Juros baixos, altas expectativas
6 de junho de 2003Os especialistas em política monetária já esperavam a medida há algum tempo. O setor econômico e as autoridades políticas também vinham exercendo uma pressão velada pela queda dos juros. A questão chegou a ser aventada até mesmo durante a recente conferência de cúpula do G-8, no balneário francês Evian. Apesar disto, o Banco Central Europeu fez uso da sua autonomia de decisão e manteve a taxa de juros em 2,5% enquanto foi possível, a fim de evitar qualquer risco de inflação.
Na reunião semanal de quinta-feira (5/6), o conselho do BCE decidiu que a necessidade de fomento da conjuntura econômica é no momento maior que o risco inflacionário. E baixou a taxa guia do mercado financeiro em 0,5%. Com isto, os bancos comerciais podem buscar créditos a juros baixos no BCE, repassando tal capital a seus clientes. A queda dos juros nos empréstimos bancários anima então as empresas a novos investimentos, impulsionando os negócios de maneira geral.
Quadro básico
O quadro econômico e financeiro nos países do euro não apenas exigia tal medida de apoio à conjuntura, mas oferecia também os parâmetros de estabilidade que são condição prévia para uma redução dos juros. No mês de maio passado, a taxa anual de inflação (ou seja, a taxa acumulada dos doze últimos meses) foi de 1,9% na chamada zona do euro. Além disto, a cotação da moeda comum européia em relação ao dólar americano atingiu níveis recordes nas últimas semanas e continua mantendo a sua tendência de alta. Isto afeta a competitividade dos produtos europeus no mercado internacional.
Do ponto de vista da conjuntura econômica interna, uma medida de fomento tornava-se cada vez mais urgente. A desaceleração do crescimento é patente nas principais economias da zona do euro, algumas delas – como é o caso da Alemanha – estão à beira de uma recessão. A crise de consumo agrava ainda mais a situação, espalhando o fantasma de uma catastrófica deflação. Os mercados internos da zona do euro não podem oferecer assim uma compensação para as perdas registradas no comércio de exportação, em decorrência da alta cotação da moeda européia.
Efeito retardado
A medida adotada pelo Banco Central Europeu facilita ao setor econômico lograr um impulso conjuntural. Os bancos comerciais podem obter capital de baixo custo junto ao BCE, devendo repassá-lo às empresas e clientes privados sob a forma de empréstimos a juros baixos. Com o "dinheiro barato", as firmas têm melhor condição de investir no processo de produção e os consumidores são incentivados à aquisição financiada de bens de alto custo: por exemplo, imóveis ou veículos.
Tudo isto pode representar então um importante impulso inicial para o retorno a um sadio crescimento econômico. A medida, no entanto, não tem efeito imediato e sim retardado. Até que a redução dos juros se faça notar positivamente nos índices econômicos podem passar vários meses. Além disto, uma condição indispensável para que atinja seu objetivo é que os bancos comerciais repassem a redução dos juros do BCE a seus clientes. Isto nem sempre acontece. Em face da crise bancária, nota-se nos últimos tempos a tendência dos bancos em beneficiar-se da queda de juros, sem repassá-la aos clientes finais, visando sanear assim os seus próprios balanços.
Expectativas elevadas
Mas mesmo que os bancos repassem inteiramente a seus clientes o benefício recebido do BCE, a medida não pode ser considerada como a solução dos problemas conjunturais. O presidente do Banco Europeu Central, Wim Duisenberg, advertiu contra expectativas pouco realistas: "Nestas circunstâncias, é preciso ressaltar que a política monetária não pode garantir sozinha a criação de um crescimento duradoura e de aumento da ocupação na zona do euro."
Isto só pode ser alcançado através de reformas estruturais adequadas, por exemplo, no mercado de trabalho. Os pontos de debilidade econômica têm de ser solucionados, afirmou Duisenberg. Mas é preciso também manter a disciplina orçamentária, respeitando os limites do déficit público, advertiu.