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Luto e indignação em Londres após tragédia

Samira Shackle, de Londres
15 de junho de 2017

Morte de ao menos 17 pessoas em incêndio em prédio de 24 andares gera série de questionamentos sobre políticas de habitação do governo e medidas de segurança. Material usado em reforma pode ter ajudado a espalhar chamas.

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UK Hochhausbrand in London - Trauer
Reze por nossa comunidade: painel com homenagem às vítimas no oeste de LondresFoto: Reuters/P. Hackett

As últimas chamas no prédio Grenfell Tower foram apagadas apenas nesta quinta-feira (15/06), dia em que os londrinos amanhecerem em luto e indignação após a tragédia que deixou pelo menos 17 mortos. A polícia não descarta que haja mais vítimas – buscas ainda continuarão a ser feitas no edifício – e a probabilidade de se encontrar sobreviventes é tida como baixa.

"Em meus 29 anos como bombeiro, eu nunca vi nada nessa escala", disse o comissário dos bombeiros de Londres, Dany Cotton.

Ainda não está claro o que gerou o incêndio, que consumiu os 24 andares do prédio na madrugada de quarta-feira. A associação de moradores diz ter tentado chamar a atenção seguidas vezes para falhas no sistemas de segurança. Em post num blog em novembro passado, o Grenfell Action Group alertara que só um "evento catastrófico" acabaria com "as perigosas condições de vida e a violação da legislação sanitária e de segurança" no prédio.

Incêndio atinge prédio residencial em Londres

"As pessoas ficarão em choque enquanto os terríveis fatos sobre a Grenfell Tower continuarão a ser revelados", afirmou Matt Wrack, secretário a União das Brigadas de Incêndio. "Uma investigação completa terá que ser feita, assim que possível, para determinar o que exatamente aconteceu e o que pode ser feito para prevenir um novo incidente do tipo."

Localizada perto do popular shopping center Westfield e às margens da rodovia A40, importante ponto de entrada e saída de Londres, a Grenfell Tower foi construída em 1974 e, como é o caso de várias habitações sociais do Reino Unido, hoje é administrada por uma empresa privada.

A empresa, Kensington and Chelsea Tenant Management Organisation (KCTMO), está sendo duramente criticada. Em 2015, ela promoveu uma grande reforma no prédio, no valor de 11 milhões de dólares: janelas com isolamento reforçado e sistemas de aquecimento foram instalados, novos apartamentos foram construídos em espaços vazios, e a fachada ganhou novo revestimento.

Especula-se que o revestimento, de interior plástico, teria contribuído para o rápido alastramento das chamas. Segundo a BBC, prédios com o mesmo revestimento na França, Austrália e Emirados Árabes também foram atingidos por incêndios em que as chamas se espalharam rapidamente. A construtora responsável pela reforma diz que as obras estavam de acordo com a regulamentação.

"Temos conhecimento da reforma", disse Jim Glockling, diretor técnico da Associação de Proteção contra Incêndios. "Mas sem o conhecimento do material específico usado, não podemos dizer, neste momento inicial, se isso foi relevante para esse incidente trágico. O uso de materiais inflamáveis em construções, de todo modo, deve ser discutido para evitar novos incidentes como esse."

May beim ausgebrannten Hochhaus in London
May visita local da tragédiaFoto: Picture-Alliance/dpa/R. Findler

Em comunicado, a KTCMO reconheceu que os moradores haviam manifestado preocupação, mas disse ser muito cedo para especular sobre o que causou o rápido avanço das chamas.

Também estão sendo levantadas questões sobre a parcela de culpa das autoridades. O novo chefe de gabinete da primeira-ministra Theresa May, Gavin Barwell, era até a semana passada ministro da Habitação, tendo deixado o cargo de deputado após as eleições. No ano passado, ele prometeu rever a legislação contra incêndios, após uma solicitação relacionada a um incêndio em 2009 no sul de Londres, em que nove pessoas morreram e 20 ficaram ferida. A promessa, porém, nunca se concretizou.

"É o bairro mais rico de nosso país e está tratando nossos cidadãos dessa forma. Temos que chamar as coisas pelo nome: isso é homicídio corporativo. E pessoas têm que ser presas por isso, francamente. É um escândalo", afirmou à BBC o deputado trabalhista David Lammy.

O prefeito de Londres, Sadiq Khan, reconheceu que o desastre levantou questões sobre a segurança de edifícios, e, especula-se que a tragédia poderia adiar até o anúncio de May sobre um acordo parlamentar para permanecer no poder.

"Claramente, há vários questões a serem feitas sobre as causas e, quando for o momento apropriado, esse sindicato redobrará seus esforços para impulsionar uma política de habitação social segura", afirmou o Unite, sindicato do setor em Londres. "Há milhares de prédios como esse no país, e temos que assegurar que não apresentam riscos para vidas humanas."

Por ora, os esforços têm se concentrado em ajudar as centenas de pessoas desabrigadas pelo incêndio.