Kirch: um império à base de TV, filmes, futebol e Fórmula 1
8 de abril de 2002O anúncio da concordata da KirchMedia era esperado nas últimas semanas, quando aconteceram as negociações decisivas entre os bancos credores e os acionistas. O KirchGruppe é das maiores empresas de mídia da Europa, cujos negócios se centram em filmes, televisão, direitos de transmissão de jogos de futebol e de Fórmula 1. Com sede em Ismaning, perto de Munique, ele abrange 65 empresas e participações, com 9.500 funcionários e faturamento superior a quatro bilhões de euros. Dívidas de mais de 6,5 bilhões de euros levaram todo esse império a tremer nas bases. Além do mais, em sua expansão, o magnata Leo Kirch (75), garantiu a seus parceiros opções arriscadas, que agora não está em condições de cumprir.
KirchMedia – o filé do grupo
- O grupo se apóia em três pilares, dos quais o principal é a KirchMedia. Com 5.500 funcionários, ela concentra a firma de tevê ProSiebenSAT.1 e todo o comércio de direitos, seja de exibição de filmes ou transmissão de eventos esportivos. Embora os negócios da KirchMedia não sejam muito transparentes, eles sempre foram tidos como lucrativos. É essa empresa que detém os direitos de transmissão dos jogos do Campeonato Alemão, da Copa da Uefa e das Copas do Mundo deste ano e de 2006.Quanto ao comércio de direitos de filmes, a KirchMedia possui uma das maiores filmotecas do mundo, com 11 mil títulos e 40 mil horas de seriados para tevê. A KirchMedia é proprietária dos canais de tevê Pro Sieben, Sat.1, Kabel 1, N24 (notícias), DSF (esporte), além de deter uma participação de 25% no canal espanhol Telecinco. Possui ainda a Roxy Film e outras produtoras de séries de tevê, filmes e shows.
Os acionistas
- Além da TaurusHolding de Leo Kirch, que detém 72,62%, os demais acionistas da KirchMedia são Thomas Kirch, o filho do magnata alemão da mídia, com 6,54%, a empresa Mediaset do primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi (cerca de 5%), a News Corp. do australiano-americano Rupert Murdoch (2,48%), o grupo alemão REWE (5,71%) e a sociedade de investimentos Kingdom Holdings, do príncipe saudita Al Walid (2,48%).O pivô do prejuízo: a tevê por assinatura
- O setor que mais deu dor de cabeça a Kirch foi o de PayTV, tevê paga por assinatura. O canal Premiere, o primeiro por esse sistema na Alemanha, acabou resultando num fracasso, pois não atingiu o número de assinantes previsto. No resultado antes do pagamento de juros e impostos, o canal Premiere deu um prejuízo de 989 milhões de euros no ano passado, sendo o maior responsável pelas dificuldades atuais do KirchGruppe.Leo Kirch jogou alto ao apostar nessa carta, mas a oferta não convenceu a maioria dos alemães, que já paga uma taxa fixa obrigatória pelo uso de rádio e televisão. Com esses recursos são financiadas as emissoras ARD (canal 1), ZDF (canal 2) e os canais regionais de tevê na Alemanha, altarquias consideradas "de direito público", pois não são estatais. Na era da tevê a cabo, dos satélites e das antenas, para que pagar um canal por assinatura? Mesmo a oferta exclusiva dos jogos do Campeonato Alemão não conseguiu convencer os espectadores.
A hora de Murdoch
- O novo chefe da Premiere, Georg Kofler, pretende cortar pelo menos 30% dos 2.400 empregos no canal. Se a KirchMedia pedir concordata, a PayTV terá que fazer o mesmo, admitem círculos ligados à empresa. A TaurusHolding detém 69,75% da KirchPayTV. Rupert Murdoch pode devolver sua participação de 22% no segundo semestre, no valor de 1,7 bilhão de euros. Assim estipula o contrato, mas Kirch não tem o dinheiro para pagar-lhe. Portanto, é possível que Murdoch assuma o canal. Há muito que ele tenta, em vão, entrar no mercado alemão. A falência de Kirch poderia ser sua grande hora.O terceiro pilar do império de Leo Kirch é a empresa que reúne suas participações e parcerias, a KirchBeteiligungs GmbH. Entre outras, 40% da Editora Axel Springer, que edita o jornal Bild, de maior circulação no país. O HypoVereinsbank, um dos credores do grupo Kirch, se dispõe a ficar com essas ações por 1,1 bilhão de euros. A firma também detém 77% da Spped Investment, da Fórmula 1 e 21% da empresa de mídia Constantin.