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Lei marcial afasta Tailândia de conciliação política, afirma especialista

Gabriel Domínguez (rc)20 de maio de 2014

Com o Exército nas ruas e a imprensa censurada, situação no país, que é chave para o Sudeste Asiático, preocupa vizinhos e investidores. Para analista, tendência é que crise política e instabilidade se prolonguem.

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Foto: Christophe Archambault/AFP/Getty Images

O governo do Japão, maior investidor na Tailândia, expressou nesta terça-feira (20/05) "graves preocupações" após o Exército impor a lei marcial no país. Os Estados Unidos afirmam esperar que a situação seja de caráter temporário, enquanto as empresas multinacionais acompanham com ansiedade os eventos no país.

Após meses de violentos protestos contra o governo, o Exército posicionou tropas no centro da capital Bangkok e impôs censura à imprensa. Mas, ainda que garanta não se tratar de um golpe de Estado, os danos à reputação política e econômica do país são praticamente irreversíveis no curto prazo.

Em entrevista à DW, Rajiv Biswas, economista-chefe para a Ásia da consultoria IHS, diz que a segunda maior economia do Sudeste Asiático caminha, assim, para uma recessão. Segundo ele, a declaração da lei marcial impede a abertura de qualquer caminho para uma conciliação política.

Deutsche Welle: Levando em consideração o prolongamento dos conflitos e a declaração da lei marcial na Tailândia, existe o risco de o país cair em uma recessão?

Rajiv Biswas: A economia tailandesa já registrou uma retração significativa em seu PIB durante o primeiro trimestre de 2014, com a demanda doméstica devendo continuar em baixa durante o segundo trimestre, em razão da queda na confiança dos consumidores e dos fracos investimentos. Com a declaração da lei marcial, os militares talvez consigam manter uma estabilidade temporária, mas não será possível criar um caminho para uma conciliação entre as correntes políticas arraigadas na sociedade tailandesa.

Tanto o sentimento dos consumidores quanto à confiança dos empresários devem permanecer em baixa nas próximas semanas, criando riscos para a economia, que poderá passar por dois períodos sucessivos de retrocesso e entrar em uma recessão técnica.

Quais os danos que uma instabilidade prolongada poderá trazer à economia tailandesa?

O Produto Interno Bruto (PIB) do país retrocedeu 0,6% no ano passado, e 2,1% apenas no primeiro trimestre de 2014. O turismo, que é um setor-chave da economia tailandesa, sofreu uma queda significativa em termos de entrada de estrangeiros nos três primeiros meses do ano, devido aos violentos protestos que abalaram Bangkok.

Mesmo que a entrada de turistas tenha se estabilizado, há um alto risco de que a situação política possa se deteriorar caso um governo não eleito seja nomeado para governar a Tailândia.

Rajiv Biswas
O analista econômico Ravij BiswasFoto: IHS

Mesmo que os militares possam temporariamente coibir as manifestações, existe um risco significativo de que em algum momento a situação retroceda aos protestos políticos, com uma potencial ameaça de escalada da violência. Sem que haja qualquer sinal de conciliação política, o país continua em uma crise política prolongada, sem acordos sobre como o próximo governo tailandês possa vir a ser eleito democraticamente.

A Tailândia também é um polo de fabricantes de produtos eletrônicos e de diversas empresas automobilísticas. Com a crise afeta os investimentos estrangeiros?

Existem sinais crescentes de que os investidores internacionais estão perdendo confiança na economia tailandesa. A Toyota, que tem uma produção significativa de automóveis na Tailândia, já sinalizou que estaria reconsiderando seu planejamento de investir 600 milhões de dólares em novas instalações na Tailândia, devido à instabilidade política. Muitas outras multinacionais deverão adiar suas decisões sobre investimentos até que estejam convencidas de que há estabilidade na situação política.

Que impacto tem a crise sobre a posição da Tailândia junto à Associação de Nações do Sudeste Asiático (Ansea)?

Enquanto a Tailândia é uma das maiores economias da Ansea e se tornou um dos maiores centros industriais do bloco, a crise política interna comprometeu substancialmente a habilidade do país em desenvolver um papel de liderança na organização. Com a lei marcial, a Tailândia não estará apta a contribuir efetivamente para a Ansea, sob uma administração não eleita democraticamente que terá dificuldades para tomar decisões econômicas de longo prazo ou quanto à política externa.

Existe o risco de o país perder sua atratividade como base industrial dos países vizinhos?

A Tailândia tem sido considerada um dos principais centros industriais do leste da Ásia, devido à sua forca de trabalho qualificada e de baixo custo, assim como o alto padrão de sua infraestrutura. Entretanto, os prolongados distúrbios políticos têm um impacto negativo sobre a reputação do país de ser um local prioritário para as empresas multinacionais estabelecerem suas fábricas. A menos que alguma forma de conciliação política duradoura seja encontrada, a posição da Tailândia como local atraente para investimentos poderá se comprometer rapidamente.

Como poderá ser o desempenho da segunda maior economia do Sudeste Asiático até o final do ano?

As previsões da IHS são de que a economia tailandesa cresça apenas 1,9% em 2014, muito abaixo de seu potencial de crescimento de 4% a 5%. Em termos reais, isso significa que em torno de 8 a 10 bilhões de dólares do crescimento econômico potencial já foram perdidos em 2014.

Há também um risco significativo de que o PIB possa ter crescimento negativo no segundo trimestre de 2014, levando a Tailândia à recessão. A economia tailandesa deverá demonstrar o pior desempenho de 2014 entre as dez nações que formam a Ansea. A perspectiva de crescimento para 2015 também corre o risco de redução devido à atual crise política.