Sem autorização
31 de maio de 2011O avião em que estava a chanceler federal alemã, Angela Merkel, foi impedido pelo governo iraniano de passar pelo espaço aéreo do país nesta terça-feira (31/05). A caminho de Nova Délhi, na Índia, a chanceler teve que sobrevoar a Turquia durante duas horas até receber autorização para cruzar o Irã e seguir viagem.
A reação de Berlim ao caso foi imediata. O ministro alemão das Relações Exteriores, Guido Westerwelle, convocou o embaixador iraniano na capital alemã ainda nesta terça-feira para dar explicações. "A proibição da viagem da chanceler federal alemã sobre o Irã é absolutamente inaceitável", afirmou Westerwelle . "Este é um desrespeito com a Alemanha que não vamos tolerar".
Em conversa com o vice-ministro alemão do Exterior, Wolf-Ruthart Born, na tarde desta terça-feira, o embaixador iraniano na capital alemã, Ali Reza Sheikh Attar, alegou razões "técnico-organizativas" para o impedimento.
Merkel, no entanto, tentou mostrar serenidade e evitou comentar o incidente, dizendo apenas que o mais importante era sua chegada para os compromissos oficiais em Nova Délhi.
Foram necessárias intensas negociações diplomáticas entre a Alemanha e o Irã, com intermediação da Turquia, para que o avião de Merkel prosseguisse viagem. Se as conversações se estendessem por mais algumas horas, o Airbus 340 que transportava a chanceler com empresários e vários jornalistas teria que descer em solo turco para reabastecimento de combustível. Há poucos dias, a União Europeia impôs novas sanções contra o Irã por conta de seu controverso programa nuclear.
Sem precedentes
O governo alemão garante que na segunda-feira à noite, quando levantou voo, a aeronave já havia recebido autorização para cruzar o espaço aéreo iraniano – informação que o governo de Mahmoud Ahmadinejad contesta.
Por várias horas, as razões que motivaram a proibição no momento da viagem permanecem "não esclarecidas", até porque um segundo avião, que transportava quatro ministros alemães, viajou normalmente e pousou no horário programado na capital indiana.
"Não há precedentes com relação a isso", afirmou o porta-voz do governo da Alemanha sobre o episódio, que classificou o fato como uma violação ao privilégio diplomático que Angela Merkel nunca vivenciou antes.
Este foi o primeiro voo do Konrad Adenauer, nome com o qual o avião da chefe de governo foi batizado em homenagem ao primeiro chanceler ferderal alemão pós-guerra. A volta de Merkel para a Alemanha está marcada para a próxima quinta-feira. Ainda não há informações sobre se, na volta, a chanceler e sua comitiva tentarão novamente sobrevoar o espaço aéreo iraniano.
Negócios na Índia
Merkel lidera uma grande delegação de ministros e empresários alemães que buscam intensificar o comércio com as economias em expansão do sul da Ásia. Ela vai se encontrar com o primeiro-ministro indiano, Manmohan Singh, e com o presidente indiano, Pratibha Patil, em Nova Délhi ainda nesta terça, antes de seguir viagem para Cingapura.
Também serão temas da visita à Índia o uso da energia nuclear e a indicação do novo presidente do Fundo Monetário Internacional (FMI) – questões que dividem os dois países.
A chanceler federal alemã também quer promover os aviões de caça europeus. O consórcio do Eurofighter, formado por Alemanha, Reino Unido, Espanha e Itália, espera assinar um contrato de 7 bilhões de euros com a Força Aérea indiana para a compra de 126 aviões.
A Alemanha é o maior parceiro comercial da Índia na Europa. Os negócios entre os dois países alcançaram 15,4 bilhões de euros no ano passado – e a expectativa é de que até o ano que vem eles cheguem a 20 bilhões de euros.
MS/dapd/dpa/rts/afp
Revisão: Roselaine Wandscheer