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Itália tenta evitar nova crise em eleição para presidente

Megan Williams, Roma (md)29 de janeiro de 2015

Após fracasso de 2013, premiê Matteo Renzi pede que correligionários não errem desta vez. Mas seu partido continua tão dividido como na época, e bancada pró-Berlusconi pode decidir votação.

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Foto: Reuters

Como na maioria dos desafios políticos de Matteo Renzi, premiê italiano de 40 anos, a oposição às suas opções para o próximo presidente do país não deve vir de seus rivais, mas de seus supostos aliados. A votação para presidente da República na Itália geralmente é uma provação árdua, que tem produzido resultados imprevisíveis e fracassos.

Nesta quinta-feira (29/01), os "grandes eleitores" da Itália – mais de mil legisladores de ambas as casas do Parlamento, assim como delegados regionais – começam a fazer suas votações secretas para escolher o próximo presidente do país. Pela necessidade de uma maioria de dois terços nas três primeiras rodadas de votação, observadores não esperam que o processo se encerre antes do início da próxima semana.

Decisão rápida improvável

Não há um claro favorito para substituir Giorgio Napolitano, que, aos 89 anos, renunciou durante seu segundo mandato. Em abril de 2013, ele concordou, relutante, em permanecer interinamente por mais uma gestão, após uma série de votações no Parlamento fracassarem na definição de um novo presidente. Na época, os candidatos Romano Prodi e Franco Marini, ambos do Partido Democrático (PD) de Renzi, não conseguiram votos suficientes.

Em seu discurso de aceitação, Napolitano deu uma bronca nos legisladores, chamando-os de surdos, incoerentes e irresponsáveis. Em uma exibição impressionante de disfunção política, eles aplaudiram.

Esse é um fiasco que Renzi não quer ver repetido, advertindo os parlamentares do PD que eles "não podem errar" novamente.

O PD continua tão dividido como era na época. Os membros da legenda no Parlamento foram eleitos antes de Renzi ter chegado à liderança do partido e, em seguida, se tornar primeiro-ministro. Muitos deles consideram Renzi um arrivista politicamente suspeito, que compartilha mais pontos em comum com a centro-direita da Forza Italia, de Silvio Berlusconi, do que com as raízes de esquerda de seu partido.

"O que vai fazer desta eleição algo interessante de se assistir", considera Daniele de Bernardin, da ONG especializada em monitoramento do sistema político Openpolis, "é que, de um lado, você tem um líder muito forte, mas por outro, você tem alguém sem muito poder para decidir quem será o novo presidente".

Sem acordo com o diabo

A disposição de Renzi para cooperar com o polêmico Berlusconi, que, para a esquerda da Itália, passou a simbolizar tudo o que ela considera as maiores ameaças políticas para o país, só tem aumentado os temores em seu partido.

Ano passado, os dois políticos fizeram um acordo conhecido como o Pacto Nazareno, no qual Berlusconi prometeu seu apoio para uma nova lei eleitoral, que acabou de ser aprovada no Senado, assim como para uma reforma política e trabalhista.

Nesta semana, depois de duas horas de reunião a portas fechadas para debater possíveis candidatos presidenciais com Berlusconi, Renzi assegurou aos senadores do PD que ele não havia feito um "pacto com o diabo". Apesar de Berlusconi insistir em vetar qualquer candidato com uma história de "ativismo de esquerda", Renzi disse que não aceitaria vetos do grupo de centro-direita da oposição nem ser coagido a aceitar o seu candidato.

O Movimento Cinco Estrelas, liderado pelo comediante que virou ativista político Beppe Grillo, se recusou a se reunir com Renzi, alegando ser evidente que ele e Berlusconi haviam feito um acordo para decidir eles mesmos. Em um esforço para inviabilizar o suposto acordo, o Movimento Cinco Estrelas apresentou dez candidatos em que seus membros votarão.

Os nomes incluem principalmente políticos da esquerda idosos e do sexo masculino, como os ex-líderes do PD Pier Luigi Bersani e Romano Prodi. Renzi mais tarde encontrou-se com dez legisladores do movimento de Grillo que desertaram, reclamando das tendências autoritárias do comediante e de sua recusa em cooperar com outros partidos.

Papel do presidente

Além das lutas internas e das políticas partidárias, grande parte da dificuldade dos parlamentares italianos de escolher um novo presidente nos últimos anos também se deve às funções do cargo, que mudaram ultimamente.

De Bernardin diz que, até recentemente, o presidente tinha principalmente um papel de observação, para garantir que os partidos políticos respeitassem a Constituição. No entanto, desde a saída clamorosa de Berlusconi do cargo de primeiro-ministro, no final de 2011, e a crise econômica da zona do euro, o papel político do presidente cresceu. Enquanto uma série de governos de coalizão era sendo formada e logo caía, muitas vezes era o presidente que proporcionava ao país uma forma de estabilidade.

A rodada crucial da votação provavelmente será a quarta, no sábado. Será quando passará a ser necessária a maioria simples para se eleger o novo chefe de Estado – 505 dos 1009 votos.

Para os três primeiros turnos, quando é necessária uma maioria de dois terços, Renzi disse que deve orientar seus partidários a votar em branco para se poupar do trabalho de tentar convencer os partidos menores a apoiar seu candidato.

Até o momento, esse candidato parece ser o juiz constitucional de centro-esquerda Sergio Mattarella, um homem conhecido por seu comportamento frio e sua oposição a Berlusconi, que agora pode vir a ser um obstáculo intransponível para a sua eleição.

Mas a pesquisadora política De Bernardin diz que há um obstáculo ainda maior. "Chame isso de superstição, mas o nome mais falado pelas pessoas antes da eleição nunca se torna presidente."