Irmão de Johnson renuncia por conflito entre família e país
5 de setembro de 2019Em meio ao caos instalado pelo Brexit no Reino Unido, Jo Johnson, irmão do primeiro-ministro Boris Johnson, renunciou ao cargo de ministro nesta quinta-feira (05/09) e anunciou que deixará também seu assento no Parlamento, alegando conflitos pessoais entre a vida familiar e política.
No Twitter, Jo disse se sentir honrado por ter atuado como ministro em três governos conservadores e por ter representado o distrito de Orpington no Parlamento por nove anos. "Nas últimas semanas, me senti dividido entre a lealdade familiar e o interesse nacional", escreveu ele, dizendo se tratar de "uma tensão irresolvível". "Agora é hora de outros assumirem meu papel como parlamentar e ministro."
Nos últimos dias, Jo esteve ao lado de seu irmão ao votar contra o projeto de lei que visa impedir que o Brexit ocorra sem um acordo com a União Europeia (UE), além de expressar apoio à convocação de novas eleições, um passo defendido pelo primeiro-ministro britânico.
Anteriormente, porém, ele e seu irmão estiveram em lados opostos. Jo, de 47 anos, votou pela permanência do país na UE no referendo de 2016, ao contrário de Boris, que fez forte campanha pelo Brexit. Após a votação, afirmou que o país não poderia deixar o bloco sem um acordo com Bruxelas. Jo também defendeu a realização de um segundo referendo sobre o Brexit.
Mesmo assim, ele acabou aceitando o cargo de ministro das Universidades e da Ciência após seu irmão se tornar primeiro-ministro em julho. Jo Johnson atua como parlamentar desde 2010 pelo distrito de Orpington, em Kent, no sudeste da Inglaterra, e já assumiu diversas funções ministeriais.
A decisão de deixar o governo vem pouco depois de o primeiro-ministro ter expulsado 21 parlamentares do Partido Conservador que se recusaram a apoiar sua estratégia para o Brexit, entre eles o neto do lendário ex-primeiro-ministro Winston Churchill e um ex-ministro das Finanças.
Desde que assumiu a chefia de governo em julho, Johnson vem tentando encurralar seu partido, que atravessa profundas divisões em relação à saída do país da UE – o premiê insiste que o Brexit deve ocorrer com ou sem acordo no dia 31 de outubro.
Essa abordagem também afetou as lealdades partidárias e fez com que Boris perdesse a frágil maioria parlamentar que possuía, enquanto aumentam as incertezas sobre o futuro próximo do país.
Na tentativa de punir os conservadores rebeldes, o premiê, que também é o líder da legenda, bloqueou um grupo de parlamentares de se reelegerem pelo partido, entre eles uma de suas principais figuras, o ex-ministro da Justiça David Gauke.
Gauke lamentou a partida de Jo Johnson e disse que "ninguém mais do que Jo" precisou lidar com os conflitos de lealdade nos últimos dias. "Essa é uma grande perda para o Parlamento e para o Partido Conservador", afirmou.
Um porta-voz do primeiro-ministro divulgou uma nota agradecendo a Jo pelos serviços prestados. "O primeiro-ministro, como político e como irmão, entende que essa não foi uma questão fácil para Jo", observou.
A família Johnson é conhecida pelas divisões internas sobre o Brexit. Rachel, irmã de Jo e Boris, já representou diferentes partidos contrários ao Brexit. O pai, Stanley, é um ferrenho defensor da UE e já foi deputado no Parlamento Europeu em Estrasburgo.
O Partido Trabalhista, de oposição, afirmou que a renúncia de Jo Johnson realça a falta de confiança generalizada no primeiro-ministro britânico.
Nesta quarta-feira, Boris Johnson sofreu nova derrota ao perder votações no Parlamento britânico sobre um projeto de lei suprapartidário para adiar o Brexit, a fim de evitar a saída sem acordo da UE em 31 de outubro. O texto, que pode atrasar o divórcio por três meses, foi aprovado por 329 votos a 300 numa primeira votação, e por 327 votos a 299 numa segunda fase.
A legislação determina que Johnson peça ao bloco europeu que adie o Brexit para 31 de janeiro, a menos que o Parlamento britânico aprove um novo acordo ou vote por um Brexit sem acordo até 19 de outubro. O projeto ainda precisa do aval da Câmara dos Lordes (câmara alta do Parlamento) para se tornar lei.
RC/ap/dpa
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