Kadafi propõe armistício
30 de abril de 2011Anúncio
O ditador líbio, Muammar Kadafi, está disposto a negociar um armistício com a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), mas ao mesmo tempo não pretende renunciar ao poder, que ocupa há quase 42 anos. "A Líbia está disposta a aceitar um cessar-fogo, que não deve ser unilateral", disse Kadafi em pronunciamento exibido pela televisão estatal líbia nas primeiras horas deste sábado (30/04).
Muammar Kadafi exigiu que o acordo tivesse a participação de todas as partes envolvidas no conflito. "Estamos dispostos a negociar com a França e com os Estados Unidos, mas sem a imposição de condições. Não nos renderemos, mas os conclamo a negociar. Se querem petróleo, faremos acordos com as empresas de vocês. Não é necessário fazer uma guerra", disse Kadafi em seu discurso conciliador, que durou mais de 80 minutos.
O chefe de Estado líbio assegurou que seu povo não irá se render, caso as potências da Otan não estejam interessadas em conversar, e que os líbios estão dispostos a morrer para resistir aos ataques "terroristas". "Ninguém pode me obrigar a deixar meu país e ninguém pode me dizer que não devo lutar por meu país", acrescentou, dizendo que não ocupa uma posição à qual possa renunciar.
O Conselho Nacional de Transição, que reúne a oposição a Kadafi na Líbia, declarou este mês, no entanto, que só aceitaria uma trégua se Kadafi retirasse suas tropas de todas as cidades, se outorgasse maior liberdade aos líbios e se o ditador e seus filhos deixassem o poder. A Otan rejeitou a proposta de Kadafi. "Queremos ações em vez de palavras", disse um militar da aliança atlântica.
Novos ataques da aliança militar
Enquanto Kadafi falava na televisão, aviões de combate da Otan atacaram um complexo de prédios do governo em Trípoli, onde também funciona a tevê estatal. Isso foi visto pela imprensa oficial como uma tentativa de assassinar o ditador. Ofertas anteriores de cessar-fogo haviam fracassado porque os soldados de Kadafi continuaram lutando.
Na manhã deste sábado, prosseguiram os combates entre rebeldes e tropas leais a Kadafi no aeroporto da cidade portuária de Misrata, ocupada há sete semanas pelas forças de oposição e sitiada pelas tropas de Kadafi.
Nesta sexta-feira, navios de guerra da Otan interceptaram navios do regime Kadafi que pretendiam minar o porto de Misrata. A cidade está cercada por tropas do governo e só pode ser abastecida com alimentos e remédios a partir do mar. Kadafi teria mostrado mais uma vez que desrespeita o direito internacional ao atacar a ajuda humanitária, disse o general britânico na Otan Robert Weighill. Especialistas da Otan estariam removendo as minas, acrescentou.
Esta foi a primeira ação efetiva das embarcações da Otan enviadas à costa da Líbia para impedir que armas do exterior cheguem às tropas de Kadafi. Já teriam sido interceptados cerca de 700 navios e realizadas 20 abordagens, todas com resultados negativos em relação a armas a bordo, informou.
Bombas de fragmentação
Diversas ONGs e organizações humanitárias internacionais vêm tentando há semanas atenuar a situação em Misrata, que praticamente está sob estado de sítio. O Programa Mundial de Alimentos das Nações Unidas adverte que em breve não haverá mais comida na cidade.
Ao mesmo tempo, o general Weighill afirmou que, sem a ajuda da aliança militar, os rebeldes em Misrata não teriam conseguido manter a resistência contra Kadafi.
A União Europeia (UE) mostrou-se preocupada com as acusações de que os militares estejam usando bombas de fragmentação contra a população líbia. "Exigimos que as tropas armadas do presidente Muammar Kadafi cessem a violência contra a população, seja com bombas de fragmentação ou outros meios", disse a chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton, na sexta-feira em Bruxelas.
Nova onda de refugiados em Lampedusa
Desde que a Itália passou a participar dos bombardeios da Otan contra a Líbia, na quinta-feira, estão chegando mais refugiados do Norte da África à ilha italiana de Lampedusa, no Mar Mediterrâneo.
Desde sexta-feira, teriam chegado à ilha 2.400 pessoas vindas da África, noticiou a imprensa italiana. Para o governo em Roma trata-se de uma revanche de Kadafi, que teria impedido a partida de navios com refugiados enquanto a Itália era mediadora nas negociações entre Trípoli e a Otan.
Desde o início dos conflitos na Líbia, mais de 400 mil pessoas fugiram do país, principalmente em direção aos vizinhos Egito e Tunísia.
RW/rts/dpa/afp
Revisão: Carlos Albuquerque
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