geralmente se referem a migrantes do Afeganistão. O Irã e o Afeganistão compartilham uma fronteira de 900 quilômetros de extensão, parte da qual passa por cadeias de montanhas altas e inacessíveis. Por mais de 40 anos, os afegãos fugiram para o Irã para escapar da guerra civil, da pobreza e, agora, novamente do Talibã.
"Os afegãos são pessoas cultas, mas nosso país não pode receber tantos migrantes", disse o ministro do Interior do Irã, Eskandar Momeni, em entrevista à agência de notícias estatal do Irã na segunda-feira.
Ele também destacou as dificuldades que as pessoas no Afeganistão enfrentam. "Planejamos lidar com essas questões de forma ordenada e sem muita confusão", disse ele. "Nossa prioridade são os migrantes irregulares".
Em maio, o Ministério do Interior anunciou que cerca de 1,3 milhão de migrantes irregulares já haviam sido deportados para o Afeganistão nos 12 meses anteriores.
ONU: Mais de 4 milhões de afegãos vivem no Irã
O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (Acnur) estima que cerca de 4,5 milhões de afegãos vivem atualmente no Irã. No entanto, de acordo com agências de notícias iranianas, o número real pode chegar a 6 milhões ou 8 milhões.
Muitos não têm permissão legal para ficar, evitando se registrar por medo de serem deportados. Muitos também usam o Irã como via de passagem para tentar chegar à Europa.
Devido à similaridade dos idiomas, os imigrantes afegãos podem facilmente se misturar à sociedade iraniana e se manter com o apoio de outros imigrantes já estabelecidos. Muitos acabam como mão de obra barata na agricultura e em canteiros de obras.
Mas muitos cidadãos iranianos acreditam que os trabalhadores afegãos sem documentos saturaram o mercado de trabalho e constituem um fardo para o sistema de previdência social.
Um debate acalorado sobre o alto número de refugiados afegãos vem ocorrendo há meses. Quase diariamente, a mídia iraniana noticia crimes, como estupros e assassinatos, supostamente cometidos por refugiados, ou a escassez de alimentos básicos, como farinha e ovos, ou doenças infecciosas supostamente trazidas pelos migrantes irregulares. Petições pedindo a deportação de refugiados afegãos, bem como inúmeras mensagens de ódio, circulam regularmente online.
Defensores de migrantes afegãos são alvos de ódio
Pessoas como a jornalista iraniana e ativista dos direitos das mulheres Jila Baniyaghoob, especialista em Afeganistão, que se manifestam contra esses sentimentos hostis ou que denunciam as condições de vida precárias enfrentadas pelos afegãos também costumam ser alvos de ódio.
"Recebo constantemente mensagens de ódio e até ameaças de morte", disse ela à DW. "Eles querem me silenciar."
Baniyaghoob é uma das 540 sigantárias de uma petição a favor de mais solidariedade aos migrantes afegãos. O documento também foi assinado por jornalistas, advogados, artistas, médicos e ativistas.
O grupo questiona abertamente o que eles apontam ser uma campanha de ódio organizada contra os migrantes e adverte sobre os efeitos imprevisíveis que esse populismo pode ter: "Há muito tempo, este país sofre com uma crise econômica e má administração crônica. Desde o ano passado, as autoridades têm culpado os migrantes irregulares por problemas como o preço excessivo dos alimentos. Agora, elas estão sob pressão para agir e deportar em grande escala. Mas dificilmente conseguirão proteger a fronteira. Muitos migrantes retornarão. Esse problema não será resolvido com ódio."
Protestos e ataques
Nos últimos meses, várias cidades do país foram palco de protestos e ataques arbitrários contra migrantes afegãos. Nazar Mohammad Nazari, um jovem do Afeganistão, disse à DW que "os ânimos estão exaltados". Ele tinha esperança de uma vida melhor no Irã.
"Na verdade, cheguei a voltar para o Afeganistão", acrescentou. Segundo ele, ataques arbitrários a indivíduos afegãos têm se tornado comuns. "Eu não me sentia mais seguro."
Além de tais ataques, os migrantes estão sempre correndo o risco de serem presos e deportados. De acordo com relatos divulgados na mídia do país na semana passada, descendentes de afegãos nascidos no Irã, com documentos iranianos e pouco ou nenhum conhecimento sobre o Afeganistão, também estão sendo deportados.
O Irã também está construindo um muro ao longo de sua fronteira nordeste com o Afeganistão, um local frequentemente usado para travessias. Por enquanto, o governo planeja erguer um muro de concreto de 74 quilômetros de extensão, com 4 metros de altura e coberto com arame farpado. No entanto, dada a extensão da fronteira compartilhada, muitos duvidam que o muro reduzirá o número de travessias irregulares da fronteira.