Macron se saiu melhor entre jovens, idosos e escolarizados
25 de abril de 2022O presidente Emmanuel Macron obteve no domingo (24/04) uma vitória decisiva sobre sua rival de extrema direita Marine Le Pen. Ao ser reeleito com 58,55% dos votos válidos, Macron quebrou um tabu que perdurava por 20 anos ao se reeleger para o mais alto cargo do Executivo, algo que nenhum presidente francês havia conseguido desde 2002.
Sua adversária recebeu 41,45% dos votos válidos – a maior porcentagem já obtida por um candidato da direita radical no país.
Um dia depois do pleito, começam a aparecer detalhes mais precisos da votação. Abaixo os principais destaques do raio-X do pleito – a maior parte dos números foram levantados pelo instituto Ipsos, que entrevistou 4 mil eleitores representativos da população francesa após o segundo turno.
Em relação ao eleitorado total, Macron recebeu apenas 38,52% dos votos
A votação de Macron foi comparativamente fraca se o eleitorado total for levado em conta, isto é, colocando os votos brancos/nulos e abstenções no cálculo. Com essas variáveis em conta, apenas 38,52% dos eleitores que estavam registrados efetivamente votaram em Macron.
Em toda a Quinta República – fundada no final dos anos 1950 –, apenas o ex-presidente Georges Pompidou obteve uma proporção mais baixa. Em 1969, somente 37,51% dos eleitores registrados votaram em Pompidou.
Coincidentemente, o pleito de 1969 teve a maior taxa de abstenção do segundo turno na história da França: 31,15%%. O segundo lugar no ranking de abstenções no segundo turno passou a ser justamente ocupado pelo pleito deste domingo, quando 28% não apareceram para votar.
O número de votos brancos/nulos na última votação de 2022, por sua vez, foi de 8,6%, um pouco mais baixo do que no segundo turno de 2017, quando Macron e Le Pen também se enfrentaram, e 11,5% dos que foram votar não escolheram nenhum dos candidatos.
Macron perdeu votos em relação a 2017, Le Pen recebeu mais
Macron havia recebido 20,7 milhões de votos na eleição de 2017, quando conquistou 66,1% dos votos válidos. Desta vez, sua candidatura à reeleição registrou uma votação de 18,7 milhões no segundo turno – 2 milhões de votos a menos do que em relação a cinco anos atrás.
Marine Le Pen, por sua vez, ampliou seu eleitorado, mas não de maneira decisiva. Em 2017, 10,6 milhões de franceses votaram na candidata da extrema direita no segundo turno. Desta vez, foram 13,2 milhões – um aumento de 2,65 milhões de votos.
Macron foi o mais beneficiado com votos de candidatos derrotados no 1º turno
O atual presidente foi mais bem-sucedido em conquistar no segundo turno eleitores que haviam votado em candidatos derrotados ainda na primeira rodada.
Entre os eleitores que haviam escolhido o ecologista Yannick Jadot em 10 de abril, 65% votaram em Macron. No caso da conservadora Valérie Pécresse, 53% optaram pelo atual presidente.
Já entre os eleitores do independente de esquerda Jean-Luc Mélenchon, o terceiro mais votado no primeiro turno, 42% optaram por votar em Macron na segunda rodada.
Entre os derrotados, Le Pen só conseguiu conquistar uma fatia significativa dos votos de Éric Zemmour, outro extremista de direita. Entre os eleitores do ex-candidato, Le Pen obteve 73% dos votos. Macron obteve apenas 10% da fatia de Zemmour.
Para Le Pen, este foi o único caso acima dos 20% de votos entre os principais candidatos derrotados no primeiro turno. Ela só conseguiu convencer 18% dos eleitores de Pécresse e 6% dos apoiadores de Jadot.
Fatia significativa da esquerda de Mélenchon não votou em Macron e parte optou por Le Pen
Logo após o primeiro turno, a maioria dos candidatos moderados se apressou em anunciar apoio direto a Emmanuel Macron, com o objetivo de ajudar a barrar a extrema direita de Le Pen.
Houve uma notável exceção: o independente de esquerda Jean-Luc Mélenchon, que havia ficado em terceiro lugar. Sem apoiar Macron diretamente, ele se limitou a pedir que seus eleitores não votassem na extrema direita. Na prática, deixou a porta aberta para que seus apoiadores optassem pela abstenção ou voto branco/nulo.
E justamente entre os eleitores de Mélenchon foi registrada a maior fatia de votos inválidos/abstenções entre os apoiadores dos principais candidatos. Entre os eleitores do esquerdista, 41% não compareceram ou votaram nulo/branco.
Para efeito de comparação, apenas 1% dos eleitores de Macron no primeiro turno optaram pela abstenção/branco/nulo nesta segunda rodada. Entre os eleitores de Pécresse e Jadot, foram 29% de cada.
Outro dado significativo foi que 17% dos eleitores do esquerdista Mélenchon optaram por votar na extremista de direita Le Pen neste segundo turno. Esse movimento pode causar surpresa, mas já havia sido detectado em 2017, embora em escala menor, quando Mélenchon também foi derrotado ainda no primeiro turno. Na ocasião, 7% dos eleitores dele optaram por Le Pen.
Mais de 40% dos eleitores de Macron votaram nele para barrar extrema direita
Entre os 18,7 milhões de eleitores de Macron, 42% afirmaram que votaram no atual presidente no segundo turno para impedir uma vitória da extrema direita, e não por necessariamente apoiar o programa do atual chefe do Executivo,
Os 58% restantes afirmaram que escolheram Macron por considerarem que ele fará um bom segundo mandato presidencial.
Macron se saiu melhor entre idosos, jovens e mais escolarizados
O presidente reeleito teve seus melhores resultados entre jovens de 18 a 24 anos e idosos acima dos 70 anos. No eleitorado em geral e votos válidos, Macron teve 58,55% dos votos. Mas entre os franceses de 18 a 24 anos que votaram, tal proporção chegou a 61%, contra 39% de Le Pen.
Na maioria das faixas seguintes, Macron perdeu terreno, aparecendo praticamente empatado com Le Pen ou apenas um pouco acima. Entre os votos válidos dos eleitores entre 25 e 34 anos, ele conquistou 51%, contra 49% de Le Pen. Na faixa dos 35 aos 49 anos, Macron recebeu 53% dos votos válidos, contra 47% de Le Pen.
O melhor resultado proporcional de Macron por faixa etária foi no segmento dos eleitores com mais de 70 anos, no qual seu apoio chegou a 71%, contra 29% de Le Pen. Na faixa anterior, dos 60 aos 69 anos, o apoio foi um pouco menor: 59% apoiaram Macron, enquanto 41% escolheram Le Pen.
Macron ainda se saiu melhor que sua rival entre eleitores mais escolarizados e com maior renda. Entre os membros de profissões mais bem remuneradas, o apoio a Macron alcançou 77% dos votos válidos. Na faixa daqueles com renda superior a 3 mil euros por mês, chegou a 65%.
Esse apoio também se refletiu entre os detentores de diploma universitário: 74% optaram por Macron.
Le Pen conquistou fatia maior da classe trabalhadora e pessoas de meia-idade
A rival derrotada de Macron, que diminuiu o tom da sua agenda extremista e apostou nessa campanha num discurso social, com especial ênfase em críticas à perda do poder de compra dos franceses, obteve resultados melhores entre assalariados de menor renda e operários.
Entre empregados de níveis mais baixos, Le Pen conquistou 57% dos votos válidos. Entre os operários, a proporção se elevou para 67%. Entre os franceses de profissões mais bem pagas, por outro lado, ela só recebeu 23% dos votos válidos.
Entre as faixas etárias, Le Pe só seu saiu melhor que Macron em um grupo: franceses entre 50 e 59 anos, dos quais recebeu 51% dos votos, contra 49% de Macron.
Analistas apontam que essa preferência pela candidata pode ser resultado da proposta impopular de Macron de aumentar a idade de aposentadoria de 62 para 64 anos – inicialmente, ele havia proposto 65 anos –, algo com potencial de afetar essa faixa diretamente no curto prazo.
Le Pen também se saiu razoavelmente bem na faixa dos votos válidos de eleitores dos 25 aos 34 anos, na qual teve apoio de 49%, contra 51% de Macron. No entanto, é importante destacar que a abstenção nessa faixa chegou a 38%.