Lápis, borracha e revólver
3 de julho de 2003A coincidência não poderia ser mais marcante. No dia em que a polícia federal alemã divulga os resultados de um estudo da Universidade de Erlangen sobre a violência entre escolares, no sul do país um jovem de 16 anos suicida-se com um revólver na sala de aula, após ferir uma professora.
Mais de um ano após a tragédia de Erfurt, em que um rapaz de 16 anos se matou após assassinar 16 pessoas em seu colégio, um estudo representativo entre 1100 jovens das 7ª e 8ª classes (13 e 14 anos) aponta que 60% já bateram ou pisotearam um colega nos últimos seis meses. Cerca de 5% deles – tendência crescente – costumam ameaçar ou xingar os colegas com regularidade. 8% dos questionados já fizeram ameaças usando faca ou pistola.
Alemães x estrangeiros
O estudo revelou que a agressão independe do tamanho da classe, é mais comum entre os jovens dos últimos anos escolares, do sexo masculino e com pior desempenho na escola, embora isso não signifique que estes não sejam inteligentes.
Mesmo que alunos estrangeiros tendencialmente sejam mais agressivos, o estudo não comprovou grandes diferenças de comportamento em relação aos alemães. A maioria dos delitos escolares registrados pela polícia relacionam-se a lesões corporais (que vêm aumentando nos últimos anos): extorsão, furto, drogas ou porte de arma.
Stephanie Held, comissária de polícia de Wiesbaden, lista as diferenças nas agressões em relação ao passado. "Se antes as brigas eram entre dois colegas, hoje, são grupos contra um colega. Além disso, as armas entram em jogo com uma freqüência maior. O problema está na educação e na falta de valores", adverte Held.
Falta de valores e excesso de liberdade
A violências nas escolas alemãs, do nível primário ao médio, vai desde xingamentos, assédio moral, furtos de peças do vestuário e extorsão, até violência física. A opinião pública só toma conhecimento desta realidade em casos extremos, quando há vítimas fatais.
Os pesquisadores destacam, por outro lado, que a violência escolar não é um fenômeno isolado. O professor universitário e psicólogo que coordenou o estudo da Universidade de Erlangen destaca o papel do ambiente social e familiar da criança. "O calor dos pais, atividades extraclasse e a educação com regras definidas são fundamentais para prevenir a violência", diz Friedrich Lösel.
Esta opinião é partilhada por Ingrid Freihöfer, diretora de uma escola primária em Colônia. Após 30 anos de experiência profissional, ela acha que as crianças de hoje desconhecem valores morais e sociais: "Elas entram na primeira classe com grandes deficiências na educação. Não respeitam o próximo, não ouvem o professor, desconhecem limites, normas e regras".
Segundo Freihöfer, o nível da violência nas primeiras classes escolares ainda mantém-se sob controle, mas cresce nas classes mais adiantadas. "Talvez devido à falta de perspectivas da juventude", conclui a diretora da escola Albert Schweitzer, de Colônia.