Iraque se prepara para votar
19 de dezembro de 2004Trata-se de um projeto megalômano. Cerca de 70 partidos e candidatos lutam por uma das 275 vagas do Congresso Nacional iraquiano. Embora o prazo oficial para candidatura já tenha terminado, ainda não se sabe quantos nomes constarão na cédula de votação no fatídico 30 de janeiro, pois até agora as inscrições não foram completamente encerradas. Diante da catastrófica situação da segurança no país, o governo de transição teve de prorrogar o prazo de inscrição nas províncias sunitas do noroeste até 20 de dezembro.
Já entre o xiitas a coisa é bem diferente. Representando mais de 60% da população, eles formam a maioria no país e têm grandes chances de ocupar a maior parte das cadeiras da assembléia, segundo Jochen Hippler, do Instituto para o Desenvolvimento e a Paz (INEF) da Universidade de Duisburg-Essen.
Na última semana, eles apresentaram uma lista com 228 candidatos. Além dos grandes partidos xiitas, a chamada Aliança Iraquiana Unida também inclui o Conselho Supremo para a Revolução Islâmica no Iraque. Segundo Hippler, até o clérigo radical Muktada al-Sadr apóia o partido.
Falta de informação e insegurança
"Mas só saberemos nas próximas semanas quão forte o partido xiita realmente é", disse o especialista Yahia Said. Segundo ele, a maior parte da população está mal informada e poucos sabem que o resultado da eleição decidirá também o futuro da constituição iraquiana – o que poderia alterar consideravelmente os resultados, segundo o pesquisador da London School of Economics.
"A lista xiita aposta na carta étnica, mas ainda não é certo se todos os xiitas morderão a isca", afirma Said. Para muitos deles, a lista – que inclui o exilado Achmed Chalabi – significa uma aproximação grande demais às forças de ocupação americanas. Além disso, muitos temem que eles possam transformar o país em um Estado religioso nos moldes do Irã.
Populares, mas sem verba para campanha
Os partidos não-religiosos são os que mais poderiam sair ganhando com essa situação. Neles, a cada três candidatos, um deve ser do sexo feminino, o que agrada aos xiitas mais secularizados. Entretanto, na opinião de Hippler, esses partidos têm poucas chances de vencer. "O Partido Comunista e o do primeiro-ministro Iyad Allawi são muito respeitados pelo povo, mas não têm a verba necessária para investir na campanha eleitoral."
O plano dos comunistas de se juntarem aos partidos curdos também falhou. Agora, os dois grandes partidos curdos concorrerão sozinhos nas eleições e, segundo Hippler, "a união deles poderá contar com 95% dos votos nas regiões curdas do país".
Sunitas sem linha comum
Só os partidos sunitas é que falharam em encontrar uma posição comum. "As chances de os sunitas se aliarem até o final de janeiro é muito pequena", aposta Hippler. Até porque, no momento, eles têm outros problemas com que se preocupar. Afinal, diversas cidades sunitas, entre elas Falluja, foram reduzidas a cinzas.
Agora, muitos sunitas se vêem como vítimas da política norte-americana e diversos grupos incentivam o boicote às urnas. Nas regiões de crise, quem, mesmo assim, decidir votar corre o risco de ser assassinado pelas forças rebeldes. "Se a eleição for levada a cabo no final de janeiro, será um golpe para os sunitas, que dificultaria sua integração." Entretanto, um boicote às urnas não apenas questionaria a legitimação do novo parlamento, mas colocaria em risco o futuro do país.