Itália anuncia retirada das tropas do Iraque
31 de maio de 2006"A Guerra do Iraque foi um erro", afirmou o atual premiê italiano Romano Prodi em maio último, durante sua campanha eleitoral, quando prometeu que um governo italiano sob sua chefia retiraria as tropas de seu país estacionadas no Iraque.
Prodi ganhou as eleições parlamentares e o que havia prometido foi cumprido. Na semana passada, o novo chefe de governo anunciou a retirada completa, até o final deste ano, da tropa de 2700 italianos estacionados no Iraque. Os primeiros 1100 soldados já devem estar voltando em junho para casa.
A retirada das tropas italianas, até o final deste ano, marca também a partida de mais um dos membros da chamada "coalizão dos dispostos", termo utilizado pelo presidente George W. Bush para indicar os países que apoiaram a invasão do Iraque.
Cada vez menos dispostos
Antes da Itália, a Coréia do Sul já havia anunciado a redução de mil soldados em seu contingente, que deverá contar, até o final do ano, com 2200 soldados. Os primeiros 40 coreanos já foram embora há três semanas.
Tanto em Seul como em Roma foi enfatizado que as retiradas foram planejadas em estreita cooperação com ingleses e norte-americanos, porém a mensagem é clara: a intervenção militar no Iraque deverá acabar o mais breve possível.
Encontram-se no Iraque, atualmente, cerca de 130 mil soldados americanos e 19 mil de outras nações, dos quais 7,2 mil da Grã-Bretanha, 1,5 mil da Polônia, 1,3 mil da Austrália. Romênia e Geórgia estão presentes com respectivamente 850 homens.
Após a retirada de tropas relativamente representativas, como a de búlgaros e ucranianos, há seis meses, a decisão coreana e italiana marca a derrocada longa e contínua da "coalizão dos dispostos".
Cresce pressão sobre Bush e Blair
O sumiço dos aliados não é o único motivo pelo qual cresce a pressão para que Bush e o primeiro-ministro britânico Tony Blair apresentem, pelo menos, um cronograma para a partida de suas tropas do Iraque.
Além de uma série de escândalos políticos internos, a posição intransigente de Blair de não retirar as tropas britânicas do Iraque provocou o debacle do seu Partido Trabalhista nas eleições parlamentares de maio passado.
Nos Estados Unidos, a publicação das fotos de prisioneiros torturados na prisão americana de Abu Ghraib e a recente divulgação do massacre, por parte de soldados americanos, de 24 civis iraquianos em novembro último, deverão acirrar ainda mais a pressão.
O governo de Bagdá exige a retirada
Em novembro próximo, haverá eleição de cerca de um terço de novos senadores para o Congresso americano. Benjamin Schreer, pesquisador do Grupo de Estudos de Política de Segurança da Fundação Ciência e Política de Berlim, afirma não esperar que a oposição democrata utilize a ocupação no Iraque como tema de campanha eleitoral.
"Fugir do problema não poderá ser utilizado pelos políticos norte-americanos como solução do problema. Os custos provocados por esta ocupação deverão todavia forçar o governo a apresentar um cronograma de retirada", afirma o pesquisador.
Pressão também surge do lado do governo iraquiano, cujo novo premiê eleito, Nouri al Maliki, declarou que seu país planeja retomar, em um prazo de 18 meses, o controle total sobre a segurança da nação. Um prazo que, devido à constante violência, deixa observadores internacionais bastante céticos.
Apesar de Estados Unidos e Reino Unido ainda não terem anunciado plano nenhum de saída de tropas do Iraque, a decisão italiana dá um bom empurrão na tendência de retirada. É uma decisão também motivada pelos ataques de tropas americanas a cidadãos italianos no Iraque, como ao carro onde estava a jornalista Giuliana Sgrena em março de 2005, quando morreu um oficial da inteligência italiana que a acompanhava.
A partida dos italianos agrada a muitos, mas com certeza pouco aos soldados italianos a serem retirados do Iraque, que votaram, em sua grande maioria, em Berlusconi.