Investidores financeiros olham para o futuro para prever a evolução de títulos, ações, moedas e imóveis. Ao observar as decisões de investidores e os acontecimentos nos mercados financeiros no momento, tem-se a impressão de que eles estão começando a apostar numa recuperação econômica do Brasil.
É, portanto, possível que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se beneficie também neste terceiro mandato tanto de desenvolvimentos positivos nos mercados financeiros quanto de mudanças geopolíticas – de modo bem parecido com o que ocorreu em 2003.
Os paralelos com a mudança positiva do clima há 20 anos são impressionantes:
1. Na semana passada, a agência Standard & Poor's mudou sua perspectiva de risco para o Brasil. Esta foi elevada para positiva devido ao fato de o Brasil estar crescendo mais rapidamente, dispor de instituições financeiras estáveis, como o autônomo Banco Central, e ter acabado de aprovar um novo arcabouço fiscal.
Com isso, aumentaram as chances de que a classificação de crédito do Brasil seja elevada em breve. No momento com o rating BB-, o Brasil ainda está três níveis abaixo do grau de investimento – necessário para que investidores institucionais, como seguradoras e fundos soberanos de Estados mais ricos, invistam em ações e títulos brasileiros.
A título de comparação, a classificação do Brasil também estava no nível ruim BB- quando Lula assumiu a Presidência em 2003. Cinco anos depois, o país alcançou o cobiçado grau de investimento.
2. Em maio deste ano, o Brasil registrou o maior superávit comercial das últimas três décadas. O país é, portanto, um dos poucos fora dos Estados industriais e petrolíferos que obtém mais dólares do que gasta com importações. Isso se deve principalmente ao crescimento das exportações agrícolas.
Devido à grande reserva de divisas do Brasil, investidores não estão preocupados com a possibilidade de o país não conseguir pagar seus empréstimos em algum momento. Essa é uma das razões pelas quais o real valorizou 10% frente ao dólar desde o início do ano. Algo que freará a inflação e tornará mais fácil para o Banco Central reduzir as taxas de juros.
Foi semelhante em 2003: um Brasil em crise passou a ser, a partir de 2005, uma das economias mais estáveis do Sul Global.
3. Naquela época, o aumento das exportações para a China provocou um boom de commodities no Brasil. O país sul-americano forneceu minério de ferro, soja e petróleo em grandes quantidades para o asiático. No plano internacional, investidores passaram a perceber a força do Brasil como exportador de produtos agrícolas.
É daí que vem o B do Brics. Investidores financeiros acreditavam que o Brasil, junto com Rússia, Índia e China, faria parte do grupo das economias que mais cresciam — e estavam enganados. Só China e Índia se desenvolveram da maneira prevista pelo banco de investimentos Goldman Sachs.
4. Na época, a economia do Brasil se beneficiou do amplo ingresso de investimentos estrangeiros: em 2007 e 2008, o Brasil foi um dos países com o maior número de ofertas públicas iniciais (IPOs) de empresas no mundo. Muitas das "histórias de sucesso" de então faliram pelo caminho — veja o caso das empresas de Eike Batista.
E agora uma nova onda de IPOs de empresas pode estar se formando. Uma porta-voz da bolsa de valores nova-iorquina Nasdaq declarou à agência de notícias Bloomberg que, em 2024, talvez muitas empresas latino-americanas voltem a listar suas ações em bolsas de valores.
5. Também o fluxo de capital estrangeiro para o Brasil, em novas fábricas ou na expansão da produção, se mantém: empresas estrangeiras investiram 30 bilhões de dólares de janeiro a maio. Em 2022, o Brasil foi o terceiro país no mundo que mais atraiu investimentos, depois dos EUA e da China, segundo a OCDE.
6. Além disso, o Brasil se beneficia da má situação de várias outras grandes economias emergentes. Rússia, Turquia, África do Sul e mesmo a China, de crescimento enfraquecido, decepcionaram investidores, comentou o analista Alberto Ramos, da Goldman Sachs, ao Estadão. "Não é necessariamente que a história local seja extraordinária, não é", disse Ramos. "Tem a ver [com o fato de] que todas as outras histórias são horríveis."
A planejada reforma fiscal é decisiva para que o apoio a Lula no exterior se mantenha. Ela poderia elevar significativamente o potencial de crescimento – e isso é decisivo para que o Brasil continue pontuando na preferência dos investidores.
Sobre a reforma fiscal, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comentou, e com razão: "Estamos às vésperas de uma oportunidade que há muito tempo não se via no Brasil – pode ser o novo Plano Real do Brasil."
Tomara que o governo dele aproveite essa chance.
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Há mais de 30 anos, o jornalista Alexander Busch é correspondente de América Latina do grupo editorial Handelsblatt e do jornal Neue Zürcher Zeitung. Nascido em 1963, cresceu na Venezuela e estudou economia e política em Colônia e em Buenos Aires. Quando não está viajando pela região, fica baseado em Salvador. É autor de vários livros sobre o Brasil.