Leo Arons: o homem que não se encaixava em categorias
1 de fevereiro de 2013Leo Arons poderia ter desfrutado de todos os benefícios de sua condição: nascido em Berlim no ano de 1860 em uma família de banqueiros, ele estudou Matemática, Física e Química em diversas universidades alemãs e em Estrasburgo. E casou-se com uma mulher tão abastada quanto ele. No entanto, ainda nos tempos de faculdade, Arons se empenhava por causas sociais, tendo buscado, por exemplo, contato com operários e pessoas carentes durante sua estada em Estrasburgo.
Ele refletia sobre as razões da pobreza, tendo chegado à conclusão de que a propriedade privada da terra era a razão para as diferenças sociais. Em fins de 1891, Arons entrou para o Partido Social Democrata (SPD, do alemão) – para o filho de um banqueiro, este era um caminho longo, que não pôde ser trilhado da noite para o dia. Mais tarde, ele viria a escrever que se tornar membro do SPD tinha sido o resultado "de longos anos de uma reflexão madura e de lutas veementes consigo mesmo".
Socialista e filho de banqueiro
Dentro do SPD, a generosidade de Arons era exemplar: ao lado de alguns correligionários, ele criou um fundo de apoio para camaradas em apuros. Além disso, financiava publicações social-democratas e apoiava sindicatos. A partir de meados dos anos 1890, por exemplo, passou a organizar reuniões noturnas em sua casa, com a presença de um círculo ilustre de comerciantes, jornalistas, funcionários e representantes de diversas correntes políticas de seu partido.
Ocasionalmente apareciam nesses encontros o escritor Arno Holz, o político nacionalmente conhecido Friedrich Naumann e o líder do SPD, Paul Singer. A reunião dessas pessoas era popularmente chamada de "Schmalzstullenclub" (literalmente Clube dos Sanduíches com Banha) ou de "Salão Vermelho": ali surgiu possivelmente a ideia de criar a Casa dos Sindicatos de Berlim – um projeto ao qual Arons se dedicou de corpo e alma.
O ano 1900: triunfo e derrota
A virada do século viria a marcar para Arons tanto o auge de sua trajetória, quanto sua maior derrota. Em janeiro de 1900, o Ministério prussiano da Cultura concedeu oficialmente ao doutor Leo Arons uma permissão para que ele atuasse como docente. Três meses depois, Arons inaugurava em Berlim a sede do Conselho Fiscal da Casa dos Sindicatos, da qual era presidente.
Era o primeiro local a congregar trabalhadores e suas organizações ao mesmo tempo. O prédio existe até hoje, na avenida Engeldamm, no bairro Mitte, em Berlim. Sem a ajuda financeira e o empenho pessoal de Arons, o edifício não teria sido erigido. No entanto, o triunfo de ter dado uma orgulhosa sede aos trabalhadores foi ofuscado por uma derrota pessoal de Arons.
Desde 1890, ele atuava como docente de Física na Universidade Friedrich Wilhelm (hoje Universidade Humboldt), sem ter, contudo, uma cadeira de professor na instituição. O fato de o cientista ter passado a ser membro do SPD em 1891 não incomodou a Faculdade de Filosofia, à qual era ligado o Departamento de Física da época. Pois a Constituição da Prússia garantia a liberdade de opinião e filiação.
Mas o então ministro prussiano da Cultura, Robert Bosse, havia recebido ordens superiores de agir contra Arons. Bosse exigiu que a faculdade iniciasse um processo disciplinar, a fim de avaliar uma eliminação do título de "professor particular" que Arons tinha na universidade. A faculdade negou-se a fazer isso, alegando que uma mera filiação ao Partido Social Democrata não seria, por si, um ato que transgride as leis prussianas, nem as normas da universidade ou a ordem pública.
A Lei Arons
Quando Arons, em 1897, discursou em uma convenção do Partido Social Democrata, o imperador Guilherme 2° chegou a seu limite. Em telegrama, ele escreveu pessoalmente ao Ministério da Cultura da Prússia: "Parto do princípio de que o ministério tenha imediatamente dado início ao processo contra esse impertinente ludibriador de instituições públicas, a fim de tirar-lhe o cargo que ocupa... Não tolero nenhum socialista entre meus funcionários públicos, quanto menos entre os mestres de nossa juventude na Escola Superior Real".
A Faculdade de Filosofia não se deixou, contudo, intimidar. Em decisão apoiada pela maioria, a universidade recusou-se a declarar a expulsão de Arons. O governo da Prússia resolveu então despachar uma lei que entraria para a história como Lex Arons (Lei Arons), segundo a qual os chamados docentes particulares das escolas superiores passariam a ser submetidos ao código disciplinar dos funcionários públicos.
O Parlamento da época aprovou a lei. E assim a Ministério prussiano da Cultura adquiriu o direito legal de expurgar a permissão concedida a Arons de lecionar na universidade, alegando como causa sua ligação com o Partido Social Democrata.
O próximo capítulo na vida do cientista Arons
Nessas alturas, a carreira de Arons na Alemanha estava encerrada. As expectativas de dar aulas na Suíça de língua alemã tampouco foram atendidas. A oferta de mudar-se para Oxford ele recusou por razões familiares. Mas continuava pesquisando.
Quase como resultado secundário de suas pesquisas, ele desenvolveu um predecessor da lâmpada incandescente. Essa lâmpada de vapor de mercúrio ficou inclusive conhecida como "Canos de Arons". A partir de 1904, ele trabalhou durante algum tempo no laboratório da Fábrica de Lâmpadas da AEG. Em 1907, a empresa, baseada em suas descobertas, lançava no mercado a "Lâmpada de Vapor de Mercúrio do Dr. Arons".
Obras completas de Leo Arons
Por pressão dos amigos, Arons acabou se desligando da ciência e do ensino em função da política. Mas ele não pertencia à primeira fileira do partido, ficando de preferência nos bastidores, embora tenha acabado cedendo à pressão de seus correligionários e se candidatado em 1903 às eleições do Reichstag. E acabou perdendo por pouco em seu reduto eleitoral, o centro de Berlim.
Suas atividades político-partidárias eram centradas na luta por um direito de voto mais justo na Prússia. Na época, as eleições eram realizadas de acordo com o Direito das Três Classes, segundo o qual os cidadãos eram classificados de acordo com a renda financeira. E os votos dos ricos, que em 1898 perfaziam em torno de 1% da população, valiam tanto quanto os votos dos 85% que pertenciam à terceira classe.
Em 1908, a saúde de Arons, que sofria de enfermidades cardíacas, piorou. No início de 1919, quando o imperador encontrava-se exilado e a Alemanha havia se transformado numa república, Arons foi reconsiderado pela Universidade de Berlim. Pouco depois, ele viria a morrer. Por desejo próprio, ele foi enterrado no terreno da Casa dos Sindicatos em Berlim.
Albert Einstein homenageou Arons, que não chegou a conhecer pessoalmente, em seu necrológio: "Seu senso social e sua necessidade de justiça o conduziram ao círculo dos socialistas e explicitaram frente à opinião pública suas convicções socialistas, sem levar em conta os difíceis recalques e adversidades que ele despertou com isso por parte de um Estado governado por reacionários".
Quando os nazistas ocuparam a Casa do Sindicato em 1933, eles destruíram o túmulo de Arons. Em 2002, foi colocada no lugar uma placa em sua homenagem como lembrança de sua trajetória.
Autora: Birgit Görtz (sv)
Revisão: Roselaine Wandscheer