Imagem manchada
30 de maio de 2010A imagem do decidido gerenciador de crises, cultivada pelo presidente Barack Obama desde a chegada ao poder, está sendo manchada pelas milhares de toneladas de petróleo que jorram diariamente nas águas do Golfo do México.
Na opinião de muitos analistas políticos, a maré de óleo será para Obama o que o furacão Katrina foi para o seu antecessor. "Obama tem um problema político. A mancha de petróleo vai grudar nos seus sapatos com a mesma tenacidade que a falta de gerenciamento após o furacão Katrina grudou nos do antecessor George W. Bush", escreveu o jornal alemão Frankfurter Allgemeine Zeitung.
Os críticos acusam o presidente de mau gerenciamento da crise, de ter encarado o problema de forma hesitante e tardia. Pior do que isso: pouco antes do desastre, Obama se colocou ao lado da indústria, defendendo claramente a extração de petróleo em águas profundas. "Eu me enganei", diz ele hoje.
E o fato é que não há muito que Obama possa fazer além de elevar a pressão sobre a petroleira BP para que feche de uma vez o buraco por onde jorram entre 1.600 e 3.400 toneladas de óleo cru no mar todos os dias, segundo estimativas. É a indústria, e não o governo, que detém o know-how para as explorações em águas profundas.
"Há quase dois anos, foi uma crise que guindou Obama à Casa Branca. E agora uma crise pode colar na sua administração a pior e mais duradoura mancha. O cool gerenciador de crises (…) [de 2008] simplesmente não sabe o que fazer contra a mancha de óleo no Golfo do México em 2010", avaliou o jornal alemão Handelsblatt.
"Vocês não serão abandonados"
Obama reagiu às críticas. "Eu assumo a responsabilidade", afirmou numa entrevista coletiva para a imprensa, na quinta-feira passada. E anunciou a prorrogação por seis meses da moratória para perfurações em águas profundas na região do Golfo do México.
"Aqueles que pensam que fomos lentos na resposta ou que falhamos na urgência desconhecem os fatos", afirmou Obama. "Essa tem sido a nossa mais alta prioridade desde o início da crise."
Na sexta-feira, Obama viajou para as regiões atingidas – foi apenas a segunda viagem em 40 dias de desastre. Na região costeira do estado de Louisiana, Obama conversou com pescadores, moradores e políticos locais. "Estou aqui para dizer a vocês que não estão sozinhos. Vocês não serão abandonados."
A mensagem é especialmente importante para a região, cujos habitantes ainda trazem vivas na memória as lembranças da devastação causada pelo Katrina, que destruiu a capital Nova Orleans.
Fracasso e nova tentativa
A sorte, porém, não está do lado do presidente. Neste sábado, a BP anunciou o fracasso da operação Top Kill, destinada a conter o vazamento. A operação, complicada e sem precedentes à profundidade de 1.500 metros, consistia em enviar para dentro do poço uma espécie de lama, formada com a mistura de água e de matérias sólidas.
Até bolas de golfe, pedaços de pneus e cordas foram usados pela BP para tentar bloquear o vazamento. Quando ele parasse, seria necessário cimentar o buraco.
Obama anunciou o fracasso neste sábado: "Se no início recebemos relatos positivos sobre o procedimento, agora está claro que ele não funcionou". Com isso, a BP se voltou para uma nova tentativa. Ela poderá levar até mais de quatro dias para ser posta em prática, afirmou o diretor de operações da empresa, Doug Suttles.
Segundo ele, o novo método consiste em enviar robôs ao fundo do mar. Eles deverão serrar os tubos danificados do poço e depois cobrir o local com uma estrutura que permita capturar o petróleo e posteriormente transferi-lo para um navio.
"Este método não está isento de riscos e nunca foi testado anteriormente a esta profundidade", recordou o presidente norte-americano. "Foi por isso que não foi posto em prática antes de todas as outras opções terem sido tentadas. Será difícil e demorará vários dias", advertiu.
Nas palavras da assessora para energia de Obama, Carol Browner, o governo está preparado para o pior. "Poderá haver petróleo vazando até agosto", declarou à emissora de televisão NBC. "Este é provavelmente o pior desastre ambiental que já enfrentamos neste país."
AS/dpa/rtr/afp/lusa