Geração pós-reunificação
2 de outubro de 2010Frankfurt do Oder, cidade localizada no extremo leste da Alemanha, na fronteira com a Polônia, é sinônimo de altos índices de desemprego e decadência para os alemães do Oeste.
Os alunos da escola de ensino médio Karl-Liebknecht, na cidade, se irritam com esse tipo de preconceito. "Se alguém fala sobre nós, então é só sobre desempregados e extremistas de direita", reclama Florian Hundertmark, de 17 anos. "Assim não há como um morador do Oeste ter uma impressão legal daqui", completa.
Florian e seus colegas de escola, a princípio, gostam de onde vivem. Do outro lado do rio que divide a Alemanha da Polônia fica Slubice, uma pequena cidade polonesa. "Na verdade, daria para fazer coisas muito legais por aqui. Esse lugar é interessante", diz Jörn Himmstedt, um jovem de 16 anos, amigo de Florian, antes de lamentar o fato de que "todo mundo está indo embora daqui".
Cidade perdeu quase 30 mil habitantes
Quando os jovens de Frankfurt do Oder pensam na reunificação alemã ou na ex-Alemanha Ocidental, eles não pensam automaticamente em política ou história, mas sim no próprio futuro no mercado de trabalho.
O índice de desemprego no Leste do país, de 11,5%, é quase o dobro do registrado no Oeste. Em 1990, Frankfurt do Oder contabilizava um total de 88 mil habitantes; hoje, 20 anos mais tarde, 30 mil pessoas já deixaram a cidade.
Um destino a ser compartilhado também por Florian, Jörn e vários de seus amigos. A mudança para algum estado da antiga Alemanha Ocidental, no caso de Florian, vai acontecer porque o jovem escolheu um curso universitário – engenharia automotiva – que só existe do lado ocidental do país. "E olha que eu queria ficar aqui por perto", confessa.
Vinte anos depois da reunificação do país, as condições econômicas são o que ainda continua dividindo os jovens do Leste e do Oeste. "Não vivemos em uma Alemanha dividida. Ainda se ouve muito dizer que o Muro continua existindo nas cabeças das pessoas, mas penso que isso também já está acabando aos poucos", comenta Jörn, que, como seus colegas de escola, só conhece o país onde vive reunificado, por ter nascido depois da queda do Muro.
Grandes semelhanças, apesar de tudo
A banda preferida, o clube esportivo, férias na ilha de Maiorca: no que diz respeito à juventude alemã, é possível dizer que há grandes semelhanças entre as preferências e os costumes dos jovens do Leste e do Oeste. Segundo Thomas Gensicke, do Instituto de Pesquisa TNS Infratest, ao comparar-se a população de um lado e do outro, "os jovens são com certeza os que mais apresentam semelhanças".
Gensicke, que nasceu em Magdeburg, no Leste, e mudou-se para o Oeste depois da reunificação, transformou a própria história em tema de estudo. Apesar de todas as semelhanças, diz ele, ainda há algumas diferenças entre os dois lados.
Os jovens da ex-Alemanha Oriental, por exemplo, são mais céticos em relação ao sistema político que os do Oeste. "Quando perguntamos aos jovens se a democracia funciona bem no país, os que moram no Leste veem mais necessidade de reparos", analisa Gensicke. O "sistema", para esses jovens, é sinônimo de Alemanha Ocidental – uma referência relativamente nova para quem vive no lado oriental do país.
Felizes com a unidade
Essa postura crítica perante o sistema não leva, todavia, a uma rejeição do país reunificado de forma geral. "Achamos ótimo que haja essa unidade. Na então Alemanha Oriental havia muito cerceamento da liberdade, como por exemplo a proibição de sair do país", reflete Inka Sörries, hoje no 12° ano escolar.
Osten (leste), Westen (oeste), Ossis (moradores do leste), Wessis (moradores do oeste) – por mais normal que a vida após a reunificação seja, essas palavras estão presentes com frequência nas conversas em todas as regiões do país.
E o assombro frente ao desconhecimento de muitos Wessis a respeito do próprio país continua existindo: "Há dois anos, fiz um intercâmbio na França e conheci dois garotos da Baviera e de Hessen. Eles sabiam onde fica Frankfurt do Oder. Fiquei supresa", confessa Käthe Hahn, outra aluna do colégio Karl-Liebknecht.
Autor: Benjamin Hammer (sv)
Revisão: Alexandre Schossler