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Jovens alemães mais solitários desde pandemia, diz estudo

30 de maio de 2024

Pesquisa mostra que no país taxa ainda não voltou aos níveis de antes de 2020. Problema, que para a OMS é questão de saúde pública, também afeta desproporcionalmente desempregados, imigrantes e mães e pais solo.

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Homem solitário sentado em banco diante de canal em cidade
Solidão na Alemanha afeta mais doentes crônicos, desempregados, refugiados, imigrantes, pais solo e solteirosFoto: Wirestock/IMAGO

Na Alemanha, a economia se recuperou mais rapidamente da pandemia de covid-19 do que as pessoas, especialmente os jovens de 18 a 29 anos: embora eles não sejam o grupo demográfico que mais sofre com a solidão, a taxa dos que dizem se sentir sozinhos (14,1%) ainda não voltou aos níveis pré-pandemia.

A conclusão é de um estudo inédito apresentado nesta quinta-feira (30/05) pelo governo alemão, intitulado Einsamkeitsbarometer (Barômetro da Solidão), que revelou ainda que o problema afeta desproporcionalmente doentes crônicos (60,7%), desempregados (26%), refugiados (24,8%) e imigrantes (16,3%), mães e pais solo (16,4%), além de solteiros (14,8%).

Os dados abrangem o período de 1992 a 2021, segundo ano da pandemia, quando muitas das restrições de contatos sociais já haviam sido relaxadas, e mostram que a chegada do vírus reverteu uma tendência histórica de queda nas taxas de solidão entre a população geral: de 7,6%, em 2017, a 28,2% em 2020 e 11,3% em 2021.

Os grupos mais afetados

Em 2021, 16,4% dos pais solteiros sofriam de solidão, enquanto esse índice em lares sem menores de idade era de 10,5%. Essa distância de cerca de seis pontos percentuais se manteve em levantamentos anteriores, nos anos de 2020, 2017 e 2013.

Índice semelhante é apresentado por pessoas acima de 18 anos que migraram para a Alemanha: 16,3%, contra 9,9% da população nativa.

Por que a Alemanha trata a solidão como uma ameaça ao país

O problema também é mais comum entre mulheres do que homens e se intensificou no primeiro ano de pandemia, atingindo uma em cada três mulheres contra menos de um em cada quatro homens, e baixando a 12,8% e 9,8%, respectivamente, em 2021.

Pandemia agravou solidão entre os jovens

Se consideradas apenas as faixas etárias dos entrevistados, jovens com idade entre 18 e 29 anos são os mais solitários. Entre eles, esse índice em 2021 foi de 14,1%, mas em 2020, primeiro ano da pandemia, chegou a 31,8% – bem acima dos 22,8% registrados por idosos acima de 75 anos em 2020, taxa que recuou a 10,2% em 2021.

Na quarta, um outro estudo, do Instituto Federal de Pesquisas Demográficas (BiB, na sigla em alemão), já havia apontado que, desde a pandemia, a solidão tornou-se um problema comum entre pessoas com menos de 30 anos, e que o fim das restrições de contato levou a uma "recuperação social" limitada.

"Na fase pós-pandêmica, a solidão persiste em um nível elevado – há uma tendência à cronicidade", disse Sabine Diabaté, pesquisadora do BiB.

Ao contrário do "Barômetro da Solidão", que considera apenas o período até 2021, o estudo do BiB também abrange o inverno de 2022-2023, período em que já não havia mais nenhuma restrição pandêmica.

Diretor do Instituto de Assistência e Pedagogia Social e um dos pesquisadores responsáveis pelo estudo divulgado nesta quinta, Benjamin Landes diz que a pandemia provocou um pico de solidão do qual os mais velhos se recuperaram melhor.

Antes da pandemia, porém, idosos acima de 75 anos costumavam ser os mais afetados em comparação com as demais faixas etárias, mas a diferença vinha caindo.

Solidão reduz confiança na democracia

O "Barômetro da Solidão" também corrobora a relação apontada por outras pesquisas entre solidão e democracia: pessoas solitárias votam menos e acreditam menos no Estado de direito, na polícia e nos políticos, além de acreditarem com mais frequência em teorias da conspiração. Isso porque, segundo Landes, elas tendem a desconfiar com mais frequência de seu entorno, o que por sua vez leva à erosão da confiança nas instituições democráticas.

Assunto é questão de saúde, mas ainda é tabu

Dados mais atuais só serão divulgados no ano que vem, mas, para a ministra alemã da Família, Lisa Paus, está claro que o assunto é um tabu na sociedade – "talvez a maior doença" no país, segundo a Fundação para Proteção do Paciente, grupo que representa interesses de doentes graves.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a solidão compromete a saúde mental e psíquica, a qualidade de vida e a longevidade das pessoas. Seus efeitos sobre a mortalidade são comparáveis aos de outros fatores de risco amplamente conhecidos pela ciência, como o tabagismo, a obesidade e o sedentarismo.

O governo, agora, quer enfrentar o problema com campanhas de sensibilização e gastos de 70 milhões de euros (R$ 394,8 milhões) até 2027.

ra/md (AFP, dpa, epd, ots)