Košice se prepara para ser Capital Europeia da Cultura
27 de dezembro de 2012Os hóspedes do hotel Golden Royal têm que usar a porta de trás. A rua e a calçada diante da entrada do prédio desapareceram, a área se transformou em um grande canteiro de obras, cheia de veículos pesados de construção, cabos, tubos e montes de cascalho.
Košice, a "pequena cidade grande" no leste da Eslováquia, está passando por uma recauchutagem. O fato de ser Capital Europeia da Cultura em 2013 lhe proporciona gordas verbas: só da União Europeia vão chegar 60 milhões de euros.
Novas ruas, praças e parques serão construídos; está planejada uma série de projetos, desde pequenos e descentralizados até gigantescos e ambiciosos – como a transformação de um quartel desativado em centro cultural e de um ginásio de esportes aquáticos em centro de arte multifuncional.
Quase ninguém acredita que as obras ficarão prontas a tempo. "Não tem o menor problema", minimiza Jan Sudzina, diretor da sociedade responsável pela preparação dos projetos. Afinal, em 2013 não vai ser realizado um festival, mas iniciada a transformação, a longo prazo, da pós-socialista Košice numa cidade moderna. Em outras palavras: ela aproveitará a ocasião e suas vantagens – como o aumento do fluxo financeiro e da atenção internacional – para se reinventar.
Grandes planos
Se tudo correr como planejado, a cidade deverá florescer no futuro próximo, tornando-se uma plataforma de colaboração criativa entre empresas e artistas do leste da Eslováquia. O lugar se tornará um centro de produção artística difícil de ser ignorado. Hoje, ele ainda está longe disso: mesmo o acesso é complicado.
De trem, ônibus ou carro, o tempo de viagem é longo: cerca de 500 quilômetros separam Košice de Varsóvia e mais de mil quilômetros, de Berlim. De Bruxelas, são 1.550 quilômetros. Só há voos diretos para Viena, Bratislava e Praga. "Nosso principal aeroporto é em Budapeste, na Hungria, que fica a três horas de trem", lamenta Iveta Ninayova, do Visit Košice, o departamento de turismo local.
Košice já foi uma cidade próspera e rica, como fica patente na imponente catedral gótica de Santa Elisabete, no teatro histórico do final do século 19, e em todas as magníficas construções do centro antigo, que sobreviveram ilesas a duas guerras mundiais. Sua ascensão foi possibilitada pela localização numa rota de comércio e devido a colonos alemães, que influenciaram decisivamente "Kaschau", como chamavam a cidade.
Durante séculos, Košice foi uma das maiores e mais importantes cidades do reino húngaro. A vida intelectual florescia, e o caminho até a modernidade foi trilhado sem problemas. No século 19, surgiram diversas novas fábricas e manufaturas. Os empresários locais faziam boa fortuna, a qual gostavam de ostentar em prédios representativos no estilo da Gründerzeit.
Decadência
Em dezembro de 1918, com o fim da monarquia dos Habsburgos na Áustria-Hungria, Kaschau passou para a Tchecoslováquia. Entre 1938 a 1945, voltou a pertencer à Hungria, e em 1945 retornou para a Tchecoslováquia. Em fevereiro de 1948, o Partido Comunista assumiu o governo do país. A industrialização passou a ser fortemente incentivada em Košice. Com o estabelecimento da empresa Siderúrgica da Eslováquia Oriental, a importância econômica da cidade cresceu de novo, e novos conjuntos habitacionais de perfil socialista foram construídos.
Então, caiu a Cortina de Ferro. Em janeiro de 1993, a Tchecoslováquia foi dividida nos estados independentes República Tcheca e Eslováquia. Desde então, a capital da Eslováquia é Bratislava, localizada perto da fronteira austríaca, uma cidade que cresce e praticamente não tem desemprego. E a bela, multicultural e histórica Košice foi deixada de lado.
A siderúrgica foi vendida, empregos cortados. A cidade, com cerca de 240 mil habitantes, tem hoje uma taxa de desemprego de quase 30% e sofre com o êxodo da população jovem e criativa. Além dos eslovacos, ela é lar de tchecos, húngaros, ucranianos, ciganos e alemães.
Sob o signo da esperança
E agora vem a grande oportunidade para a cidade mudar sua imagem, de centro industrial para centro criativo. Áreas públicas serão revitalizadas, e a população será mais integrada. O Ano Cultural 2013 adentrará os bairros e se espalhará pelos arredores da cidade. Ele penetrará a história de Košice, revelando tesouros reprimidos ou proibidos, como o escritor Sándor Márai, reverenciado em muitos países, mas desconhecido em sua própria cidade natal.
E, claro, espera-se receber muitos turistas, que poderão provar a típica cozinha eslovaca, rusticamente saborosa. O centro antigo, com seus vários cafés, convida a um passeio. Há grande variedade de acomodações, de albergues para estudantes a confortáveis hotéis internacionais.
A agente turística Iveta Ninayova anuncia que, a partir de 2013, haverá ônibus de excursão partindo de Cracóvia e Budapeste. E talvez até lá já existam voos diretos do Reino Unido e da Alemanha. Por via das dúvidas, os visitantes devem levar calçados resistentes: ninguém sabe ao certo quando as muitas obras vão estar prontas, e os buracos nas calçadas podem ser numerosos.
Autora: Silke Bartlick (md)
Revisão: Augusto Valente