Isolée: o gênio do sintetizador
16 de janeiro de 2006Aberta temporada de caça ao superstar
O ano de 2006 mal começou e telespectadores da Alemanha inteira já estão sendo novamente bombardeados com a terceira série do programa de auditório Deutschland sucht den Superstar, no qual empolgados votam via telefone em seus candidatos prediletos a superstar.
Como de costume, jovens cantores se submetem aos ânimos de um júri arrogante e insolente, comandado pela ofuscada estrela Dieter Bohlen, da banda Modern Talking – um resquício dos anos 80 que os alemães resistem em esquecer. Todos? Não! Um corajoso participante se recusou a baixar a cabeça e acusou a direção do canal RTL de manipular a decisão do público através de truques de câmera.
Além disso, Nevio Passaro, de 26 anos, acusa os jurados de elogiar candidatos que teriam cantado tecnicamente mal, enquanto a direção teria dado uma mãozinha a certos participantes de voz fraca, alterando o volume dos microfones. Passaro dá exemplos: enquanto o apresentador incitava "Ligue agora, duas candidatas terão de deixar o programa ainda hoje", a direção exibia imagens de suas indesejadas. O canal nega as acusações.
Dos bastidores da história
Todo mundo já sabe tudo sobre os Beatles, ou pelo menos acha que sabe, certo? Horst Fascher acredita saber um pouco mais. Às vésperas de completar seus 70 anos de idade, o fundador do lendário Star Club de Hamburgo – na época, campeão alemão de box na categoria peso-pena, uma das muitas profissões que teve – reuniu em sua autobiografia as lembranças dos bons tempos da casa.
Após sua inauguração em 13 de abril de 1962, o Star Club recebeu estrelas internacionais como Chuck Berry, Jerry Lee Lewis, Little Richard e Ray Charles, além dos quatro rapazes de Liverpool, na época tão iniciantes quanto desconhecidos. Em Let the good times roll!, o autor promete contar detalhes dos bastidores da casa e de seus nobres visitantes sem enrolar a língua. E antecipa que os Beatles eram tudo, menos comportados.
Dance music de luto
A dance music alemã perdeu o que era considerado um de seus grandes nomes, ao lado de Sven Väth e Westbam. Na manhã de 11 de janeiro, o DJ e produtor alemão Markus Löffel, conhecido como Mark Spoon e figura carimbada para fãs da Love Parade, foi encontrado morto em seu apartamento em Berlim. A causa de sua morte permanece incerta até agora, embora acredite-se que ele tenha sofrido um infarto.
Nos anos 90, Spoon esteve envolvido em projetos que alcançaram sucesso internacional, como o Snap! (The Power, Ooops Up!). Também foi ele quem descobriu e lançou o músico Dr. Alban (Sing Hallelujah!). Ele próprio tornou-se famoso ao lado do colega Rolf Ellmer, conhecido pelo codinome Jam El Mar, com quem criou o duo Jam & Spoon.
Leia na próxima página sobre o novo álbum de Isolée.
As impressões de uma primeira audição de Isolée são difíceis de transcrever em palavras. Não é fácil abordar seu processo criativo, assim como é difícil reconhecer o que é que torna sua música tão irresistível.
Música eletrônica que não é feita para dançar, mas que é perfeitamente adaptável à pista de dança? Ou antes um som dançante que se adapta perfeitamente a momentos contemplativos? Claro que este velho paradoxo da crítica musical já deve ter enchido o saco até de leitores menos sensíveis, mas sem ele não se consegue chegar a lugar algum se o assunto é Isolée.
Imprevisivelmente genial
Desde o lançamento do álbum de estréia Rest, em 2000, Isolée vem sendo endeusado por ouvintes do mundo todo como um dos grandes da cena mundial. Na época, o hit Beau Mot Plage virou trilha sonora do verão e hoje é tida por críticos e ouvintes como um clássico do gênero, com lugar de honra na história da música eletrônica.
E tudo isso aconteceu sem que Raiko Müller, o gênio por trás do nome, quisesse, ou sem que ele ao menos pudesse prever. Para muitos, essa é a razão da demora de cinco anos para que ele voltasse e gravasse um novo álbum.
Digitalizando as ondas
Müller nasceu na cidade de Frankfurt, mas mudou-se aos sete anos com os pais para a Argélia, onde viveu até completar 12 anos. De volta à cidade natal, enveredou-se pela então ativíssima cena de synth pop, à qual eram enquadradas bandas de sucesso como Depeche Mode e Human League.
Ele logo se equipou com um sintetizador e uma bateria eletrônica mas, com a decadência do estilo no final dos anos 80, preferiu seguir tendências mais alternativas até se familiarizar com tecno e similares. Suas primeiras faixas chegaram através de um amigo aos ouvidos especializados da gravadora Playhouse, que resolveu dar ao novato uma chance.
Seus primeiros trabalhos conquistaram pela leveza com que transformam, por exemplo, melodias latinas típicas da bossa nova em música dance sintética e metálica sem que isso soasse frio (Beau Mot Plage). Com o álbum Rest, ele compôs um trabalho do qual as pessoas se lembram com prazer mesmo passados muitos anos. E isso num gênero musical que já foi tarjado de "impessoal", entre outros xingamentos.
De anjos e monstros
Em We Are Monsters, Isolée repetiu a proeza. Como definiu a revista alemã Spex, Isolée faz "música de possibilidades, que escapa de qualquer rotulação. Tudo pode ser, nada tem que ser, quando se toca Isolée. Pode-se dançar, mas não é necessário dançar, todas as faixas funcionam perfeitamente em casa".
Isolée soa moderno e penetrante como muitas composições de minimal house europeu, com linhas de baixo influenciadas por funk e soul, muitas vezes de tirar o fôlego como a boa e velha disco music (My Hi-Matic) e sem medo de abusar de efeitos psicodélicos – como ecos e guitarras (Today) – ou de outros mais herméticos ou orgânicos (Enrico).
Da pista pro sofá, do sofá pra pista – é tudo uma questão de volume.
O vencedor do CD Unausgesprochen, de Annett Louisan, sorteado por esta coluna no mês passado, é Vinícius Augusto Andrioli, de Porto Alegre (RS). O CD de Tom Albrecht saiu para Rafael Rodrigues, de Sorocaba (SP). Não se preocupem, vocês serão avisados por e-mail e receberão o prêmio no endereço fornecido.