Jovens alemães negligenciam Aids
1 de dezembro de 2004Mesmo 20 anos depois de seu surgimento, a Síndrome da Imunodeficiência Adquirida, mais conhecida pela sigla de seu nome em inglês − Aids − ou pela abreviatura do nome do vírus − HIV −, continua uma doença sem perspectiva de cura.
Além disso, embora o número de soropositivos ou vítimas da doença cresça de forma geométrica e já ameace um continente inteiro, a sociedade parece ter aprendido a conviver com o mal. Afinal, a indústria farmacêutica fatura milhões com terapias que prolongam a sobrevida dos pacientes, "suavizando" o sofrimento das vítimas e seus familiares.
Agora, superado o choque inicial de 20 anos atrás, a negligência na prevenção parece aumentar. Ao menos é o que revelam os números publicados dia 19 último pelo Instituto Robert Koch, de Berlim, e pelo programa das Nações Unidas contra a Aids. Neste ano, já foram registradas cerca de duas mil novas infecções na Alemanha, das quais 1600 em homens.
Mulheres imigrantes cada vez mais atingidas
A forma mais comum de contaminação é o sexo entre homens (55%), seguida de pessoas vindas de regiões de risco (21%) e do contato sexual entre heterossexuais (15%). No ano passado, foram registradas no país cerca de 700 mortes por causa da doença, sendo que cerca de 43 mil pessoas estão contaminadas com o vírus ou manifestaram a doença.
Refletindo um quadro mundial, também na Alemanha mulheres e garotas, especialmente imigrantes, são cada vez mais atingidas. Mas se no mundo a cota de mulheres portadoras de HIV é de 50%, na Alemanha ela não chega à metade: 20%. Do total de pacientes com a doença no país, elas perfazem 13%, afirmou em Bonn Christoph Uleer, presidente da Fundação Alemã de Luta contra a Aids (Deutsche Aids-Stiftung), por ocasião do Dia Mundial de Combate à doença neste 1º de dezembro. Desde o início do ano, a fundação está apoiando com 100 mil euros o primeiro estudo clínico na Alemanha para testar uma vacina contra a Aids.
"Doença crônica tratável"
O que preocupa as autoridades sanitárias alemãs é que, embora 99% da população saiba que sexo desprotegido é arriscado, os preservativos são cada vez menos usados. Um estudo de longo prazo feito pela Central Alemã de Esclarecimentos sobre Saúde (Bundeszentrale für Gesundheitliche Aufklärung) revelou que, em 2003, a quantidade de pessoas sem parceiro sexual fixo que usa camisinha diminuiu para 78%. Dois anos antes ainda eram 83%.
O estudo mostrou ainda que 30% dos questionados vêem a Aids como uma das doenças mais graves conhecidas (em 1987, foram 60%). Uma das razões para isso é que a juventude de hoje, sejam homo ou heterossexuais, ainda não vivia quando a doença ficou conhecida há 20 anos.
"Aumentam os sinais de que a prevenção está diminuindo, principalmente entre os jovens", advertiu a ministra da Saúde, Ulla Schmidt. Médicos berlinenses já advertiram para o aumento de novas infecções entre pessoas com menos de 30 anos.
O avanço da medicina, com medicamentos que atrasam o desenvolvimento da doença e amenizam o sofrimento dos pacientes, leva a falsas interpretações entre a população. Ela se sente levada a pensar que a doença, embora crônica, seja tratável.
Esclarecimentos aos jovens
"É uma pena que não haja mais tanta propaganda de advertência na tevê. Naturalmente, trata-se de uma questão financeira. Mas isso leva os jovens hoje a pensar que o problema [da Aids] não os atinge", alerta Udo Kwaschnik, funcionário da ONG Aids-Hilfe. Ele atende cerca de 60 colégios da cidade de Colônia, prestando informações e aconselhamento. Desde 1987, o esclarecimento sobre a Aids é obrigatório aos alunos da 9ª ou 10ª classes. Estabelecimentos de ensino podem optar por enquadrar o tema às aulas de Biologia ou de Religião.
Por outro lado, o problema da Aids continua mobilizando vips e ONGs, que, principalmente no final do ano, procuram despertar potenciais doadores para suas campanhas e projetos assistenciais. À parte disso, a Agência Alemã de Cooperação Técnica (GTZ) desenvolveu para a Organização Mundial da Saúde (OMS) uma maneira prática de estimular a prevenção. Trata-se de uma página constantemente atualizada na internet, onde estão reunidas as experiências de vários anos na Alemanha, no Brasil, na Hungria e na Malásia. É a "toolkit" (caixa de ferramentas), voltada a organizações e iniciativas que trabalham com o esclarecimento de prostitutas, principalmente em países emergentes e em desenvolvimento.