Liberdade de imprensa é base da democracia, diz Köhler
8 de dezembro de 2006DW-WORLD: Sr. Presidente, há 50 anos, o presidente Theodor Heuss disse que a tarefa da Deutsche Welle é a distensão. Poucos anos depois do final da Segunda Guerra Mundial, a emissora internacional alemã deveria transmitir ao mundo uma imagem autêntica da nova Alemanha democrática. Como o senhor descreveria a tarefa da Deutsche Welle hoje?
Horst Köhler: Bem, a distensão [das relações entre os países] não é mais a tarefa. Em parte sim, mas o mais importante é apresentar a capacidade do país, o nosso cosmopolitismo e também a nossa diversidade cultural. Ou seja, fornecer uma imagem da Alemanha como ela é e como ela é vista.
A Alemanha tem um bom nome como parceira justa, como país capaz, e eu acredito que ainda não comunicamos isso de forma suficiente e nesse ponto a Deutsche Welle pode, do meu ponto de vista, fazer mais. Mas eu já estou agradecido por vocês fazerem tão bem o que vocês fazem, pois isso também colabora para o nosso bom nome.
O mundo da mídia está em expansão, a internet ganha importância, a digitalização oferece centenas de novas possibilidades ao rádio e à televisão. Grupos de mídia que não queiram ficar para trás precisam investir. Qual a importância da Deutsche Welle para a República Federal da Alemanha?
Eu acredito que é uma colaboração muito importante apresentar o nosso país e comunicar mais informações sobre o nosso país ao exterior. Se temos uma idéia de que precisamos nos impor no mundo como ele é – e, do meu ponto de vista, temos boas condições para nos impor - nossos ganhos serão ainda maiores se comunicarmos melhor os nossos pontos fortes, e nisso a Deutsche Welle deve assumir uma parte importante.
O senhor viveu muitos anos no exterior e, portanto, conhece a Alemanha também da perspectiva de fora. Como a Alemanha é vista de fora? E como essa imagem se modificou nos últimos anos?
Eu tenho antes a impressão de que está melhorando. Tivemos, naturalmente, a fase logo após a guerra. Essa foi marcada pelos crimes da época nazista, pela discussão sobre culpa.
Hoje, as pessoas de fora da Alemanha percebem que tivemos uma boa história depois da Segunda Guerra Mundial e que desempenhamos um papel construtivo e justo na cooperação para o desenvolvimento e nas organizações internacionais, como as Nações Unidas.
Acredito que tudo isso mostra, por um lado, que podemos estar orgulhosos do nosso país, e também deveríamos comunicar isso. Por outro lado, também devemos saber que novas responsabilidades virão e que, num mundo em que todos evoluem juntos e no qual há tarefas que a comunidade internacional deve cumprir, nós não podemos nos esconder.
Há poucos dias, o senhor declarou: "Um jornalismo eticamente fundamentado pode contribuir muito para que as culturas e religiões do mundo se tratem com mais respeito". Que papel o senhor vê para a mídia, também para a Deutsche Welle, no assim chamado diálogo das culturas?
Bem, o mais importante é a informação. Informação clara, franca porque as pessoas no exterior são inteligentes, críticas, não é possível enganá-las. E quando apresentamos o nosso país como ele é, com os seus pontos fortes e pontos fracos, acredito que logo chegamos ao reconhecimento de que somos um parceiro confiável.
O senhor ressaltou várias vezes que, em viagens aos exterior, se deparou com diferentes padrões de jornalismo. O senhor sugeriu a realização de uma conferência sobre o tema na Alemanha? Qual seria a tarefa dessa conferência?
Eu apenas acolhi uma idéia que outras pessoas formularam. Defendo que haja padrões mínimos para o exercício do jornalismo. A liberdade de imprensa é uma pedra fundamental da democracia, mas a imprensa livre deve ser também responsável, e isso significa responsabilidade ética e moral. Não dizer necessariamente tudo o que vem à mente, mas assumir a responsabilidade pelo que se diz.
O senhor elegeu a África como prioridade da política externa durante a sua presidência. A Deutsche Welle alcança todos os dias mais de 30 milhões de ouvintes na África. Por que a África é tão importante para o senhor?
Foi na África que eu percebi de forma mais direta a miséria, a fome, a morte, os conflitos. E, pela minha experiência no processo político, na vida privada e na vida social, fala-se muito sobre a África, mas na verdade também se pensa, muitas vezes, que se trata de um continente perdido.
E eu acredito que, se essa imagem se consolidar na cabeça das pessoas, seríamos não apenas extremamente injustos em relação àquilo que se desenvolve na África tanto em esforços como em progressos, mas também estaríamos prejudicando a nós mesmos, porque transmitiríamos aos nossos jovens uma discrepância entre o que dizemos – entre os nossos vocábulos éticos e morais e nossa declaração política de intenções – e a realidade.
Eu acredito que a Europa tem uma responsabilidade ética e histórica com o continente africano e, se a assumirmos, essa atitude mostrará que esta Europa é necessária.
A Deutsche Welle quer ampliar sua oferta para os países islâmicos. O senhor vê isso como correto?
Sim. Temos grandes problemas no Oriente Médio e no mundo árabe. Não tenho nenhuma dúvida de que é possível alcançar a paz no Oriente Médio. E o pré-requisito mais importante é que devemos saber mais uns sobre os outros. Sabemos muito pouco sobre o mundo árabe e o mundo árabe sabe muito pouco sobre nós.
Por exemplo, creio que a integração de cidadãos muçulmanos na nossa sociedade é parte de uma concepção fundamentada na credibilidade. Ao integrarmos bem os cidadãos muçulmanos à nossa sociedade, ao recebê-los de braços abertos no nosso país, mostramos ao mundo árabe que não temos nada contra muçulmanos.
Com base nisso, podemos então discutir aquilo que é importante na política externa, aquilo que é importante no combate ao terrorismo.