Greve de fome
10 de março de 2010Guillermo Fariñas recusou a oferta da Espanha, que ofereceu asilo político em troca da suspensão da greve de fome. Há duas semanas, o jornalista cubano de 48 anos deu início ao protesto para pedir a libertação de 26 presos políticos doentes. Em 2006, ele já havia feito uma greve de fome de sete meses contra a censura na internet.
Em conversa com a Deutsche Welle, Fariñas diz que a Espanha não está fazendo o suficiente para pressionar Cuba e disse que a morte de Orlando Zapata Tamayo – e a sua – pressionarão Cuba a fazer algo em matéria de direitos humanos.
Deutsche Welle: Como o senhor se sente?
Guilermo Fariñas: Bem, já um pouco abatido, estou já com a pressão baixa, à noite ela estava a 100/70. Agora estou tomando banho... já tenho dobras no abdômen e a dor de cabeça é constante.
Esta não é a primeira vez que o senhor faz greve de fome. Está sendo mais difícil?
Não, não, depois que alguém passa um, dois ou três dias em greve de fome, já perde totalmente a necessidade de comer. É uma greve como outras. O que me parece é que esta vai ser a última, visto que o diário Granma, em 8 de março, publicou um artigo em que seus últimos parágrafos indiscutivelmente são um epitáfio a respeito de minha greve.
Pode estar sacrificando a sua vida por algo que o regime não vai conceder?
Eu estou entregando a minha vida pela liberdade dos meus irmãos de luta que estão muito doentes, e porque quero que sobre minha consciência não recaia que não fiz todo o possível, inclusive entregar a minha vida para que eles obtenham a liberdade.
O senhor acredita que a Espanha, que preside a União Europeia, esteja fazendo o suficiente?
Penso que não está fazendo o suficiente porque acredito que, com duas mortes consecutivas, a de um opositor ao regime na prisão (Orlando Zapata Tamayo) e de um opositor livre, a opinião pública internacional, os governos e parlamentos do mundo não terão outra saída se não condenar Cuba e colocá-la numa posição em que o país tenha que começar a fazer algo sobre os direitos humanos.
Que futuro você deseja para Cuba?
Para meu país, eu gostaria de um futuro de transição, sem nenhum tipo de situação sangrenta e um desenvolvimento de acordo com os países mais desenvolvidos do hemisfério. E, sobretudo, liberdades políticas, econômicas e sociais para todos os cubanos, essa é a base da prosperidade em qualquer parte do mundo.
Quais são suas exigências aos irmãos Castro?
Não se pode falar de exigências. Eu estou fazendo um pedido, eu peço que façam um gesto de boa vontade. Se Raul Castro não foi hipócrita quando disse que lamentava a morte de um preso político cubano e para que não tenha que lamentar as mortes de outros 26 que se encontram em estado muito grave de saúde, eu peço que, por favor, os coloquem em liberdade. Não estou exigindo que entreguem o poder, não estou exigindo que o Partido Comunista deixe de ser o partido hegemônico dentro de Cuba. Simplesmente estou pedindo que faça um gesto de boa vontade.
Há algo que o senhor gostaria de comentar?
Em nosso hino nacional, há uma frase que me ensinaram desde que eu era criança. Diz que morrer pela pátria é viver. Por mais que eu morra, viverei na memória de meu povo, que é o importante. Também me ensinaram – minha mãe, meu pai, que já são falecidos, meus avós –, que acima de qualquer amor está o amor à pátria e eu estou colocando nesses momentos o amor à pátria acima de qualquer outro amor.
Autora: Eva Usi (np)
Revisão: Roselaine Wandscheer