Khaled El-Masri depõe na CPI
14 de março de 2006A comissão parlamentar de inquérito foi formada para descobrir se os Estados Unidos apóiam ou encobrem seqüestros e práticas de tortura. O caso de el-Masri vai ser tratado em sessões fechadas de inquérito pelo Parlamento.
"É exaustivo"
Depois de duas horas de interrogatório na noite de segunda-feira (13/03), Khaled El-Masri estava extenuado. "É exaustivo, requer concentração." De frente para a imprensa e para os parlamentares, El-Masri quase não se pronunciou. A maior parte das explicações ficou a cargo de seu advogado.
Quando depôs sobre seu suposto seqüestro pelo serviço secreto norte-americano, que teria o levado da Macedônia ao Afeganistão, no inverno de 2003/2004, Khaled El-Masri incorreu em contradições. Ele teria ficado detido por cinco meses, enquanto era maltratado e interrogado sobre o meio islâmico em sua cidade natal, Ulm. El-Masri afirmou ainda que autoridades alemãs sabiam do caso e o encobriram.
Críticas duras
O parlamentar europeu da União Democrata Cristã (CDU) Elmar Brok atacou duramente El-Masri: "Não podemos esquecer que, numa inquirição, as expressões 'talvez', 'pode ser', 'eu acho' nunca foram tão utilizadas."
"Como pode uma vítima de seqüestro apresentar provas concretas?", perguntou o advogado de El-Masri. O deputado do Partido Verde Cem Özdemir concordou: "Não somos obrigados a acreditar em tudo o que ele diz, mas precisamos de um pouco mais de empatia. O homem foi seqüestrado no Afeganistão, sua liberdade lhe foi roubada. É indigno deste Parlamento ouvir alegações desta natureza por parte de democrata-cristãos alemães."
"Sam é alemão, com certeza"
Khaled El-Masri nasceu no Kuweit, lutou na guerra civil no Líbano e, recebido como exilado na Alemanha, se naturalizou há alguns anos. Ele pede que acreditem em sua palavra, quando diz ter reconhecido o homem que o interrogou no Afeganistão, alguém que falava alemão e atendia pelo nome de Sam. Com base em fotos na internet e numa acareação policial, Khaled El-Masri diz ter identificado Sam: "Sam é alemão, com certeza. Vi a foto com cuidado; Gerhard Lehmann era Sam, não tenho dúvidas."
Gerhard Lehmann existe de fato. É comissário do Departamento Criminal Federal e não tem nada a ver com o caso, segundo os investigadores. O democrata-cristão Brok acredita que as autoridades alemãs estejam dizendo a verdade. "O que está sendo mostrado é que o seqüestro foi planejado por americanos. As investigações ainda estão em andamento, mas não há provas consistentes de que autoridades de algum país integrante do Parlamento Europeu tenham sido cúmplices ou tenham acobertado o caso."
"Macedônia deve explicações"
Özdemir, do Partido Verde, tem suas dúvidas. A CPI também deveria ser questionada, segundo ele. Para o Parlamento Europeu, Özdemir chegou à conclusão de que o lugar onde se deu o seqüestro, um local na fronteira da Macedônia e da capital Skopje, deveriam ser investigados com mais cuidado: "Acredito que a Macedônia deve uma explicação sobre se e quando a Alemanha foi informada do caso. Pelo visto, não aconteceu nada isso."
Khlaed El-Masri, supostamente seqüestrado porque a CIA o teria confundido com um homônimo, reclama da indiferença das autoridades alemãs. A procuradoria já se dispôs a averiguar o caso. El-Masri iniciou ações judiciais na Alemanha e contra o serviço secreto norte-americano, nos Estados Unidos.