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Israelenses se acostumaram a viver sob clima de ameaças

Tania Krämer (sv)27 de maio de 2013

Por temer que Irã se arme com bomba nuclear, Israel já ameaçou várias vezes com ataque preventivo. A população israelense reage com um misto de preocupação e serenidade.

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Foto: picture alliance/landov

"O que tiver que ser, será", diz Alon Tuval, jornalista de Jerusalém. Aos 47 anos, ele já passou por diversos períodos de crise em Israel e se preocupa há anos, como toda a população do país, com a ameaça nuclear iraniana. "Por um lado, não quero enlouquecer à toa, pois não posso imaginar que Israel ataque o Irã sozinho. Mas preocupações e dúvidas a gente tem sempre", diz o jornalista, que é pai de dois filhos.

Todo israelense tem na memória a aparição do premiê israelense, Benjamin Netanyahu, perante a Assembleia Geral das Nações Unidas em setembro do ano passado. Enquanto discursava, ele tirou do bolso um desenho semelhante a uma história em quadrinhos, com imagens de uma bomba. E desenhou em cima, com uma caneta vermelha, a chamada "linha vermelha".

Netanyahu alertou a comunidade internacional que o Irã deveria ser detido a qualquer custo de atingir a última etapa do enriquecimento de urânio. Se isso acontecer, disse o premiê israelense, o Irã poderá fabricar a bomba atômica em questão de semanas ou meses. Na época, Netanyahu afirmou que até meados de 2013 isso poderia ocorrer. Neste ínterim, o governo israelense ameaçou Teerã diversas vezes com ataques preventivos contra usinas nucleares iranianas.

Agora, passados alguns meses, mídia e especialistas continuam especulando se a tal "linha vermelha" teria sido, de fato, atingida. "Os israelenses ainda poderão dormir tranquilos durante dois meses", descreveu em abril Amos Yadlin, diretor do serviço secreto militar israelense, em uma conferência de segurança realizada em Tel Aviv.

Benjamin Netanjahu UN Vollversammlung
Benjamin Netanyahu na Assembleia da ONU: 'linha vermelha'Foto: Getty Images

Em Israel, a maioria das pessoas já se acostumou a comentários do gênero e as atenções da população acabam se voltando mais para assuntos de política interna do que para essa questão. Quando são realizadas enquetes sobre os interesses da população, o tema Irã aparece bem abaixo dos assuntos de ordem social. E a maioria dos israelenses rejeita um ataque militar unilateral ao Irã por parte de Israel, ou seja, sem o apoio dos EUA.

Ameaça constante

Num posto de distribuição de máscaras de gás, localizado no porão de um centro comercial de Jerusalém, não se pode perceber, pelo menos até agora, nenhum sinal de pânico. "Quero ter tudo de mais novo", fala Yaki, ex-soldado de uma unidade de elite, que levou cinco kits de máscaras de gás para sua família.

Esses kits são distribuídos gratuitamente perante a apresentação da carteira de identidade. "De certa forma, tem-se a sensação de que em pouco tempo alguma coisa pode acontecer, mas não se sabe se por parte do Irã ou da Síria. Essa ameaça constante é algo com o qual nós, em Israel, já nos acostumamos. É para isso que temos um Exército forte", fala o ex-soldado de 50 anos com confiança.

O posto de distribuição de máscaras, organizado pelos correios do país, encontra-se em pleno funcionamento, mas com movimento normal, diz um funcionário. As pessoas só querem estar preparadas, relatam os funcionários. Assim também pensa Rinat, uma jovem mãe de Jerusalém. "Tenho mais preocupações no momento em relação à Síria. Por isso fui buscar hoje as máscaras de gás", disse a jovem enquanto pegava seu kit.

Conflito na Síria: cada vez mais próximo

No entanto, é o conflito na vizinha Síria que define, no momento, as manchetes em Israel. "Na mídia, mas também para o governo, o problema mais urgente é obviamente a Síria", fala Meir Javedanfar, especialista em questões ligadas ao Irã no Centro Interdisciplinar de Pesquisa em Herzliya. Por outro lado, o governo israelense, sobretudo o premiê Netanyahu, conseguiu manter o problema do programa nuclear iraniano entre as prioridades da comunidade internacional.

"Acredito que depois da visita do presidente Barack Obama a Israel, vá haver mais confiança, principalmente por parte do governo israelense, de que Obama está falando sério quando diz que quer impedir o Irã de se tornar uma potência nuclear", completa Javedanfar. Os EUA também não excluem a possibilidade de um ataque militar como última medida, embora insistam em esgotar antes disso todas as possibilidades diplomáticas.

Quando assumiu o cargo, o novo secretário norte-americano da Defesa, Chuck Hagel, selou com Israel um amplo acordo armamentista. Especialistas avaliam que o fornecimento de aviões de abastecimento e de carga, bem como de mísseis, são um claro sinal de que os EUA querem preparar seus parceiros para o caso de um conflito.

Baixa expectativa em relação às eleições no Irã

É claro que as atenções em Israel também se voltam para as eleições no Irã, mesmo que os especialistas não nutram muitas expectativas em relação ao pleito. "O nome do próximo presidente será determinado pelo líder supremo, Ali Khamenei, junto com outros órgãos não democráticos, como a Guarda Revolucionária.

Bilder Iran-Special / Artikel Israel
Alon Tuval: por via das dúvidas, máscaras de gás para toda a famíliaFoto: DW/Tania Krämer

"Essa escolha irá mostrar se o país se abrirá para um acordo ou se quer manter o status quo", diz o especialista Javedanfar. "Caso o escolhido seja um reformista, podemos contar com mudanças. Se for um candidato conservador como Saeed Jalili, pode-se partir do princípio de que nada vai mudar", conclui.

Também o jornalista Alon Tuval foi buscar sua máscara de gás. "Pelo menos elas são gratuitas. Essa é certamente uma das razões pelas quais muita gente vem buscá-las", brinca ele, ao lembrar que em 1991, durante a Guerra do Golfo, mísseis iraquianos Scud caíram sobre Tel Aviv.

"Naquela época, eles nos deram máscaras de gás e falaram que deveríamos colocar toalhas molhadas debaixo das portas, para que o gás venenoso não pudesse entrar. Hoje sabe-se que isso é uma estupidez", relata Tuval.

"É claro que desta vez tentarei me preparar melhor para uma situação de emergência. Mas, no caso de um conflito com o Irã, a situação seria muito diferente. E, honestamente: como é que a pessoa pode se preparar para uma coisa dessas?", questiona.