"Lambarena" une Bach, África e Brasil na "documenta"
21 de julho de 2002Baseado na composição musical Lambarena – Bach to Africa, do compositor francês Hughes de Courson e do músico africano Pierre Akendengué, o projeto representa originalmente uma homenagem ao médico e músico alemão Albert Schweitzer (1875-1965, Prêmio Nobel da Paz em 1952), organista e aficionado da música de Johann Sebastian Bach, que partiu jovem para a África e lá fundou um hospital e uma missão em Lambaréné (Gabão), onde viveu até sua morte. A música de Courson e Akendengué mistura ritmos africanos às tradições européias bachianas num novo contexto.
"A música de Courson e Akendengué foi o impulso decisivo para a concepção do teatro-dança Lambarena. A busca de integração através das artes exige um tipo de questionamento diferente. Eu procurei questionar então o que era típico da música de Bach na época do barroco e os elementos da música barroca do tempo de Bach que vão ser identificados, ou que vão até se descobrir, na música africana. Enfim, o que é clássico, o que é popular, qual é o ponto de combinação?", explica Ana Mondini. Nesse sentido, ela releva que naturalmente o fato de ser brasileira e viver fora de sua cultura a faz refletir também no trabalho sobre a essência da cultura e as tradições culturais.
Utopia de um mundo melhor - Lambarena reúne dançarinos de 11 países (inclusive sete brasileiros) e mentalidades diferentes. Apesar de fronteiras não serem mais importantes hoje em dia, em tempos de globalização, Ana acha que elas continuam marcando a intuição e o intelecto, que ela considera importantes para o seu trabalho de mediação.
Em Lambarena ela diz buscar o orgânico numa coreografia aparentemente simples. Ela explica que se trata, na verdade, de uma combinação complexa de passos de dança, que não parte de nenhuma concepção ou script anterior. Ela vê a dança não somente como uma combinação de passos, mas também como uma combinação de idéias. E, nesse sentido, ela faz questão de notar que, apesar de a música Lambarena ser dedicada a Albert Schweitzer, ela não se refere a detalhes biográficos na sua coreografia, mas sim de uma forma sutil à sua utopia de um mundo melhor.