"Livre comércio não basta"
22 de janeiro de 2004Para Kerstin Müller, política do Partido Verde e única representante do gabinete do chanceler federal Gerhard Schröder no Fórum Social Mundial (FSM), que se encerrou em Mumbai na quarta-feira (21), "a globalização é o desafio central diante do qual se encontra a comunidade internacional". Na busca de respostas para a questão premente de como tornar o processo mais justo e sustentável, ela atribui grande importância ao diálogo com as organizações que vêem a globalização de maneira crítica.
Daí também seu balanço positivo do encontro que, durante seis dias, reuniu até 120 mil pessoas na metrópole indiana. Em sua quarta edição, o FSM, criado em Porto Alegre, realizou-se pela primeira vez fora do Brasil. Um fato que a secretária-adjunta do Ministério das Relações Exteriores considerou positivo. Em Mumbai, disse ela, "muitas minorias, tais como a dos dalit (intocáveis) na própria Índia, dispuseram pela primeira vez de uma plataforma internacional para apresentar suas reivindicações".
Tarefa também política
Para Kerstin Müller, a busca de uma "globalização mais justa e sustentável" — uma fórmula que pode ser interpretada como descrição do que os organizadores do FSM chamam de "mundo melhor" — passa imprescindivelmente pela política. O livre comércio, afirma, não basta para atingir a meta.
O que ela traz em sua bagagem, após participar do evento, é o encorajamento do governo alemão em prosseguir seus esforços no sentido de fomentar o respeito aos direitos humanos, o combate à Aids, a solução pacífica de conflitos, o desenvolvimento da democracia e da boa governança também nos países emergentes. O encontro evidenciou "quantos perdedores da globalização existem no mundo, em especial ao sul do Saara", uma região em que a pobreza não pára de crescer.
Pela retomada das negociações da OMC
A secretária-adjunta defende o estabelecimento de regulamentos internacionais que promovam o comércio mundial justo. "Um dos mais importantes temas para o governo alemão é que a rodada de Doha, que foi interrompida em Cancún, seja retomada e conduzida a uma conclusão ainda este ano." Para tanto, acrescenta, "é preciso que os países industrializados — em especial os europeus e os Estados Unidos — façam uma oferta mais ampla aos países em desenvolvimento".
Uma conclusão central da entrevista que Kerstin Müller concedeu à DW-RADIO é justamente a responsabilidade do mundo desenvolvido e rico. O Fórum Social Mundial "aumenta a pressão sobre os governos dos países industrializados no sentido de cumprirmos realmente os compromissos que assumimos, por exemplo, na luta contra condições injustas do comércio".