Janet Yellen sinaliza continuidade da política monetária no Fed
10 de outubro de 2013Para os mercados financeiros, ser chefe do banco central americano, o Federal Reserve, é possivelmente o cargo mais importante que existte. É o Fed que estipula a taxa de juros do dólar, e codetermina de forma decisiva quanto dinheiro está disponível nos mercados. Trata-se, portanto, de um cargo de grande poder – e de responsabilidade ainda maior.
A economista Janet Yellen deverá em breve se tornar a primeira mulher a assumir a presidência do Fed, nos quase 100 anos de história da instituição. A indicação de seu nome levou alguns jornalistas a exaltar a nova força feminina no mundo financeiro. A agência de notícias DPA efiniu Yellen, a presidente do FMI, Christine Lagarde, e a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, como "três mulheres que movem mercados".
Isso até pode ser verdade, mas não é relevante. Afinal, há mais de três anos Yellen é vice-presidente do Fed e, consequentemente, principal representante da política do atual presidente, Ben Bernanke.
Mais do mesmo
"A sra. Yellen claramente apoia a política monetária que o Fed vem promovendo há alguns anos", afirma Nils Jannsen, analista da conjuntura econômica americana no Instituto de Economia Mundial da Universidade de Kiel. "Portanto, ela é por uma política monetária bastante expansiva, focada principalmente no desenvolvimento do mercado de trabalho."
No jargão dos mercados financeiros, quem confere importância especial ao combate ao desemprego é chamado de "pomba". Já quem se dedica à luta contra a inflação, é um "falcão". Essas denominações independem do gênero masculino ou feminino. Ben Bernake também é uma "pomba".
Em contraste com o antigo Bundesbank– que vigiava a estabilidade do marco alemão – e o Banco Central Europeu, o Fed não está comprometido apenas com a estabilidade da moeda. "O Fed cumpre um duplo mandato", explica Diemar Rieg, diretor executivo da Câmara de Comércio Alemanha-Estados Unidos, em Nova York. "Ele deve cuidar tanto da estabilidade dos preços quanto do pleno emprego." Uma vez que, com 7,3%, a taxa de desemprego anda relativamente alta para os EUA, Rieg não conta que o Fed vá mudar sua política monetária "num futuro próximo".
Onde pombas e falcões se encontram
De qualquer modo, a política monetária do banco central americano não é definida pelo presidente da instituição, mas pelos membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês), formado por sete governadores do Fed e cinco presidentes de suas sucursais regionais. São eles que decidem o valor dos juros e decidem sobre ações como a compra de títulos em massa, para abastecer o mercado com capital.
Na qualidade de vice-presidente do Fed e, anteriormente, de presidente da sede regional da instituição em San Francisco, Janet Yellen é, desde 2009, membro votante do FOMC, onde, lado a lado com muitos "pombos", sentam alguns "falcões". Estes desejam abandonar o mais rápido possível a política do dinheiro barato.
"As vozes críticas se multiplicam no Comitê de Mercado Aberto", explica Nils Janssen. "Entretanto, a indicação de Janet Yellen é um claro sinal de que a saída [da política de dinheiro barato] não deverá ocorrer tão cedo."
Política de empregos é o maior objetivo
Assim, a boa recepção dos mercados à indicação de Yellen não chega a ser surpreendente. Afinal, o capital a baixos juros anima as cotações das bolsas de valores. Mas também é certo que, caso se torne chefe do Fed, a certa altura ela terá que promover a mudança da política monetária, antecipa Gertrud Traud, economista-chefe do Helaba, banco estadual de Hessen-Turíngia. "Yellen tenderá a trilhar esse caminho de forma bastante cautelosa, para se assegurar que a conjuntura e a criação de empregos não sejam sufocadas."
O Senado americano, onde o Partido Democrata possui ampla maioria, deverá aprovar sem sobressaltos a indicação de Yellen pelo presidente Barack Obama. Aqui, o resultado parece seguro, ao contrário da Casa dos Representantes.
Não há dúvidas sobre a capacidade profissional de Yellen. Antes de ser vice do Fed, a economista de 67 anos lecionou em diversas universidades de prestígio nos EUA, foi consultora do presidente Bill Clinton e presidiu o Fed em San Francisco. E é bem possível até que, após cada dia de trabalho, ela siga discutindo sobre questões econômicas, pois é casada com George Akerlof, Prêmio Nobel de Economia de 2001.