Leste Europeu não quer virar ferro-velho
21 de novembro de 2004Desde meados de outubro, está proibida na Sérvia a importação de automóveis fabricados há mais de três anos. A população, por seu lado, não está gostando nada disso. "Vamos bloquear rodovias importantes aqui na cidade, até que a importação volte a ser permitida", advertiu Milijove Armus, um dos porta-vozes dos 7500 motoristas de táxi da capital, Belgrado.
A idade média dos veículos que circulam pelas ruas do país é 15 anos, segundo dados oficiais. Os táxis (18 anos), são até mais antigos. A imprensa sérvia é uníssona na reclamação: "Somos o cemitério de carros de toda a Europa". Segundo o automóvel clube local, as conseqüências disso são catastróficas. Inspeções apontam que 54% dos carros têm problemas graves.
Oitenta por cento dos caminhões e ônibus podem ser considerados "bombas ambulantes", escreveu o semanário Telegraf. O vice-chefe de governo sérvio, Miroljub Labus, é da opinião de que o número de acidentes per capita em seu país é maior que em qualquer outra nação européia.
Embora os veículos importados pela Sérvia tenham que cumprir a rígida norma Euro-3, que regulamenta os limite de poluentes emitidos, tal controle na realidade não atinge os veículos que entram no país. Não é de admirar, por isso, que as nuvens de fumaça expelidas pela maioria dos veículos mal se dissipam no centro de Belgrado.
"Nossos motoristas já estão meio envenenados. Quando dirigem, parecem atordoados e desatentos ao trânsito", advertem os jornais. Grande parte do sistema viário de Belgrado ainda é do início do século passado. Ruas estreitas e prédios altos dificultam a dissipação dos poluentes.
Símbolo de status − O governo de Belgrado havia proibido a importação de carros fabricados há mais de três anos, com o argumento de que o déficit no comércio exterior nos primeiros oito meses do ano havia aumentado 70% (para 3,7 bilhões de euros) em relação ao mesmo período do ano anterior.
Automóveis são um símbolo de status também na Sérvia, independentemente da data de fabricação e dos quiômetros rodados. Os sérvios já gastaram este ano quase um bilhão de euros na compra de carros estrangeiros, sobretudo de marcas alemãs. Em Bubanj Potok, a principal praça para negociar veículos usados em Belgrado, os preços subiram 30% em poucos dias, após a proibição sancionada em meados de outubro.
Semelhanças com a Polônia − Da mesma forma, o governo em Varsóvia cogita proibir a importação de carros acidentados ou avariados. Quase a metade dos veículos que entram no país foi fabricada há mais de dez anos. A situação parece tão grave que, segundo a imprensa local, o governo polonês pretende estipular um "mínimo de condições" a serem cumpridas pelos veículos para que possam circular no país.